Ação da Taurus dispara 50%: fundamento ou especulação?
Algumas ações, talvez você já tenha ouvido falar, são conhecidas como “esquecidas pelo mercado”. Isso acontece, por exemplo, quando uma empresa perde apelo junto ao mercado. Pode ser porque ela simplesmente perdeu fôlego em sua área de atuação, está perto da falência, outra de maior porte roubou os holofotes, a diretoria dá pouca importância para os investidores, entre outros fatores.
A Forjas Taurus (FJTA4) é um desses casos. Com o passar dos anos, ao lado de balanços ruins, a fabricante de armas e equipamentos de segurança sumiu do mapa na Bolsa. Os papéis eram pouco negociados e quase nenhum analista se dava ao trabalho de mexer ali para ver o que estava acontecendo. Isso mudou na tarde de 25 de julho quando Ricardo Schweitzer divulgou um relatório por meio da Inversa Publicações.
A reação do mercado foi estelar. Os papéis saltaram 47% e subiram de R$ 1,77 para R$ 2,60. Alguns dias depois os ativos atingiram R$ 3,05. Nesta segunda-feira (7), as ações encerraram a sessão avaliadas em R$ 2,62. “A maior parte do público voltou a olhar para a empresa, que estava esquecida”, disse Schweitzer em uma entrevista para o Money Times. O analista explica que voltou a analisá-la em janeiro deste ano após dez anos sem se aprofundar nos negócios da companhia gaúcha e terceira maior fabricante de armas do mundo.
Apenas dois dias depois, a Suno Research também publicou uma análise, mas com conclusões bastante diferentes e chamando a atenção para o posicionamento de investidores com o perfil especulativo nas ações. “A empresa hoje é totalmente inviável. Se existe luz no fim do túnel, o carro não tem gasolina para chegar lá e, no fim, não vai ter luz”, destaca Tiago Reis, analista e sócio-fundador da Suno, em entrevista ao Money Times. Segundo ele, “quem comprou as ações da Forjas Taurus foi jogado em um abismo”, diz.
Operações
A situação financeira da Taurus não é nada confortável, como admite Schweitzer. Os prejuízos sucessivos foram complicando o balanço, que é consumido em boa parte pelo pagamento de juros da dívida de quase R$ 700 milhões. Boa parte dela é de curto prazo e precisa de decisões drásticas e rápidas para evitar a bancarrota. É aí que está a assimetria apontada pelo analista. Para ele, a parte operacional da Taurus está descasada do balanço.
Ele cita, principalmente, a definição de um plano operacional e financeiro em 2015. “A gestão foi toda trocada para tornar a empresa economicamente viável novamente. Isso passou pela modificação total da produção de armas. A planta de Porto Alegre (que está à venda e era a matriz), foi desativada e a filial em São Leopoldo foi reformada. A fabricação ficou mais moderna e a produtividade melhor”, destaca.
A Taurus ampliou a cadeia de fornecedores para se tornar mais uma montadora de armas em uma inspiração na indústria automotiva. “Do ponto de vista operacional essa foi a grande sacada. No financeiro, a empresa realizou uma reestruturação para dar tempo para a operação gerar caixa e fazer frente à amortização da dívida”, pontua. No primeiro trimestre de 2017 a geração de caixa (Ebitda) voltou a ficar positiva e registro R$ 6,1 milhões.
A Suno pondera, contudo, que a Taurus é frequentemente questionada pela qualidade dos seus produtos. “Com produtos que são mal vistos no mercado, o que naturalmente compromete o valor da marca (intangível), e com um fraco controle de qualidade em sua linha de produção, mesmo com uma eventual revogação do Estatuto do Desarmamento, não vemos um cenário tão positivo para a empresa, já que o monopólio da empresa pode ser pressionado com possíveis mudanças na legislação”, diz a Suno.
Valuation
Após toda a avaliação, o analista da Inversa identificou um valor potencial de até R$ 70 milhões em Ebitda em 2017. Para o ano que vem, ele vê como “plausível” a estimativa de R$ 100 milhões. Para tudo dar certo, contudo, Schweitzer assume o sucesso da venda da planta de Porto Alegre (R$ 50 milhões) e a venda do negócio de capacetes – estimado entre R$150 a R$200 milhões.
Reis, da Suno, questiona tais projeções e vê o terreno em Porto Alegre valendo cerca de R$ 20 milhões, principalmente pelo fato de que dificilmente alguma empresa consiga se instalar nas edificações do imóvel, que se encontram deteriorados e são antigos. “Assim, a empresa acabaria vendendo apenas pelo valor do terreno, desconsiderando as edificações, o que se traduziria em valores bem menos atrativos”, avalia a consultoria.
“Mesmo considerando um cenário mais otimista em que a companhia consiga realizar a venda de todos terrenos e operações de capacete, o valor de R$ 300 milhões não seria suficiente para cumprir com todas estas amortizações, e a empresa dependeria de uma forte elevação do seu patamar de geração de caixa, o que vemos como improvável”, destaca a Suno em sua análise.
Projeções
O relatório da Inversa sugere um preço-alvo de R$ 3,09 por ação na abordagem considerada “conservadora”, de R$ 7,60 no cenário-base e de R$ 11,40 no mais otimista. “No pior cenário, zero. No melhor, multiplica por seis. A mim parece bom o bastante para uma aposta pequena e assumidamente arriscada”, destaca o relatório.
Schweitzer pontua que esta é uma tese de reestruturação e de alto risco. “Interessados em investir nessas ações precisam entender os riscos e oportunidades envolvidos para não fazer isso de uma maneira desinformada. Não é um caso simples e que vai ser rápido”, diz. A Suno vai por outro lado e afirma que a “situação é de claro perigo e a sugestão é que os clientes fiquem de fora deste ativo, evitando participar deste fluxo especulativo e volatilidade pouco fundamentada”.
A Taurus deve ajudar o debate com a divulgação do resultado do segundo trimestre. O balanço sai no próximo dia 11 de agosto, sexta-feira, após o fechamento do mercado.