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Acordo de compra do Credit Suisse revolta investidores e ações despencam quase 60%; é só o começo da crise?

20 mar 2023, 15:17 - atualizado em 20 mar 2023, 15:17
UBS
UBS será o comprador do Credit Suisse, após acordo costurado pelo governo suíço. (Imagem: REUTERS/Arnd Wiegmann)

Nada parece salvar o Credit Suisse da desconfiança do investidor. As ações do problemático banco suíço evaporaram 57% apenas nesta segunda-feira (20), mesmo após o anúncio de compra pelo rival UBS Group por US$ 3,2 bilhões.

O problema da vez está relacionado aos ‘CDBs’ do banco, chamados de AT1s. O preço desses ativos foi colocado a zero pelos reguladores suíços.

Até então, esses AT1S valiam US$ 17 bilhões e eram essenciais ao financiamento da dívida do CS. No entanto, a medida passou a fazer parte do acordo pelo UBS.

Com o esfacelamento do balanço de AT1s, detentores dos títulos da dívida da instituição se prepararam para uma ação legal contra o Credit Suisse. O banco também deve tornar alvo dos acionistas, forçados a assumir perdas substanciais por causa do acordo de compra costurado ‘às pressas’ no domingo (19).

A urgência da medida e o caminho que tomou mostram a “extrema fragilidade” que o CS se encontrava ao final da semana passada. É o que avalia o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa, porém, sem entrar no mérito do acordo.

“Em uma corrida contra o tempo, o governo da Suíça, capitaneado pelo Banco Central do país (SNB), fez com que o UBS comprasse o CS por cerca de 30% do valor da ação cotada na sexta-feira. Alguns detentores de dívida AT1 do CS sofrerão perdas de 100% de seu capital. Os acionistas de ambas as instituições não foram consultados sobre o acordo, em uma mudança inédita nas leis do país para que o acordo de compra seja concretizado”, resumiu o gestor em comentário ontem.

O portfólio de AT1s já vinha sofrendo com a crise da instituição financeira instaurada após a divulgação de “fragilidades materiais” em seu balanço.  Como contrapartida, os investidores passaram a exigir maiores retornos para assumir o risco contido na dívida do banco. Ao longo de hoje, os rendimentos dos AT1s subiram de 11% para 17%.

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Credit Suisse é vendido por 2% do que valia em 2008

Após rumores na semana passada, o UBS deve ser mesmo o comprador do Credit Suisse. A aquisição vale US$ 3,2 bilhões pagos 100% em ações do UBS. Vale lembrar que na crise de 2008, o CS valia US$ 100 bilhões.

Segundo Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos, “as garantias para o negócio são generosas por parte do governo: o BC da Suíça oferece uma linha de liquidez de 100 bilhões de francos suíços para o UBS”. Há também uma reparação de perdas de até 9 bilhões francos patrocinadas pelo contribuinte suíço.

As extraordinárias garantias de liquidez concedidas pelo governo da Suíça ao UBS deram condições para a zeragem dos títulos de dívida corporativa do Credit, os AT1s, aumentando a proteção contra perdas do UBS para 25 bilhões de francos suíços.

O banco comprador também adicionou uma cláusula de impacto material adverso, que permite a interrupção da aquisição, caso o prêmio sobre os títulos de proteção contra falência (Credit Default Swaps, CDS) do próprio UBS aumente mais de 100 pontos-base antes da negociação ser concluída. Desde o dia 6 de março, o rendimento sobre os CDSs de 5 anos do UBS subiram  70 pontos-base.

O estrategista da Guide Investimentos avalia que ainda é preciso verificar se o calote dos AT1s podem acionar um evento de insolvência no próprio CDS do UBS.

Maiores BCs do mundo unidos pela liquidez

Além disso, os principais bancos centrais do mundo — entre os quais estão o Federal Reserve (Fed), o Banco Central Europeu (BCE), o Banco Nacional da Suíça (SNB), o Banco do Japão (BoJ) e Banco da Inglaterra (BoE) — se uniram neste domingo (19) em uma ação coordenada para aumentar a provisão de liquidez do mercado.

A proposição é que os BCs ofereçam operações de troca de dólares, como forma de apoiar o bom funcionamento dos mercados de de crédito. A medida começou a partir de hoje e deve continuar até pelo menos o fim de abril.

Para melhorar a eficácia das linhas de swap (operação em que há troca de posições quando há risco para o investidor), os bancos centrais que oferecem operações em dólares concordaram em aumentar a frequência dessas operações, fazendo-as diariamente em vez de semanalmente.