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Abimaq: linha Moderfrota deve se esgotar em 2 meses; com juros altos

13 jul 2022, 17:37 - atualizado em 13 jul 2022, 17:37
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A taxa de juros estabelecida para o Moderfrota no ciclo de plantio atual, de 12,5% ao ano com prazo de pagamento de no máximo sete anos, é a mais alta de todo o Plano Safra, ainda que inferior à Selic, atualmente em 13,25% ao ano (Imagem: Unsplash/Charles G)

Sem holofotes no anúncio do Plano Safra 2022/23, o principal programa governamental de estímulo à aquisição de máquinas agrícolas, o Moderfrota, mais uma vez não terá recursos suficientes nem para a demanda do primeiro semestre desta safra.

O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos de Oliveira, estima que o dinheiro deva acabar dentro de dois meses, assim como outras fontes de crédito para aquisição de máquinas com taxas mais baixas, como o Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO).

A partir do segundo semestre da safra, o primeiro de 2023, o ritmo das vendas de tratores, colheitadeiras e outros equipamentos pode diminuir, a depender da rentabilidade obtida por produtores e dos juros cobrados pelo mercado, avalia Oliveira.

“Este ano (2022) não vai ser ruim, tem um arrasto da carteira (de pedidos que ainda serão faturados), mas a hora que acabar a carteira, em novembro, dezembro, talvez o mercado fique mais restritivo. Estamos no terceiro ano de vendas excepcionais, mas 2023 vai depender da rentabilidade dos produtores, que depende dos preços das commodities, dos insumos, das safras americana e brasileira, da demanda chinesa”, disse Oliveira ao Broadcast Agro. “Se 2023 for um ano muito bom de preços de commodities, pode ser razoável (em vendas de máquinas agrícolas)”, continuou.

O montante definido pelo governo para o Moderfrota na safra 2022/23, R$ 10,16 bilhões, é 35% maior do que os R$ 7,53 bilhões anunciados na temporada 2021/22, mas muito inferior aos R$ 32 bilhões solicitados pela Abimaq ao governo federal.

A entidade também pediu mais R$ 11 bilhões somente para financiamento de máquinas agrícolas pelo programa Pronaf Mais Alimentos.

A taxa de juros estabelecida para o Moderfrota no ciclo de plantio atual, de 12,5% ao ano com prazo de pagamento de no máximo sete anos, é a mais alta de todo o Plano Safra, ainda que inferior à Selic, atualmente em 13,25% ao ano.

Bastos avalia que a taxa seja alta para o produtor, considerando que é prefixada e ao longo dos sete anos de amortização o cenário de juros pode mudar. “Se olharmos para frente, a perspectiva é de que a inflação comece a cair entre 2023 e 2024, enquanto o juro estabelecido para o Moderfrota é fixo. Então o produtor vai ficar pagando sete anos essa taxa”, disse o executivo da Abimaq.

Apesar disso, como as taxas cobradas por bancos em linhas comerciais de longo prazo são ainda mais altas, de até 17%, os R$ 10,16 bilhões do Moderfrota devem se esgotar rapidamente, assim como no ano passado. Em 2021, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou no fim de setembro, somente três meses após o início da safra 2021/22, a suspensão de novas solicitações de crédito pelo Moderfrota, em virtude do nível de comprometimento de recursos.

No segundo semestre de 2022, a perspectiva de oferta de crédito para maquinário agrícola preocupa menos a Abimaq do que o primeiro semestre de 2023 (segundo do ano-safra 2022/23).

A entidade prevê para o ano um mercado de R$ 90 bilhões, considerando a receita das empresas da CSMIA, crescimento de 9% sobre 2021.

Entre janeiro e maio, a indústria faturou 11,5% acima do contabilizado em igual período do ano passado (valor real, descontada a inflação) e 35% mais em termos nominais (em valor de faturamento), de acordo com o executivo.

Estevão estima que, dos R$ 90 bilhões, R$ 80 bilhões correspondam a vendas de máquinas “inteiras” e R$ 10 bilhões, de peças.

Ele lembra que metade dos R$ 80 bilhões corresponde a vendas feitas no primeiro semestre. Faltariam ser faturados portanto, entre julho e dezembro, os outros R$ 40 bilhões em vendas, das quais 70%, ou R$ 28 bilhões, devem precisar de financiamento, seja com taxas subsidiadas ou livres.

Outros 30% do valor de vendas, ou R$ 12 bilhões, serão viabilizados com recursos próprios dos produtores.

Dentro dos R$ 28 bilhões, algo em torno de R$ 17 bilhões poderão ser financiados com taxas mais baixas, subsidiadas pelo governo, e R$ 11 bilhões a taxas de mercado.

No bolo dos R$ 17 bilhões estão, além dos R$ 10,16 bilhões do Moderfrota, em torno de R$ 3 bilhões que devem ser reservados pelo governo para o Pronaf Mais Alimentos, prevê Oliveira, com base na média histórica do montante alocado para a linha.

O total a ser destinado ao programa ainda não foi divulgado porque o governo dependia da aprovação do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 18, que prevê crédito suplementar de R$ 1,2 bilhão para equalização das taxas de juros de diversas linhas do Plano Safra 2022/23 – o que ocorreu na quarta-feira. O texto do PLN aguarda agora sanção presidencial.

A Abimaq considera que poderá contar, ainda, com cerca de R$ 3 bilhões para o segmento rural do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), também com taxas mais baixas.

Do lado dos recursos com taxas livres, sem subsídio, estão linhas de crédito de bancos privados, do Banco do Brasil e da Caixa, assim como do próprio BNDES, que criou o BNDES Crédito Rural para suprir a escassez de recursos para o segmento.

“Quando chegar em setembro, se quiser adquirir máquina, o produtor vai ter de tomar recursos do mercado, que custam entre 12,5% e 17% ao ano, dependendo do rating (perfil de crédito do produtor) e da instituição financeira”, pontuou Oliveira. Em todo o ano de 2022, o peso dos negócios fechados com caixa dos próprios agricultores também deve girar ao redor de 30% do total de R$ 90 bilhões, ou R$ 27 bilhões. O restante precisará de algum tipo de financiamento.

“No primeiro semestre do ano que vem teremos que ficar espertos, porque não vai ter mais recursos com taxas equalizadas. Talvez algo do FCO”, disse Oliveira, acrescentando que o orçamento de 2023 do Fundo Constitucional do Centro-Oeste só deve ser conhecido em novembro.

Na avaliação do executivo, a falta de crédito com taxas mais baixas não é ruim apenas para a indústria, mas para os produtores. “Sempre tem máquina que vai ficando velha. Quando uma janela atual é ruim (cenário de rentabilidade do produtor e de taxas de juros) não significa que não terá renovação de maquinário, só terá uma renovação menor”, ponderou.

No fim de abril, na cerimônia de abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto, o presidente do Conselho da Abimaq, João Carlos Marchesan, defendeu a proposta da entidade para o Plano Safra 2022/23, argumentando que 50% das máquinas que estão no campo no Brasil têm mais de 15 anos de idade e que “o parque precisa ser modernizado”.

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