Coluna do Vicente Guimarães

Ações são realmente o melhor investimento para pessoas comuns?

09 dez 2022, 12:51 - atualizado em 09 dez 2022, 12:51
Ibovespa/Bolsa de Valores B3
“Se investir em ações é o melhor, por que as pessoas perdem? O que explicaria esse paradoxo?”, coloca o colunista  (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Dezenas, centenas de estudos, em vários países, usando diferentes metodologias demonstram que o investimento em ações é o que gera maior retorno no longo prazo. Nada, em nenhum lugar, supera o retorno das ações no longo prazo.

Por outro lado, evidências do “mundo real” mostram que 99% das pessoas fracassam quando investem em ações. Aí é que está a grande questão.

Se investir em ações é o melhor, por que as pessoas perdem? O que explicaria esse paradoxo? Eu tenho em mente uma séria de questões que vou compartilhar neste espaço.

O primeiro ponto que explica esse paradoxo está no trecho da frase inicial “maior retorno no longo prazo”. No Brasil, principalmente, eu percebo que os novos investidores iniciam no mundo das ações com um foco meramente especulativo.

Encarando a Bolsa de Valores como uma espécie de cassino ou uma máquina de fazer dinheiro.

Pior ainda. Muitos são atraídos por promessas tentadoras de lucro rápido e fácil no day trade e trade. Sobre o day trade, uma pesquisa da FGV encomendada pela própria CVM mostrou que de 98.378 pessoas que iniciaram na Bolsa de Valores fazendo day trade, 99,43% fracassaram e apenas 127 pessoas conseguiram resultados positivos e consistentes.

Os vendedores de ilusões se aproveitam da falta de conhecimento e da ingenuidade das pessoas e exploram esse filão prometendo ganhos fáceis e rápidos.

Reproduzo aqui um trecho chocante de anúncio de um vendedor de cursinhos de trade: “Day trade é uma maneira rápida e fácil de ganhar dinheiro em poucos minutos, sem sair de casa”. Com certeza se fosse fácil assim todos nós teríamos Porsches e Ferraris e não vejo tantas circulando nas ruas.

Infelizmente muitas pessoas se perdem nesse caminho e desistem de “investir” na Bolsa porque seu primeiro contato com a Bolsa de Valores foi extremamente negativo. Esse cenário nos leva ao segundo ponto: excesso de informação e falta de qualidade.

Houve um crescimento exponencial de canais, páginas, podcasts, grupos etc. É a democracia digital! Muita informação e pouco conhecimento. E os novos investidores não têm ainda a capacidade de filtrar desse oceano de informação o que é conhecimento útil e de verdade.

Nos últimos anos percebemos uma proliferação de novos influencers financeiros que nunca tiveram contato com mercado financeiro, não têm experiência necessária, com certeza alguns nunca investiram em ações nem têm certificações de mercado.

Como essas pessoas poderiam ensinar algo sobre finanças ou Bolsa de Valores? Entretanto, por incrível que pareça, muitos destes novos “comunicadores financeiros” com suas capacidades de comunicação conseguem engajar e influenciar muitos novos investidores. Obviamente que o resultado dessa equação não será positiva para o investidor.

Alguns investidores começam a investir na Bolsa de Valores de forma mais conservadora e assertiva: Estudam alguns livros, fazem cursos de bons educadores financeiros, entendem que ações são “partes” de uma empresa real que tem fábricas, funcionários, lucros; e, principalmente, entendem que o investimento deve ser com foco no longo prazo.
Mas existe o “investidor de longo prazo de curto prazo”.

Ou seja, como ainda tem pouca experiência, a sua tolerância à volatilidade é baixíssima.

Qualquer movimento abrupto na Bolsa, na política, no contexto global, uma crise e pronto! Está lá o nosso amigo vendendo suas ações e reclamando que a Bolsa de Valores não é para ele, colocando a culpa do seu insucesso no analista ou no assessor de investimentos.

É preciso entender que longo prazo é longo! O quão longo é o longo prazo? 20 anos, 30 anos, 50 anos, a vida toda! Como diria Warren Buffett “Comprar ações é como um casamento, deve ser para toda a vida” e, complementando com a genial frase de Charlie Munger ,“o grande dinheiro não está na compra nem na venda, está na espera”.

Muitos investidores, inclusive alguns que investem há décadas na Bolsa de Valores, têm resultados pífios.

Se o dinheiro fosse simplesmente investido na Caderneta de Poupança seus resultados seriam bem melhores. Por que isso ocorre? Foco exclusivo no “Percentual de Valorização da Ação” ou no “Percentual de Valorização da Carteira”. Como diz Luiz Barsi Filho “valorização é uma métrica de vaidade”.

Essa frase é sensacional e concordo plenamente com ele.
O investidor preocupado em superar o Índice Bovespa, compra na hora errada, vende na hora errada e, principalmente, não dá o valor devido aos dividendos.

Os dividendos devem ser o principal foco do investidor. O crescimento dos dividendos deve ser o indicador mais importante de resultados do investidor. Como eu sempre digo “o preço no curto prazo é duvidoso, mas o dividendo é quase certo”.

O segredo do sucesso do investidor não está relacionado à sorte, à especulação de saber qual ação vai valorizar nos próximos meses, na sua inteligência ou capacidade analítica. Eu já vi pessoas superinteligentes se portarem como criancinhas imaturas no mercado financeiro.

Um exemplo interessante: Albert Einstein e Isaac Newton foram dois gênios da humanidade. Mas no mundo das finanças perderam muito dinheiro investindo em ações com foco meramente especulativo.

O segredo do sucesso do investidor está na paciência e na disciplina. Em comprar e esperar. Em focar no crescimento da renda passiva (proventos) e não na valorização.

Acredite, o investimento em ações é o caminho mais simples para tornar uma pessoa comum milionária, gerar a sua liberdade financeira e uma vida de conforto para toda sua família.

Mas isso demora, o longo prazo é longo, e muitas pessoas buscam atalhos que levam ao fracasso. Como dizia Warren Buffett “ninguém quer ficar rico devagar na Bolsa de Valores”.