Frigoríficos

Ações de frigoríficos disparam apesar do sucesso da onda vegana

16 dez 2019, 12:14 - atualizado em 16 dez 2019, 12:14
Carne Suínos Porcos
A demanda doméstica também é robusta, à medida que o consumo de carne aumenta junto com a renda dos consumidores, explicou Mike Sands, dono da consultoria MBS Research (Imagem: Divulgação Governo Federal)

Produtos que imitam a carne podem ser a onda do momento, mas os produtores da carne de verdade vão muito bem, obrigado.

A fabricante de hambúrgueres veganos Beyond Meat dominou o noticiário este ano com uma estreia de enorme sucesso e uma vertiginosa valorização de 200%. Mas os frigoríficos Minerva e JBS não estão muito atrás. Até empresas americanas prejudicadas pela guerra comercial com a China, como a Tyson Foods, tiveram os maiores ganhos nas ações em anos.

Por trás da disparada está a escassez de proteína animal na Ásia, onde a demanda por importações de carne suína, bovina e de frango aumentou. A peste suína africana está dizimando rebanhos da China ao Vietnã, provocando situações que vão afetar o comércio de carne por anos.

Enquanto a oferta nos EUA bate recordes, a demanda por lá também começa a dar sinais de aceleração. Os preços do presunto estão próximos aos maiores níveis sazonais devido à forte procura externa, elevando os preços da carne de porco.

Empresas como a Tyson, com sede em Springdale, Arkansas, relatam interesse “extremo” de compradores chineses por carne de frango, após a suspensão de uma proibição que vigorou por vários anos.

A demanda doméstica também é robusta, à medida que o consumo de carne aumenta junto com a renda dos consumidores, explicou Mike Sands, dono da consultoria MBS Research, sediada em Memphis.

O movimento ainda tem fôlego, de acordo com Heather Jones, analista de renda variável e proprietária da Heather Jones Research. Cerca de 8% do volume mundial de proteína foi exterminado pela peste suína e a oferta deve chegar ao ponto mínimo no primeiro semestre do próximo ano.

“Os investidores começaram a desvendar as implicações para a geração de lucros e ficou claro o potencial muito forte de valorização a partir da taxa de execução atual, o que jogou as ações para cima”, disse Jones.

O salto das ações de empresas de proteína animal coincide com o avanço de negócios de imitação de carne. Em novembro, as vendas de alternativas à carne subiram 40% com a chegada de mais produtos aos supermercados, de acordo com dados da firma de pesquisas IRI.

Nos EUA, os frigoríficos também se beneficiaram após um incêndio atingir uma unidade da Tyson em agosto (Imagem: Reuters)

Embora substitutos à base de plantas representem apenas 1% do mercado de carne dos EUA, que movimenta US$ 86 bilhões, as vendas podem chegar a US$ 15 bilhões nos próximos cinco a sete anos, segundo a Hormel Foods, que lançou uma linha própria.

Por ora, as empresas tradicionais não parecem temer a perda de clientes. Além do movimento causado pela peste suína, a expansão da população global significa que a produção de alimentos precisa aumentar 70% até 2050, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês). O aumento da renda geralmente significa aumento do consumo de proteína.

Nos EUA, os frigoríficos também se beneficiaram após um incêndio atingir uma unidade da Tyson em agosto. Com a capacidade reduzida, criou-se um excesso de animais vivos, o que derrubou os preços do gado.

Paralelamente, compradores de carne bovina entraram em pânico com a perspectiva de escassez e aceitaram pagar mais caro. Assim, as margens dos frigoríficos bateram recordes.

Nos EUA, quatro empresas dominam o segmento de processamento de carne bovina e o Departamento de Agricultura iniciou uma investigação sobre concorrência desleal.

“As margens dos frigoríficos melhoraram até que fez sentido economicamente funcionar agressivamente não apenas durante a semana, mas também aos sábados”, disse Sands, da MBS. “As margens da carne bovina têm sido muito boas, mas isso é necessário para impedir que o setor fique com gado sem condições.”