O risco Banco do Brasil (BBAS3): O que está em jogo no resultado do 2T25 (e o que pode mudar o humor do mercado)

O segundo trimestre será determinante para entender a nova dinâmica do Banco do Brasil (BBAS3) segundo a própria administração.
Em teleconferência realizada ainda no trimestre passado, o vice-presidente de Controles Internos e Gestão de Riscos, Geovanne Tobias, disse que a etapa vai “verificar se os resultados permanecerão no mesmo patamar ou apresentarão recuperação.”
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Até agora, dados do próprio do Banco Central mostraram que a situação para o banco é preocupante.
Segundo os números da instituição, o banco reportou lucro de R$ 500 milhões em maio, bem menor do que o reportado em abril, de R$ 1,7 bilhão.
Trata-se de um tombo de 70% no mês e 85% no ano.
Com esses números em mãos, analistas calculam que o resultado pode despencar para R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões, contra R$ 9,5 bilhões do mesmo período do ano passado. Uma queda de 50%.
Se o pior cenário se confirmar, ou seja, o BB lucrar R$ 3 bilhões, seria o pior resultado entre os bancões. O Santander (SANB11) lucrou R$ 3,5 bilhões.
Além disso, os analistas também veem um ROE, retorno sobre o patrimônio líquido, de apenas 10%, o que também o colocaria como pior rentabilidade e abaixo do custo de capital de 15%.
Segundo os analistas do Bradesco BBI, as informações divulgadas pelo BC apontam para uma deterioração ainda mais significativa da qualidade dos ativos rurais.
“Destacamos que a qualidade dos ativos rurais atingiu o nível mais baixo de todos os tempos, com 3,5% de inadimplência em 90 dias e 2,9% de inadimplência antecipada (15 a 90 dias)”, escreveram.
Enquanto isso, o crescimento anual do segmento vem desacelerando de forma constante desde o início de 2023 devido à piora da economia, que esgarça a capacidade de pagamento dos produtores.
Banco do Brasil: O que está em jogo
Além do resultado em si, o investidor ficará de olho no guidance (projeções) do BB.
No primeiro trimestre, a piora da inadimplência do agro junto com as novas regras da CMN (Conselho Monetário Nacional) jogaram a provisão para as alturas obrigando o BB a pausar algumas linhas.
Agora, a expectativa é que o banco revele as novas projeções considerando a piora do cenário.
Mas não só isso. Analistas também avaliam que o BB irá cortar a projeção de payout, parcela do lucro distribuído para o acionista.
Atualmente, o BB reserva 40% do seu lucro para os acionistas, mas esse número poderia cair para 30%. Um golpe duro em investidores, principalmente os pessoas físicas que compram a ação pensando nos dividendos.
Investidores individuais, que vêm sustentando fortes entradas em um modo “comprar na baixa” , compraram cerca de R$ 5,5 bilhões desde a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, calcula o Safra.
“Existe a possibilidade de o banco reduzir o payout para abaixo dos 40% a 45% observados nos últimos anos — movimento que refletiria uma postura mais conservadora, com foco na preservação de capital”, destaca a Genial.
O BBI também reduziu o índice de payout (parte do lucro distribuída aos acionistas) de 40% para 30%, com a justificativa de que o banco deve adotar uma postura mais conservadora em relação ao capital durante o período de pressão nos resultados.
O que pode mudar o sentimento do Banco do Brasil?
Otavio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, diz que para mudar o sentimento do mercado seria necessário algum elemento que alterasse, de forma rápida e significativa, os resultados.
“Mais do que “menos pior”, seria preciso um resultado visivelmente acima do projetado”.
Uma revisão positiva do guidance, com sinalização da diretoria indicando retomada nos lucros, melhora da carteira ou aumento esperado de dividendos também pode aquecer as compras.
Ademais, se o banco mostrar que conseguiu resolver problemas no agro, com estratégias para mitigar riscos, isso ajuda a virar a chave do pessimismo dominante.
“Por outro lado, apenas um resultado “ok”, sem grandes surpresas, provavelmente não seria suficiente. O mercado está muito cético, e só um choque claro e positivo pode fazer quem está vendido correr atrás das ações para limitar prejuízos, levando ao short squeeze”, pondera.
O que esperar do resultado?
Ao longo do trimestre, as casas revisaram as expectativas (e sempre para baixo).
Segundo os analistas do Bradesco, Marcelo Mizrahi e Renato Chanes, o índice de inadimplência pode continuar a se deteriorar.
Casa | Lucro líquido 2T25 (R$ bi) | ROE (%) |
---|---|---|
BTG | 5 | 11,0 |
Genial | 5,10 | 11,1 |
Safra | 4,65 | 10,0 |
Goldman Sachs | 5,00 | 11,0 |
Itaú BBA | 5,30 | 11,0 |
Sentimento do mercado
O Safra realizou uma pesquisa que ouviu 33 investidores para entender as expectativas e o sentimento para os resultados do segundo trimestre.
A pesquisa mostra uma postura cautelosa a pessimista entre os investidores locais antes da divulgação dos resultados.
A maioria (88%) vê a expectativa de um trimestre fraco como não precificada, o que explica a baixa exposição overweight (6%) e o posicionamento baixista significativo (61%).
Por outro lado, há uma clara assimetria técnica: dada a significativa cauda baixista, qualquer surpresa positiva no guidance ou superação dos resultados pode impulsionar um movimento positivo significativo, embora tenha uma probabilidade muito baixa.
“Um resultado moderado ou ligeiramente fraco pode ter um impacto incremental discreto, a menos que deteriore materialmente a história de médio prazo — particularmente em relação à qualidade dos ativos e à solvência”, escreve o banco.
O consenso implícito para o lucro líquido (ajustado para faixas extremas) é de R$ 3,55 bilhões, com um desvio padrão relativamente estreito de R$ 640 milhões.
“Há uma opinião generalizada (88% dos entrevistados) de que o mercado ainda não precificou totalmente os lucros, o que, em teoria, deveria abrir espaço para uma reprecificação, tanto para cima quanto para baixo”, diz.