Economia

Aceleração de corte de juros demandaria muito mais confiança em processo de desinflação, diz Guillen, do BC

29 set 2023, 14:40 - atualizado em 29 set 2023, 14:40
Banco Central, agenda, mercados
Guillen disse que para o BC acelerar cortes algumas condições precisariam ser atendidas, como a ancoragem das expectativas  (Imagem: Banco Central/Antônio Cruz)

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta sexta-feira que a autarquia precisaria de “muito mais confiança” no processo desiflacionário para acelerar o ritmo de corte de juros, e destacou que a situação dos juros nos Estados Unidos deixa o Copom em abordagem mais cautelosa.

“Acho que já enfatizamos que, para conseguir uma aceleração (do ritmo de cortes), a barra é alta, como já dissemos em muitas reuniões”, disse Guillen em evento do banco HSBC. “Você realmente precisa ter uma confiança muito mais forte para debater uma aceleração do ritmo.”

Na quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já havia dito que a barra possivelmente teria ficado mais alta para uma aceleração do ritmo de queda dos juros, enfatizando que a autoridade monetária não está confortável com as expectativas de inflação acima das metas estabelecidas.

Guillen disse que para o BC acelerar cortes algumas condições precisariam ser atendidas, como a ancoragem das expectativas e maior abertura do chamado hiato do produto, que indica o espaço que a economia tem para crescer sem gerar pressão sobre os preços, estabelecendo um processo que indicasse “novo perfil de inflação”.

Ele afirmou as decisões do Comitê de Política Monetária dependerão dos dados econômicos e que, embora o BC tenha evitado emitir sinais claros sobre onde projeta a taxa de juros ao fim de seu afrouxamento monetário, o ciclo será o necessário para levar a inflação à meta.

“O ciclo será o ciclo necessário para que a inflação volte à meta, e acho que essa talvez seja a parte mais importante”, afirmou o diretor.

Seus comentários vieram depois de o BC ter cortado os juros de 13,25% para 12,75% na semana passada, com a sugestão de que repetirá a mesma dose de flexibilização da Selic nas duas reuniões de política monetária restantes deste ano.

Sobre as expectativas de inflação, Guillen disse que as projeções do mercado para a alta do IPCA têm caído desde a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação de 2026 em 3,0%, mas ponderou que é um processo de ancoragem ainda “parcial”.

Na visão do diretor, o que pode estar impedindo um recuo mais definitivo das expectativas em direção ao centro das metas de inflação são temores de mais gastos fiscais por parte do governo ou o medo de que o BC demonstre leniência no combate à alta dos preços no futuro, bem como preocupações com cenário externo em meio a juros elevados nos Estados Unidos.

Ainda sobre a questão fiscal, Guillen notou “desancoragem” entre as metas fiscais do governo para os próximos anos e as expectativas do mercado, citando “grande desafio” para o país na tentativa de conseguir o objetivo de zerar o déficit primário em 2024.

O diretor avaliou também que a trajetória de aperto do crédito e desaceleração da inflação que tem sido vista no Brasil está em linha com o que era esperado pelo Banco Central em meio aos níveis restritivos dos juros.

Já sobre o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país, que representa o nível máximo de produção do país sem a geração de pressões inflacionárias, Guillen disse que é cedo demais para discutir mudanças concretas nesse indicador, mesmo após surpresas positivas na atividade deste ano.

“Gosto da visão qualitativa de que as reformas tiveram impacto no PIB potencial. Mas, levando isso para uma abordagem quantitativa, acho que é complicado por causa da pandemia. Então é algo que precisa de mais dados”, avaliou ele.

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