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Nicholas Sacchi: a transição entre paixão e amor no mundo cripto

09 dez 2019, 10:00 - atualizado em 29 fev 2020, 10:27
Quando o interesse por bitcoin se torna uma paixão? Essa paixão permanece e vira amor ou simplesmente se acaba? (Imagem: Vinny Lingham)

É bastante frequente conhecer pessoas que, assim como eu, após ter o seu primeiro contato com o mercado de criptoativos, se apaixona pelo tema.

Começa aos poucos, com uma exploração mais tímida e insegura sobre o que é o bitcoin. Ainda não há qualquer familiaridade com o tema e os termos parecem intimidadores.

O tempo passa e você dedica alguns minutos de atenção ao mercado; às vezes, algumas horas. Começa a se interessar mais pelo assunto, faz algumas conexões e percebe que as coisas nesse universo são realmente fascinantes. O seu envolvimento se torna cada vez maior.

Até que, finalmente, você é fisgado e o pensamento sobre a tecnologia, sobre a disrupção e sobre o potencial de ganho consome a sua mente, a ponto de atrapalhar seu sono.

Você pensa em bitcoin diversas vezes ao longo do seu dia, confere cotações, lê mais um artigo sobre o tema, depois outro e mais outro.

De repente, o assunto começa a surgir em sua mente em horários inapropriados, afeta seus estudos e o seu trabalho. Você está totalmente aficionado.

Como é um mercado que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, você ainda acorda algumas vezes durante a madrugada para conferir as cotações dos ativos que tem em carteira. Uma verdadeira insanidade. É a paixão entrando em cena.

Repare que não é muito diferente de um relacionamento conjugal. Uma pessoa tem o primeiro contato com a outra e marcam um jantar despretensioso com o intuito de se conhecerem melhor.

Nessa primeira experiência, ainda há um certo ceticismo com relação ao outro. Se as coisas forem bem, elas vão se aproximando até que um começa a ser pensamento predominante na mente do outro e vice-versa, e eles se apaixonam.

Tudo bem, é um pouco mais complexo que isso e envolve uma série de hormônios e neurotransmissores, mas acho que deu para captar a ideia.

A “caça” por diversas informações a respeito da tecnologia do bitcoin pode te deixar cansado e, por vezes, desmotivado (Imagem: Pixabay)

Dos olhos brilhantes aos olhos cansados

Mas essa coisa de paixão durar para sempre é coisa de filme de comédia romântica. No mundo real, as coisas são bem diferentes, como demonstram diversos estudos científicos.

Um que gostei bastante foi o da psicóloga Dorothy Tennov, que realizou uma pesquisa de longo prazo com milhares de casais e concluiu que o tempo de vida média da obsessão romântica (leia-se “paixão”) é de dois anos. Depois disso, o lirismo deixa de existir em boa parte dos casais que encontramos por aí.

Confesso que a minha experiência com cripto não foi muito diferente disso.

Depois de ter sido sugado pelo vortex do conhecimento e ter mergulhado de cabeça nos mais diversos assuntos que giram em torno dessa indústria, que vão de registros descentralizados, passam por contratos inteligentes e chegam nas finanças descentralizadas, aos poucos, o interesse pelo tema foi esvanecendo.

É normal. Toda paixão termina em algum momento. Basta se lembrar do seu último relacionamento conjugal. Aos poucos, os defeitos do outro, que antes eram pouco óbvios, começam a aparecer com uma intensidade cada vez maior. E começam a incomodar.

“Se dinheiro não pode comprar amor, talvez o bitcoin consiga?” (Imagem: Reddit)

A situação se complica ainda para parceiros que moram juntos. Aquele jeito despojado, que antes fazia a sua cabeça, parece ser menos atraente quando são as roupas dele que se acumulam, formando um amontoado de tecido mal dobrado dentro do armário.

Ou quando os lindos cabelos dela se acumulam no ralo, formando um emaranhado de fios e sebo que qualquer homem repudia.

É, meu caro, seja bem-vindo ao mundo real do casamento. Aqui, os sapatos não voltam sozinhos para o armário, os casacos parecem não gostar dos cabides e os cachorros não passeiam sozinhos.

Captou a mensagem? Então, de volta para as criptos: aquele livro (denso!) sobre como funciona o algoritmo de curvas elípticas do bitcoin já pareceu ser muito mais atraente há dois anos do que é hoje, não acha?

E que tal aquele guia de programação da Ethereum que você prometeu que iria mergulhar de cabeça, mas que hoje te dá calafrios só de olhar? Solidity? Brrr! De repente, não é mais aquela paisagem idílica que você tinha em mente, estou certo?

Mas tudo bem. Isso faz parte do seu processo de amadurecimento enquanto investidor. A tomada de decisão racional não pode existir enquanto a euforia platônica predominar. É igual ao amor verdadeiro, que só assume o volante da relação quando a paixão tiver concluído o seu ciclo.

Tanto para o Bitcoin como para os relacionamentos, é necessário dedicação e paciência (Imagem: NullTX)

Escolha amar (e prosperar)

O que quero dizer é que amor maduro representa a simbiose entre a razão e a emoção. É um ato de vontade, exige disciplina e não é algo espontâneo. Isso vale também para a decisão de se envolver profundamente com um novo mercado.

Nem sempre serão bons momentos. Vai ser custoso, vai dar trabalho e você vai precisar se dedicar bastante. Mas, no final das contas, vai valer a pena (em ambos os casos).

Portanto, mesmo quando sentir que a sua paixão pelo mercado perdeu força, continue firme na sua decisão de se aprofundar na tecnologia.

Talvez você não sinta mais aquele arrepio na espinha ao conferir as cotações ou ao ler sobre contratos autônomos. E está tudo bem, porque agora você consegue tomar decisões mais sóbrias e avaliar os projetos com muito mais cautela.

Ainda estamos nos primórdios dessa relação e há muita coisa para ser construída. O mercado continua extremamente sexy e cheio de oportunidades. Só resta você saber aproveitá-las.

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