Ação da Vale (VALE3) está perto de voltar a valer R$ 100?
A Vale (VALE3) e outras ações do setor de mineração e siderurgia aproveitam a recuperação que os preços do minério de ferro têm oferecido.
As notícias de reabertura econômica em meio a flexibilizações das duras restrições da política de Covid Zero na China e maiores apoios oferecidos pelo governo chinês ao mercado imobiliário do país puxaram o minério de ferro de volta aos US$ 100 a tonelada, impactando diretamente a performance dos papéis ligados ao ingrediente siderúrgico na Bolsa.
A ação da Vale acompanhou a recuperação do setor e saltou mais de 20% em novembro, com a cotação saindo dos R$ 67 para retomar ao patamar de R$ 85. Atualmente, o papel é negociado a R$ 86,09 (fechamento desta segunda-feira, 12).
Nesse ritmo, a Vale está perto de voltar a ser negociada acima de R$ 100?
Curto prazo ainda pesa
Para analistas ouvidos pelo Money Times, o mercado não deve ver a ação da mineradora valendo R$ 100 ou acima desse valor no curto prazo.
Matheus Spiess, analista da Empiricus, vê espaço para a Vale voltar a R$ 100, mas não necessariamente no curto prazo, apesar dos ventos positivos que a retomada econômica chinesa tem trazido para os mercados.
O maior detrator, na avaliação de Spiess, é o temor de recessão em nível global, uma vez que haveria uma desaceleração da atividade e consequente queda na demanda por commodities em geral.
“Eventuais pressões podem ter efeito negativo em Vale. Então, no curto prazo, talvez ela não chegue até os R$ 100”, diz.
Por outro lado, Spiess acredita que a ação pode voltar a valer R$ 100 no médio e longo prazo, “sem problema nenhum”.
“Até porque é um call sistêmico. Se houver um rali brasileiro, ela tende a andar”, completa o analista.
O analista ressalta, no entanto, que a Vale deve flertar com esse patamar. Para que ela se mantenha em patamares acima dos R$ 100, precisaria haver estabilidade prolongada dos preços ou uma explosão dos preços do minério de ferro.
“Se ficar estável o preço, ela consegue gerar muito caixa, crescer receita, crescer operação. Ela poderia aumentar seu valor ao longo do tempo. Se o preço explodir, ela também conseguiria. Agora, se ficar volátil o preço ou cair, aí ela não se manteria”, explica.
O líder da área de análise da Warren, Frederico Nobre, acredita que seja “muito otimismo” pensar que a Vale deve voltar aos R$ 100. Ele lembra que a Vale atingiu máxima quando o minério estava acima de US$ 200 em 2021.
“Acho que é bem pouco provável que a gente veja o minério de ferro voltando a esses patamares tão agressivos”, afirma.
Nobre ainda acrescenta que, para os padrões da Vale, os custos de produção seguem altos.
“Logo após o último resultado da Vale, ela despencou por conta disso”, lembra o analista.
“No trimestre, o mercado esperava que a Vale fosse apresentar uma melhora nos seus custos de produção de minério de ferro, e isso não aconteceu. Agora, resta saber se, para o quarto trimestre deste ano, ela realmente vai conseguir virar a chave neste sentido”.
China, a resposta?
Para Spiess, da Empiricus, a questão da pandemia do coronavírus na China deve ser uma página superada.
De acordo com o especialista, o mercado está ansioso demais quanto à velocidade que a recuperação da economia da segunda maior economia mundial pode apresentar, “mas, voltar como era antes, acho mais difícil”.
“De maneira geral, a abertura deve ser contínua e marginal”, afirma.
Gabriel Augusto Mollo, analista de investimentos do Banco Daycoval, é da mesma opinião.
“Acredito que isso [restrições] é uma tendência que não vai voltar. A reabertura vai continuar acontecendo. Só não sei se ela vai ser rápida”, comenta.
O analista acredita que a China tentará correr atrás do prejuízo, mas, quanto ao ritmo, difícil prever.
“Parece cada vez mais provável que a China vai reabrir. Provavelmente, essa reabertura tende a ser gradual”, complementa.
Sobre as estimativas recentemente divulgadas pela Vale, de produção de minério de ferro entre 310-320 milhões de toneladas em 2023, Spiess avalia que frustraram as expectativas, mas mostra certo controle da Vale em relação à incerteza do mercado global.
Ao mesmo tempo que o fato de a Vale estar produzindo menos ser um choque positivo para o preço do minério de ferro, considerando que a empresa é um player global, também sinaliza que uma recessão global pode chegar. Apesar disso, Spiess diz que Vale continua barata e” pode aguentar desaforo”.
Oportunidade em VALE3?
A Empiricus segue construtiva em Vale, pois enxerga eficiência no controle de custos da companhia, que segue gerando bom caixa. Em meio à expectativa de uma recessão mais curta, Spiess acha que os preços do minério de ferro podem se sustentar em patamares elevados – ainda que não em US$ 110-120 a tonelada.
Apesar disso, a preferência é pela Gerdau (GGBR4) e a holding controladora Metalúrgica Gerdau (GOAU4).
Além de maior valor agregado por conta da exposição ao aço, a Gerdau tem batido as expectativas de resultados há vários trimestres, demonstrando eficiência de gestão e projetos relevantes.
Além disso, destaca Spiess, ela está muito relacionada à sucata, que poderia ser relacionada com a tese ESG, atraindo capital estrangeiro para a companhia.
A Gerdau é ainda exposta aos Estados Unidos, com grande contratação esperada para 2023, apesar do receio de recessão no país.
“Em uma realidade de remodelação das cadeias produtivas globais, a gente pode surfar com as duas [Gerdau e Vale]. Mas Gerdau vai estar na frente da cadeia, porque ela está vivendo o aço. Da mesma maneira, ela consegue estar barata e pagar dividendos”, afirma o analista.
“A gente é construtivo para as duas ações, mas Gerdau tem essas vantagens operacionais e de momentum que parecem brilhar mais aos olhos”, completa.
A Warren mantém recomendação neutra para a Vale, pois enxerga o movimento atual um pouco como “otimismo exagerado”. No entanto, a instituição acredita que as perspectivas para o setor de mineração e siderurgia como um todo são melhores.