A rede Ethereum foi criada sobre quais princípios?
No relatório intitulado “ETH 2.0: a próxima evolução da criptoeconomia”, a Messari, em parceria com a Bison Trails, fez um compilado sobre todo o desenvolvimento do ecossistema mais importante do setor cripto, em antecipação ao lançamento de sua segunda versão.
O lançamento do “beacon chain” nessa terça-feira (1º) marca a quarta e última etapa do roteiro de desenvolvimento, original de 2015, para o amadurecimento da Ethereum.
A filosofia da Ethereum
Segundo o relatório, Ethereum é um novo contrato social para a economia global.
É um bem público e global que garante a livre participação, acessibilidade sem fronteiras, neutralidade plausível, hipertransparência e interação econômica e livre de censuras para qualquer pessoa no mundo, independente de quem seja ou de onde vem.
Com a Ethereum, usuários e desenvolvedores são soberanos e podem determinar seus próprios destinos econômicos.
Ethereum visa ser amplamente democrática e livre para impulsionar a participação de usuários, escalável para possibilitar que usuários interajam, livre de riscos de mineração centralizada.
Para que a Ethereum cumpra o contrato social com seus participantes, deve ser desenvolvida sobre princípios que garantam que a rede possua as propriedades prometidas.
Os melhores protocolos são aqueles que funcionam bem com uma variedade de modelos e hipóteses. É importante ter ambas as camadas de defesa: incentivos econômicos para desincentivar que grupos centralizados atuem de forma antissocial e incentivos anticentralização para evitar que esses grupos sejam criados. — (Vitalik Buterin, cofundador da Ethereum)
A ETH 2.0 foi criada a partir de cinco princípios essenciais:
1) Simplicidade
O algoritmo proof-of-stake (PoS) e “sharding” (“repartições”) são inerentemente complexos.
A simplicidade permite que ETH 2.0 minimize os custos de desenvolvimento, reduza sua superfície de ataque e convença usuários de que as escolhas de parâmetro do protocolo são legítimas, por serem mais fáceis de entender (algo essencial para a neutralidade plausível).
2) Estabilidade a longo prazo
Na filosofia dos blockchains, existe uma linha tênue entre estabilidade e evolução.
A estabilidade favorece a ossificação de um blockchain para que este se torne mais previsível de se usar e, em teoria, seja mais seguro.
Para alguns, estabilidade é necessária para qualquer blockchain que realmente quiser atuar como uma infraestrutura pública e essencial, principalmente para coisas como dinheiro.
Já a evolução favorece a contínua melhoria de um blockchain para que este seja mais funcional e robusto. Diferente da necessidade por estabilidade, a evolução preza pelas melhorias fundamentais antes da ossificação pois, nesta etapa, a evolução é imprescindível.
A atual versão da rede Ethereum preza pela evolução, reconhecendo os primórdios da tecnologia blockchain e as melhorias fundamentais para que possa escalar globalmente.
No entanto, a ETH 2.0 visa atingir estabilidade porque, quando desenvolvida, não devem haver alterações por um bom tempo a fim de atuar como uma infraestrutura pública.
3) Suficiência
Blockchains devem ser muito robustos para permitirem a criação de protocolos de segunda camada que não sejam centralizados nem dependam de fortes hipóteses de confiança.
Para tal, devem possuir uma linguagem de programação expressiva (o suficiente), disponibilidade e computação de dados escaláveis, bem como intervalos mais rápidos entre blocos.
4) Profunda defesa
Blockchains devem ser tolerantes a falhas e resilientes a ataques e conspirações.
Para esse fim, deve-se criar um sistema o mais descentralizado possível para evitar complôs e tornar extremamente cara a conspiração, mas facilitar a recuperação do sistema por participantes “bons” caso um conluio aconteça.
Além disso, é importante que validadores saibam que, se fizerem algo de errado, serão responsabilizados.
5) Verificabilidade completa de “light clients”
Muitos usuários só irão interagir com o blockchain Ethereum por meio de “light clients” — softwares que interagem com nós completos a fim de interagir com o blockchain.
É importante que esses usuários tenham a certeza de que podem verificar os dados disponíveis e válidos no sistema completo, mesmo se houver um ataque de 51%.
A filosofia da descentralização
Com base no teorema Bondareva-Shapley, da teoria do jogo cooperativo, muitos desses jogos não têm um resultado estável. É possível que haja conspirações para que um grupo capte uma recompensa fixa.
Assim, é importante dificultar a possibilidade de um conluio e, no caso dos blockchains públicos, isso pode ser alcançado por meio da descentralização.
A descentralização evita que um grupo concentrado de maus agentes comprometa o funcionamento e a segurança de uma rede.
O propósito da descentralização é tornar um blockchain resiliente a falhas, ataques e colusões, mas não apenas de forma ideológica.
Quanto mais um blockchain reduzir a necessidade de confiança, mais poderá se escalar para uma plataforma global e, como consequência, atrair uma grande quantia de capital e transações de alto valor.
A descentralização em blockchains públicos pode ser considerada tanto na dimensão arquitetônica como na dimensão política.
A dimensão arquitetônica se refere a com quantos nós um blockchain é feito. Já a dimensão política se refere a quantas pessoas e entidades controlam esses nós e quão independentes são.
Na Ethereum, são necessários validadores, clientes, desenvolvedores, pesquisadores e usuários diversos, independentes e geograficamente espalhados, bem como haver uma conscientização democrática sobre atualizações técnicas para que todos possam avaliar e participar de discussões.
A descentralização em blockchains também pode resultar em bifurcações (“forks”) daqueles que não concordam com a atual coordenação de um sistema e desejem seguir caminhos separados.
The DAO, Ethereum e Ethereum Classic