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‘Recuperação judicial não é a salvação do produtor rural, que precisa conhecer outras alternativas’

14 jan 2025, 7:30 - atualizado em 14 jan 2025, 12:54
Recuperação judicial agronegócio produtor rural jonatas pulquério (1)
(Foto: Sociedade Nacional da Agricultura)

Para 2025, o consultor técnico da Câmara Temática de Gestão de Risco Agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Jonatas Pulquerio, enxerga a possibilidade de novos pedidos de recuperação judicial. No entanto, ele disse que não espera que grandes empresas, como o caso da AgroGalaxy (AGXY3), façam isso, mas sim que os pedidos venham de produtores “desesperados, que acreditam que a RJ é a única salvação”.

Para Pulquerio, os produtores precisam conhecer outras alternativas à recuperação judicial.

“Imagine um produtor rural com um ativo de R$ 1 bilhão e uma dívida de R$ 300 milhões, toda concentrada no curto prazo. Para ele, isso pode parecer o fim do mundo. O que deve ser feito? É fundamental sentar e dialogar com os credores – bancos, fundos e revendas –, renegociar os prazos das dívidas e ajustar as taxas, evitando a necessidade de recuperação judicial. Acordos extrajudiciais podem resolver essa questão financeira sem envolver o judiciário”, afirma.

Antes de atuar na Câmara Temática, o consultor foi diretor do Departamento de Gestão de Riscos da Secretaria de Política Agrícola do Mapa até outubro de 2023.

Nas Câmaras Temáticas, são realizados debates do setor privado sobre políticas públicas, com a presença de representantes de entidades, com bancos e setores que representam o produtor rural. “Somos um corpo dentro do Mapa, mas que não faz parte do governo”.

O momento do agronegócio em 2025 e o endividamento do produtor rural

O consultor técnico acredita em um potencial grande para o agronegócio neste ano, principalmente no universo das exportações, com destaque para Índia e China, em meio uma possível guerra comercial com a volta de Donald Trump à Casa Branca.

Segundo ele, as perspectivas para a safra de soja são as melhores possíveis, com uma produção de alto nível, principalmente no Centro-Oeste, com expectativa de uma supersafra.

“Não posso falar que existe uma crise no agronegócio, mas o produtor rural está, sim, endividado. Há 3 anos, o produtor surfou com bons preços da soja e pegou crédito com boas taxas. Só que quando o preço encolheu, muitos produtores fizeram novos empréstimos para pagar os anteriores, o que resultou em uma endividamento no curto prazo”, explica.

‘O problema está para a falta de liquidez’

Quanto aos altos níveis de alavancagem, o consultor técnico reforça que o mercado financeiro e de capitais está dialogando com esses produtores, com a possibilidade de sentar e negociar.

“O produtor precisa aprimorar sua governança, buscando consultoria ou assessoria especializada para auxiliar na gestão do negócio. Além disso, as Federações, associações e sindicatos rurais que representam os agricultores têm um papel fundamental ao promover cursos e capacitações que fortaleçam a governança no campo, sem depender exclusivamente do governo. Analisando a situação, muitos produtores acabam contratando crédito de forma precipitada, com taxas elevadas, o que compromete sua sustentabilidade financeira. Embora possuam ativos valiosos, enfrentam dificuldades de liquidez, resultando em um ciclo de endividamento, onde novas dívidas são contraídas para quitar compromissos anteriores”.

Neste momento de alta do dólar, Pulquerio não enxerga um cenário de melhores margens para o produtor rural, mas o consultor acredita em bons resultados a partir de uma boa gestão. “Não basta ele se preocupar com uma boa margem, mas sim saber geri-la, para que isso não vire uma bola de neve”. 

Pulquerio também projeta uma alta para a rentabilidade dos Fiagros e CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio).

O que anima e o que preocupa?

O grande foco da Câmara Temática de Gestão de Risco Agropecuário do Mapa para este ano fica para o avanço do PL 2951, de autoria da ex-ministra da Agricultura e senadora, Tereza Cristina (PP-MS)

“O PL 2951 foi aprovado na Comissão de Agricultura do Senado, recebendo parecer favorável do senador Jayme Campos (União-MT), embora o governo tenha solicitado vista. O projeto reestrutura diversos aspectos, incluindo a gestão de fundos. A lei original, de 2010, que instituiu o Fundo de Catástrofe, previa um aporte obrigatório de R$ 4 bilhões por parte do governo. A nova legislação amplia as opções para que o governo realize aportes adicionais, permitindo contribuições por meio de títulos públicos e ações de empresas estatais. Além disso, o PL estabelece a obrigatoriedade do seguro rural em operações de crédito oficial, reforçando a segurança no financiamento agrícola”, diz.

Fora essas questões, a Câmara Temática olha de perto para os riscos climáticos dentro do seguro rural, assim como o risco de crédito dentro do setor, após um ano de 2024 marcado por recordes nos pedidos de recuperação judicial

“O crédito é um recurso essencial que o setor privado injeta no agronegócio, e todo investidor avalia os riscos antes de aplicá-lo. Diante disso, o agronegócio precisa desenvolver alternativas eficazes para mitigar esses riscos. Apesar de alguns produtores estarem entrando em RJ, o mercado financeiro ainda demonstra um grande apetite por investir no setor”.

 

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Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
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