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A XP e o papel de investidores institucionais no criptomercado

21 abr 2018, 10:50 - atualizado em 21 abr 2018, 10:51
XP Investimentos
Há rumores de que a entrada da corretora será via mercado de balcão

Jamil Civitarese/Investing.com

No Brasil, a XP Investimentos já vem se posicionando faz algum tempo no mercado de criptomoedas. Com a contratação de Fernando Ulrich, velho conhecido de brasileiros que acompanham a blogosfera relacionada ao tema, a entrada desse grande player parecia questão de tempo. Há murmúrios de que a entrada da corretora será via mercado de balcão – em outras palavras, operações volumosas para relativamente poucos agentes – e isso significa que haverá investidores qualificados entrando no mercado.

No cenário internacional, há declarações e boatos de interesse de grandes players – George Soros e os Rockefellers já estão circulando no mercado – e isso é visto com grande animosidade pelos demais investidores. A entrada de cada vez mais players relevantes é, no mínimo, algo provável e há potenciais consequências para o mercado como um todo. Algumas são mais óbvias, como a maior liquidez, porém há mudanças sutis que são ainda mais saudáveis que o puro e simples aumento no volume de negócios.

O aspecto da liquidez é importante ao considerarmos que há ineficiências nos mercados a serem exploradas, abrindo espaço para, por exemplo, os investidores baseados em algoritmos e sistemas de previsão. O maior volume de ordens desses robôs traz aumento considerável na liquidez. Por outro, apesar de não ser impossível criar um trading system sozinho, montar um realmente bom costuma envolver uma boa equipe de estatísticos, físicos, econometristas ou cientistas da computação. Há um custo de desenvolver uma operação rentável a longo prazo nesse mercado e, portanto, é mais provável que os grandes entrantes se envolvam nessas estratégias. É esperado que fundos especializados nesses segmentos concentrem parcela significativa dos ganhos decorrentes dessas estratégias de trading.

Porém, mesmo entre investidores que não usam approaches quantitativos, há diferenças significativas. Um investidor grande que está comprado numa hipótese sobre os criptoativos – por exemplo, eles serem boas reservas de valor – não simplesmente compra e espera pelo resto da vida. Esse investidor possui custos de oportunidade diferentes de um menor: ele pode operar mercados que normalmente trariam retornos de longo prazo mais certos que os apresentados por criptoativos. No que tange criptoeconomia, há preocupações diferentes que investidores pequenos, mesmo as atuais gestoras de criptoativos, têm. As propensões a risco e a gama de investimentos são diferentes, com, provavelmente, maior cuidado com riscos de cauda, como novas tecnologias ou hacking, pelos novos entrantes.

Não quero insinuar que pequenos players necessariamente têm menor qualidade, porém é provável que, com a profissionalização do mercado, os standards de investimento atualmente adotados sejam elevados. Há o risco de, frente à nova concorrência, alguns dos atuais participantes do ecossistema não sejam mais competitivos, ao passo que alguns outros mais preparados certamente irão sobreviver. A consequência da entrada de players maiores no mercado de criptoativos nessa direção é, felizmente, a de maior qualidade em investimentos, acompanhada por maiores demandas para quem quiser se aventurar profissionalmente nesse mercado.

Quando o entrante se trata de uma empresa, como a XP investimentos, a diferença é ainda mais sensível. Há um custo administrativo, burocrático e tecnológico de se abrir uma corretora de balcão para criptomoedas. Parte desse custo é afundado: uma vez feito, não há como se retornar o capital investido. Não se entra num mercado desses esperando que não haja um tempo necessário para payback. A própria entrada de uma empresa grande significa que ela possui informações ou crenças sobre o futuro do mercado, o que é por si um excelente indício de maturidade no mercado. Além disso, grandes empresas possuem maiores interfaces com governos, dificultando regulações asfixiantes demasiado uma vez que essas empresas se consolidem e lucrem com a criptoeconomia*.

Em suma, há três vantagens na entrada desses novos investidores: 1) maior liquidez, 2) maior pressão por serviços de qualidade no mercado de criptoativos e 3) maior capacidade de exercer oposição a medidas regulatórias asfixiantes. Todas essas vantagens são parte fundamental na consolidação de um ambiente de negócios saudável. Nesse caso, o papel de investidores desse porte é mais que somente investir, é arejar um mercado ainda dominado por standards algo inferiores ao de mercados financeiros tradicionais. Particularmente, corroboro com o otimismo de quem acha que esses novos entrantes trarão maiores retornos às criptomoedas e vou além: esses novos entrantes têm tudo para trazer uma nova cara para o mercado.

*Entretanto, há o risco de empresas do setor consolidado se unirem e desenharem regulações que impeçam a entrada de novos concorrentes. Nesse caso, há a chamada “captura regulatória”. Nessa coluna pretendo me manter atento a essas movimentações e informa-los sobre questões nessa direção. Em breve pretendo escrever sobre as organizações “de classe” que vem surgindo no Brasil.

Por Investing.com

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