Acionista.com.br: Você está pronto para os próximos IPOs?
Por Grazieli Binkowski, repórter do Acionista.com.br
A gradativa recuperação do mercado de capitais brasileiro alimenta as expectativas para que novos IPOs (Initial Public Offering, ou Ofertas Públicas de Ações-OPAs-), represados desde o agravamento da crise econômica, saiam finalmente do papel. As projeções são de que entre 15 e 20 IPOs saiam da fila até o final deste ano, em uma oferta que levante, no total, R$ 40 bilhões. Cenário bem diferente ao de 2016, quando apenas os Laboratórios Alliar abriram capital na Bovespa.
Até o momento foram três IPOs bem sucedidos. A locadora de veículos Movida levantou R$ 600 milhões, a rede de laboratórios médicos Hermes Pardini, R$ 877 milhões e a companhia aérea Azul, R$ 2,02 bilhões. Por outro lado, duas tentativas de IPO foram refugadas por investidores (Tenda e Unidas), afirma o analista financeiro Daniel Nigri.
“Os IPOs, de uma forma geral, deveriam ser encarados pelas diretorias e conselhos de administração das empresas como uma forma de financiamento mais barato. Foi o que Movida fez, quando ajustou o preço. E foi o que Tenda não fez quando tentou colocar goela abaixo do mercado que duas empresas separadas valem mais que as duas juntas”, avalia Nigri.
O “filé” desta leva de IPOs foi a companhia aérea Azul, que fez seu lançamento de ações em abril. Segundo informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), considerando a oferta primária (ações novas) e secundária (de papéis detidos pelos sócios da companhia), a operação movimentou 96,2 milhões de ações. Os R$ 21 por ação ficaram no centro da faixa projetada, de R$ 19 a R$ 23,00 por papel, o que foi considerada por parte dos analistas uma abertura bem sucedida na atual conjuntura. A ação chegava a R$ 24 nesta terça-feira (25/04).
“O setor de aviação civil possui alta correlação com o PIB do país, logo investir em Azul é uma aposta na economia brasileira. Se a economia brasileira for bem, a empresa se sairá bem. E vice-versa”, afirmaram, em relatório, os analistas Shin Lai e Pedro Galdi, da Upside Investor. “A Azul possui um histórico curto e também apresenta resultados voláteis e ora negativos. Um bom indicativo do futuro da empresa é o seu passado histórico. Assim é difícil prever qual é o resultado sustentável da empresa nos próximos anos”, concluíram.
Outro IPO que promete movimentar o mercado é o da XP Investimentos. A empresa estaria buscando precificar sua oferta entre R$ 12 bilhões a R$ 20 bilhões, fazendo uma captação inicial que poderia chegar a R$ 4 bilhões. “Do jeito que a coisa caminha me parece que será um desses IPOs bem inflacionados”, analisa Nigri.
Outra empresa que projeta ir ao mercado nos próximos meses é a Log Commercial Properties, subsidiária de propriedades comerciais da MRV Engenharia, que poderá movimentar mais de R$ 800 milhões. Analistas avaliam que os IPOs dos braços internacionais da BRF e da JBS, também programados para este ano, poderão ser rediscutidos em prazos e valores após a operação Carne Fraca, desencadeada pela Polícia Federal em março.
Conforme analistas financeiros, a principal vantagem de participar de um IPO é buscar um lucro elevado, já que os primeiros investidores costumam ser os mais bem informados do mercado – e podem encontrar um vasto leque de compradores no período seguinte. Por outro lado, há o risco de desconhecer a cultura da empresa em relação à transparência e há dificuldade de prever a volatilidade e a demanda, uma vez que não há histórico algum.
“É extremamente difícil analisar, por conta própria, se a faixa de preço estabelecida pelo coordenador do IPO é atrativa para compra. É necessário realizar uma avaliação completa da empresa para saber se o preço que irá pagar na ação é justo”, afirma o consultor financeiro Walter Poladian Filho.
Analistas sugerem pesquisar a fundo o prospecto da empresa, levando em conta o endividamento, os projetos de crescimento, como será utilizado o dinheiro da captação do IPO e também o nível de mercado que a companhia será inserida, que sugere mais ou menos afeição pela transparência. A seção “Fatores de Risco” desses documentos podem revelar os indícios de que os preços estão dentro da realidade ou não. Comparar com o valor das ações de outras empresas de porte e segmentos semelhantes também pode servir de baliza ao investidor.