Internacional

Acordo do Brexit não reduz ameaça que paira sobre City of London

29 dez 2020, 17:39 - atualizado em 29 dez 2020, 17:39
União Europeia
Autoridades da UE devem decidir separadamente que os regulamentos financeiros britânicos e supervisão são sólidos o suficiente para criar condições de igualdade de concorrência (Imagem: REUTERS/Yves Herman)

O acordo comercial que ambos os lados do Canal da Mancha dizem refletir uma nova era de cooperação é essencialmente um capítulo à parte para a City of London, pois o centro financeiro ainda aguarda seu próprio selo de aprovação da União Europeia.

Autoridades da UE devem decidir separadamente que os regulamentos financeiros britânicos e supervisão são sólidos o suficiente para criar condições de igualdade de concorrência. Sem isso, a perda constante de negócios – já em andamento em algumas áreas – pode se tornar uma realidade diária para o setor financeiro do Reino Unido.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, já disse em entrevista ao Sunday Telegraph que, quando se trata de serviços financeiros, o tratado “talvez não vá tão longe quanto gostaríamos”. O ministro das Finanças britânico, Rishi Sunak, disse que as conversas com Bruxelas sobre o acesso a serviços financeiros vão continuar.

Embora tenha havido avanço para evitar que o Brexit derrubasse os mercados financeiros no curto prazo, há pouco consenso sobre a natureza final da relação do setor financeiro do Reino Unido com a UE, poucos dias antes de perder muito do antigo acesso ao bloco.

“A parte perigosa é que você está vendo pessoas transferindo ativos, movendo carteiras de negociação para outros locais”, disse Howard Davies, presidente da NatWest, em entrevista à Bloomberg Television neste mês. “O risco é que, quando isso acontecer, os funcionários acompanhem com o tempo.”

A esperança entre banqueiros, reguladores e políticos britânicos é que o acordo comercial ajude a desbloquear um acordo separado em finanças. O setor é um pilar fundamental da economia do Reino Unido, que emprega mais de 1 milhão de pessoas e responde por mais de um décimo de todas as receitas fiscais.

“Embora um acordo seja bem-vindo, os serviços financeiros e profissionais relacionados estão cientes da necessidade de ambos os lados continuarem a desenvolver o relacionamento nos serviços”, disse Miles Celic, diretor-presidente da TheCityUK, que representa o centro financeiro do Reino Unido.

Da mesma forma, banqueiros na Europa estão ansiosos por clareza. A Associação de Mercados Financeiros da Europa (AFME, na sigla em inglês), um dos maiores grupos de lobby do setor da região, pediu um acordo sobre as decisões de “equivalência”, que facilitariam o acesso ao mercado financeiro internacional.

Mesmo os financistas mais otimistas admitem que o status quo, com Londres como o centro financeiro de um continente inteiro, provavelmente não se manterá (Imagem: Unsplash/@marimartin)

“Esperamos que isso estabeleça a base para uma maior cooperação em serviços financeiros”, disse Adam Farkas, CEO da AFME. “É importante que a UE e o Reino Unido agora ponham em prática decisões de equivalência pendentes para mitigar a disrupção no final do período de transição e garantir uma adaptação tranquila ao novo relacionamento.”

Ainda assim, mesmo os financistas mais otimistas admitem que o status quo, com Londres como o centro financeiro de um continente inteiro, provavelmente não se manterá.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que “tudo vai mudar” no relacionamento da City of London com a UE. E em um sinal do que está por vir, o presidente do banco central da França, François Villeroy de Galhau, alertou bancos europeus em outubro para se prepararem para uma mudança de longo prazo no uso das câmaras de compensação de Londres, que apoiam os mercados de derivativos de trilhões de dólares.

bloomberg@moneytimes.com.br