Acordo Mercosul-União Europeia deve ‘melar’? Entenda as perdas para o Brasil
As últimas semanas tem sido marcadas por protestos de agricultores na Europa, em países como França, Alemanha, Itália, Bélgica e Polônia, que se manifestam sobre a importação de produtos mais baratos e aumentos dos custos agrícolas.
Com tudo isso, o acordo Mercosul-União Europeia, que começou a ser negociado em 1999 e prevê isenção ou redução de impostos entre os blocos, pode de fato cair por terra.
Nesta terça-feira (6), de acordo com o portal Terra, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Mauricio Carvalho Lyrio, disse que “o processo de aprovação segue em aberto e que não estamos longe de acordo, mas sem prazo definido”.
O secretário ainda lembrou que o presidente da França, Emmanuel Macron, é contra a assinatura do acordo.
- Itaú anuncia o pagamento de dividendos bilionários: Vale a pena ter os papéis para receber uma fatia? Analista Larissa Quaresma explica por que ter o bancão na carteira, é só clicar aqui e assistir ao Giro do Mercado para ver a recomendação:
As discussões do fim do ano passando, na COP28, renderam críticas do presidente de Macron, que afirmou que o acordo nos moldes atuais prejudica os produtores europeus, que utilizam novas formas de descarbonização, e beneficia produtos de áreas que não aplicam essas regras.
Por aqui, Lula rebateu as críticas do francês e disse que os europeus não querem fazer qualquer tipo de concessão. “A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. E que não digam mais que é por conta da América do Sul. É sempre ganhar mais. E nós não somos mais colonizados”, apontou.
O acordo Mercosul-União Europeia deve cair?
Na visão do professor e pesquisador especializado em agronegócio no Centro de Agronegócio Global do Insper, Leandro Gilio, o acordo tem pouquíssimas chances de ser concretizado diante da atual conjuntura política de ambos os blocos, agravada pela situação dos protestos ocorridos na Europa, que impactam em certa medida na negociação do plano.
“O acordo permitiria um maior acesso do Brasil a cotas de importação de produtos de origem agropecuária por parte dos europeus, onde o Brasil tem grande competitividade e poderia ganhar ainda mais mercado, sendo essa a grande perda para o Brasil”, explica.
Atualmente, o Brasil já é o maior fornecedor de produtos do agro para a União Europeia (considerando países fora do bloco).
“Sem o acordo, o jogo permanece o mesmo, com os riscos da UE elevar suas restrições e exigências ambientais impondo barreiras maiores a produtos brasileiros. A questão é que muitas dessas questões ambientais são muito discutíveis, não fazendo sentido ao modelo de produção brasileira e por vezes são consideradas como uma barreira protecionista para beneficiar a produção local”, analisa
Por outro lado, Gilio comenta que nem mesmo os produtores do bloco vem conseguindo adotar os padrões que a Europa procura implementar. “Isso resulta em impactos para população europeia, que sofre efeitos negativos como uma pressão pela alta de preços internos dos alimentos e até prejuízos para a própria cultura local, com muitos produtores alegando a inviabilidade da produção com relação a algumas exigências”, finaliza.