Ação fiscal pode ser mais eficaz contra surto, defendem analistas
Governos que tentam amenizar o impacto econômico global do surto de coronavírus enfrentam crescentes apelos a favor de um amplo estímulo fiscal que poderia ajudar a amortecer o golpe.
Embora alguns investidores já apostem que a epidemia levará ao primeiro corte de emergência conjunto dos juros desde 2008, muitos analistas agora se perguntam se a ajuda fiscal em países como China e Alemanha não seria mais eficaz.
Essa perspectiva lembra a ação do Grupo dos 20 em 2009, quando governos se apressaram para conter a crise financeira, com o que descreveram na época como uma “expansão fiscal sem precedentes e coordenada” estimada em US$ 5 trilhões.
Não está claro se haverá uma resposta igualmente sincronizada ao vírus, apesar da pressão por algum tipo de iniciativa global e governos já tenham começado a tomar medidas individualmente.
“Cortes dos juros e cortes significativos dos juros não são necessariamente a resposta de política correta ao que está acontecendo hoje”, disse Jim McCormick, diretor global de estratégia de mesa da NatWest Markets, em entrevista à Bloomberg TV.
“O que realmente precisamos é de uma resposta fiscal, e a boa notícia é que estamos vendo um pouco disso na Ásia, fala-se sobre isso na Europa, mas até agora não muito nos EUA.”
Ministros das Finanças do G-7 avaliam a situação. Um comunicado em elaboração traz a promessa de trabalhar em conjunto para mitigar os danos econômicos do vírus, mas não pede novos gastos dos governos ou cortes das taxas de juros, segundo a Reuters.
A OCDE, com sede em Paris, descreveu a escala do desafio enfrentado pelas autoridades na segunda-feira ao alertar que o crescimento econômico mundial está prestes a desacelerar para o ritmo mais fraco desde 2009.
“Os governos precisam agir imediatamente para conter a epidemia, apoiar o sistema de assistência médica, proteger as pessoas, aumentar a demanda e fornecer um salva-vidas financeiro para famílias e empresas mais afetadas”, disse Laurence Boone, economista-chefe da OCDE.
A intensidade das medidas dos governos dependerá das consequências finais do vírus, disse Chetan Ahya, economista-chefe do Morgan Stanley.
Mas, independentemente do tamanho do choque, ele prevê que o déficit fiscal das quatro principais economias avançadas mais a China aumentará para pelo menos 4,7% do PIB em 2020, o maior nível desde 2011, em relação aos 4,1% no ano passado.
Os que defendem uma ação fiscal dizem que tais medidas têm capacidade de ajudar a sustentar a demanda mais do que o afrouxamento monetário, com uma natureza mais direcionada, em oposição ao impacto mais geral na economia de estímulos dos bancos centrais.
“Existem instrumentos disponíveis, instrumentos de política fiscal ou instrumentos de política social para esses casos, como subsídios de curto prazo, que usamos no passado e que provaram ser bastante eficazes”, disse o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, em entrevista à TV Bloomberg na sexta-feira. “Este deve ser um debate dirigido aos formuladores de políticas fiscais.”
Outro argumento para o estímulo fiscal é a falta de munição das autoridades monetárias, principalmente do Banco do Japão e do Banco Central Europeu, cujas taxas de juros estão abaixo de zero.
A Ásia, onde a crise foi mais devastadora, já adotou uma série de medidas fiscais, e mais estímulos devem estar a caminho.
Na China, que registra a maioria dos casos de coronavírus, autoridades se comprometeram a cortar impostos para ajudar empresas. A medida inclui a redução ou isenção de impostos de valor agregado para empresas que fornecem bens essenciais ou logística e mais fundos para autoridades provinciais.