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A tese de investimento em bitcoin da MicroStrategy

18 set 2020, 16:14 - atualizado em 12 mar 2021, 14:53
De quais sinais você ainda precisa para confiar no potencial do bitcoin? (Imagem: Unsplash/@silverhousehd)

Em meio à toda volatilidade, drama e empolgação do setor de Finanças Descentralizadas (DeFi), o bitcoin (BTC) começou a parecer chato. Seu preço está mais ou menos o mesmo do que há um ano e você não pode nem garantir uns tokens YAM com ele.

Embora alguns começaram a considerar o bitcoin como uma rocha digital inútil, alguém encontrou um caso de uso interessante para ele.

Esta semana, mais detalhes surgiram de como Michael Saylor, CEO da MicroStrategy (MSTR), convenceu o comitê de uma empresa negociada em bolsa a alocar quase toda a posição de US$ 500 milhões da empresa em bitcoin.

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Michael Saylor

Saylor se formou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 1987 e fundou a MicroStrategy aos 24 anos.

MicroStrategy é uma empresa de “Inteligência Comercial” (do inglês “Business Intelligence”) que, basicamente, cria softwares que permitem que empresas usem seus próprios dados para direcionar a tomada de decisões.

É importante destacar que Saylor, assim como qualquer outro empreendedor da internet dos anos 1990, também comprou inúmeros domínios de internet e foi o cara que vendeu o domínio Voice.com para a Block.One (EOS) por US$ 30 milhões.

“Percebemos, da forma mais horrível possível, que tínhamos colocado US$ 500 milhões sobre um cubo de gelo que está derretendo”, afirmou Saylor (Imagem: Twitter/Michael Saylor)

O problema de US$ 500 milhões da MicroStrategy

Para grande parte das pessoas, ter US$ 500 milhões em dinheiro não parece ser um problema. Até recentemente, também não era para grandes corporações.

Havia uma época, antes da Crise Financeira Global de 2008, quando a taxa livre de risco de rendimento com dinheiro era de 5% por ano.

Isso significa que uma empresa poderia ter US$ 500 milhões, ganhar US$ 25 milhões por ano fazendo absolutamente nada e ter dinheiro à mão caso houvesse um contratempo.

Avançando para hoje em dia, quando a taxa livre de risco de rendimento caiu para 0,69% por conta das frouxas políticas fiscais (e a impressora de dinheiro quase pifando) junto com preços inflacionados de ativos, é uma história completamente diferente.

Nas próprias palavras de Saylor, “percebemos, da forma mais horrível possível, que tínhamos colocado US$ 500 milhões sobre um cubo de gelo que está derretendo”.

Frouxas políticas fiscais (e a impressora de dinheiro quase pifando) junto com preços inflacionados de ativos indicam que é a hora de inovar e buscar por outros tipos de investimentos (Imagem: Unsplash/@jpvalery)

Dinheiro é lixo

Então o que uma empresa irá fazer com um cubo de gelo de US$ 500 milhões que está derretendo? Parece que não é tão fácil alocar meio bilhão de dólares em um período tão curto de tempo.

Você pode comprar de volta meio bilhão das ações de sua própria empresa. Para uma empresa como a MSTR, Saylor estimou que levaria quatro anos, ou seja, um tempo que a MicroStrategy não tinha.

Você poderia comprar imóveis. Porém, o preço de imóveis comerciais caiu pós-COVID enquanto donos de imóveis ainda acreditam que seus ativos valem agora o mesmo que em janeiro. Em outras palavras, boa sorte tentando obter um preço justo de mercado.

Você pode comprar empresas de tecnologia, como Amazon, Apple, Google ou Facebook. Porém, seu risco é simétrico: podem cair 50% assim como podem subir 50%.

Saylor ficou com as seguintes opções: prata, ouro, bitcoin e outros ativos alternativos, uma decisão que a empresa estava explorando durante uma videoconferência em julho.

Já que o Bitcoin é a principal rede desmaterializando o dinheiro, é dez vezes o tamanho de qualquer criptomoeda que deseja ser uma reserva de valor, entrou na conta (Imagem: Unsplash/@s1winner)

Uma grande aquisição

Saylor queria algo que ou poderia ser dividido pela metade ou subir por um fator de 10, um investimento que poderia ser comparado à compra de ações da Amazon ou Apple em 2012. Em outras palavras, risco assimétrico.

Como um aluno de história da tecnologia, Saylor observou que a estratégia vencedora nos últimos dez anos é encontrar algum tipo de “rede digitalmente dominante” que desmaterializa algo fundamental à sociedade.

Apple desmaterializou comunicações por celular. Amazon desmaterializou o comércio. Google desmaterializou o processo de coleta de informações.

Algo que Saylor notou ser comum entre todas as recentes oportunidades era a compra de quando atingissem capitalizações de mercado de mais de US$ 100 bilhões e forem dez vezes maiores do que seu próximo competidor.

Já que o Bitcoin é a principal rede desmaterializando o dinheiro, é dez vezes o tamanho de qualquer criptomoeda que deseja ser uma reserva de valor (sem considerar ether aqui), entrou na conta.

O investimento da MSTR totaliza US$ 425 milhões ou 38.250 BTC (Imagem: Unsplash/@cliffordgatewood)

Realizando a aquisição

Com a tese escolhida, a próxima coisa que Saylor teve que fazer era convencer todos na MicroStrategy a tomarem essa decisão incomum. Para tal, ele simplesmente fez todo mundo descer pela mesma toca do coelho do bitcoin pela qual grande parte da indústria também desceu.

Ele fez todos na empresa assistirem aos vídeos de Andreas Antonopoulos, lerem “The Bitcoin Standard”, assistir ao debate entre Eric Vorhees e Peter Schiff e escutar aos podcasts de Anthony Pompliano e Nathaniel Whittemore.

Sem oposição à decisão, MicroStrategy pôs suas mãos à obra. Primeiro, alocaram US$ 250 milhões, adquirindo 21.454 BTC em agosto, além de mais US$ 175 milhões (16.796 BTC) em setembro, totalizando US$ 425 milhões ou 38.250 BTC.

O mais fascinante é que a MicroStrategy se dispôs a abrir uma grande posição sem realmente movimentar o mercado ou alguém perceber essa decisão.

Isso mostra quão líquido o bitcoin se tornou. Para adquirir a parcela de bitcoins em setembro, Saylor comentou que negociaram continuamente, por 74 horas, realizando 88.617 negociações de 0,19 BTC a cada três segundos.

A curto prazo, é uma grande vitória para a tese de investimento de ouro digital do bitcoin (Imagem: Unsplash/@silverhousehd)

Algo que irá entrar para os livros de História

Críticos perceberam que as ações da MicroStrategy vêm caindo desde 2013, que é o principal motivo por trás da grande iniciativa da empresa. Mesmo assim, a iniciativa tem consequências interessantes para os acionistas da empresa.

Segundo Ryan Selkis, agora a MicroStrategy é tanto uma empresa de software e, com ⅓ de sua capitalização de mercado em bitcoin, se tornou um fundo negociado em bolsa (ETF) de bitcoin. A ação da MSTR subiu 20% esta semana.

Apenas o tempo dirá se a História lembrará dessa iniciativa como uma decisão estratégica brilhante ou uma enorme falha corporativa. A curto prazo, é uma grande vitória para a tese de investimento de ouro digital do bitcoin.

O bilionário gestor de fundos de hedge Paul Tudor Jones entrou nessa. Uma empresa negociada em bolsa tornou o bitcoin em seu principal ativo de tesouro. Conforme diretores financeiros e gestores de fundos em todo o mundo começam a prestar atenção, é de se pensar: quem será o próximo?