Abril começa fechado por feriados e mercados fazem pausa para refletir: qual narrativa vem aí?
Abril começa em ritmo lento para os mercados globais. A primeira semana do novo mês é marcada por feriados não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos e até na China. Enquanto a pausa aqui e em boa parte do mundo se dá pela Sexta-feira Santa (7), o país asiático fica fechado em respeito aos mortos até quarta-feira (5).
Com isso, os investidores devem aproveitar o momento para refletir sobre o que esperar para este novo período que se inicia e, principalmente, como adequar suas carteiras de investimentos. Afinal, apesar de ter apenas três meses, 2023 já viu várias narrativas influenciarem os ativos de risco.
“O otimismo do ‘pouso suave’ em janeiro foi seguido de uma narrativa ‘sem pouso’ em fevereiro, que deu lugar a preocupações sobre uma crise bancária em março”, resume, em relatório, o economista sênior de mercados da Capital Economics (CE), Oliver Allen. No entanto, as medidas do Federal Reserve serviram de alívio aos bancos nos Estados Unidos, após a quebra do Silicon Valley Bank (SVB).
A venda forçada do Credit Suisse para o rival suíço UBS também ajudou a acalmar a situação na Europa. “Assim, todo o estresse no setor bancário mundial terá como resultado provável uma pausa no ciclo de alta de juros nos EUA”, avalia o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, em comentário.
Mercados alternam narrativas
Houve um pivô abrupto e acentuado da narrativa de inflação alta e juros elevados em direção à narrativa de crise bancária e recessão. Porém, nem um tema nem outro devem ser abandonados.
“Há um momento de transição, em que o tema ‘inflação’ perdeu força diante das expectativas de fim do ciclo de alta de juros, só que sem sinais concretos de recessão”, avalia o CIO da TAG Investimentos, Dan Kawa. Para ele, os mercados ainda não entraram no estágio em que o tema “recessão” irá dominar a pauta.
“Por ora, o mercado acredita que o fim do ciclo de alta dos juros está mais próximo e que o mundo conseguirá enfrentar essas taxas mais elevadas de maneira suave”, emenda o CIO da TAG. É isso que deu suporte aos ativos na reta final do mês passado – e, de quebra, do primeiro trimestre.
Já no Brasil, o novo arcabouço fiscal proposto pela equipe econômica do governo Lula pode até ter aliviado um pouco as preocupações em relação às contas públicas. Porém, o balde de água fria do Comitê de Política Monetária (Copom) deixou dúvidas sobre se a regra que deve substituir o teto dos gastos irá antecipar o momento dos cortes na taxa Selic.
Risco de crédito
Porém, ao longo deste mês e até o fim do primeiro semestre do ano outra narrativa deve entrar em cena: a do crédito. Isso porque a contração da oferta de crédito feita por instituições financeiras em dificuldade ou receosos tem efeito análogo aos choques de juros promovidos por bancos centrais, explica Gala, do Master.
“Ou seja, os bancos farão de modo involuntário o que os BCs tentaram fazer com altas de juros: contrair o crédito”, completa. Como resultado, os efeitos sobre a renda, o emprego e os preços também serão similares. “No fim, isso resultará em atividade mais fraca, o que levará a uma inflação menor”, conclui o economista.
Além disso, Allen, da CE, lembra que a pressão sobre os balanços de alguns bancos tende a desacelerar de forma ainda mais acentuada o crescimento do crédito. “Isso, combinado com o impacto tardio do aperto monetário ora em curso, fortalece a visão de que os EUA e a maioria das economias avançadas logo vão entrar em recessão”, prevê o economista.
Sell in May…
Daí então por que é preciso ter cautela com o otimismo exibido pelos mercados antes da virada da folhinha. Afinal, a próxima decisão do Fed ocorre em um mês conhecido como algoz em Wall Street, capaz de colocar pressão nos ativos cíclicos, como as ações, e dar suporte à busca por proteção contra crise, como o dólar, o ouro e até o bitcoin.
“Essa desaceleração econômica deve trazer problemas aos ativos de risco que, no momento, não parecem preparados para uma situação particularmente ruim em relação à perspectiva de crescimento econômico”, avalia a Capital Economics.
Para a consultoria norte-americana, uma recuperação sustentada dos ativos de risco terá de esperar até o fim do ano. Mas, até lá, 2024 já vai estar mais perto no calendário.