Alimentos

A roça terá de mudar com os novos hábitos de consumo, mas de escala pós-pandêmica desconhecida

28 jul 2020, 15:02 - atualizado em 28 jul 2020, 15:18
Agricultura
Produtores terão que se adaptar em alguns setores para atender as mudanças atuais e as futuras (Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Como tudo depende de quanto tempo o vírus vai circular entre nós e se a recessão vira depressão, alargando mais o tempo de alguma recuperação, a escala de manutenção das mudanças em curso em muitos setores fica em suspenso. Mas os sinais já estão dados, com efeitos reversos nas cadeias produtivas, entre as quais as alimentícias, que começam a chegar na roça.

Para as empresas entenderem e atenderem o consumidor, a Euromonitor International tem se deparado com questões urgentes, mas que podem perdurar em algum grau no futuro. Num primeiro momento, o cenário é mais claro fora do eixo das grandes commodities, e mais próximo do consumo final, com o isolamento.

Angélica Salado, gerente de pesquisas Brasil, ouviu de um produtor de chocolates que mudanças teriam que ser feitas para poder atender diretamente o delivery, com lojas fechadas e outros pontos de vendas a meio mastro.

Para manter o negócio seus produtos precisam passar por mudanças na consistência, a fim de não derreterem nos bags dos motoboys. Daí também que a matéria-prima terá que passar por mudanças que poderá influenciar nos volumes adquiridos e até no modelo de produção.

Além, como lembra a especialista da Euromonitor, de que os segmentos intermediários necessitarão de arranjos, entre os quais embalagens e rotulagens, possivelmente.

“As cadeias de valores vão sofrer alterações, mas o comportamento futuro está muito associado ao desempenho da economia”, diz, embora ela acredite que alguns valores deverão se manter com um grau maior do que era na pré-pandemia, ainda que muita coisa nova acontecendo não saia a custos baixos para as empresas.

Logística

A alimentação no lar foi redescoberta pelas classes médias e altas, o que certamente implicará em um número menor de restaurantes e bares em funcionamento, mesmo que potencialmente a economia possa permitir em algum momento. Isso, para a empresa de pesquisas e análises de mercados, mudará igualmente também a logística de entrega dos fornecedores de alimentos in natura e processados.

Nesse ponto, a gerente da Euromonitor trabalha com outro exemplo. As vendas nos supermercados e lojas de conveniências de sucos prontos caíram, sendo que as famílias em melhor situação estão preferindo prepará-los em casa, enquanto as mais pobres – entrantes nesse mercado – olham mais o tamanho das carteiras.

Mas, em comum, a percepção para todos de aspectos relativos à saúde e mesmo ambientais passam a ser valores importantes, na esteira da crise sanitária global. O que vai diferenciar vai ser as variedades e volumes de compras por estas classes sociais.

“A rastreabilidade da cadeia vai ser importante”, lembra Angélica Salado.

Nesses casos, os fruticultores terão ainda que perceber as tendências e se adaptar à nova dinâmica. Mudanças de mix produtivo, em detrimento de espécies mais direcionadas às indústrias? Ou fornecer em menor volume e mais para o varejo, conforme o tipo? Entre outras perguntas, somam-se a logística do produtor e a logística do distribuidor – quando este está participando – inclusive olhando variáveis como a venda em porções, por exemplo.

Grandes redes magazines passaram a vender produtos alimentícios básicos para conseguirem o direito legal de permanecerem abertas, sendo um dos casos a Havan. O Magazine Luiza (MAGLU3) trouxe os cafés especiais para dentro do marketplace, como o da marca MM Cafés, do Espírito Santo, mostrado por Money Times. E redes de supermercados descobriram a força do delivery.

Exemplos não faltam. E a régua do quão tudo isso veio para ficar e em qual grau, a executiva técnica da Euromonitor insiste em falar da disponibilidade de renda.

Inclusive nos Estados Unidos, onde a Euromonitor confirma que antigos hábitos alimentares foram resgatados em um país muito costumeiro em comer fora de casa. E que o auxílio que o governo está dando aos mais vulneráveis chega a ser maior que os salários recebidos enquanto empregados, em boa parte dos casos.

De certa forma, ampliou o cardápio possível para os americanos que perderam emprego com a covid-19 se alimentarem em casa.

 

Compartilhar

TwitterWhatsAppLinkedinFacebookTelegram
Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar