Mercados

A ‘moderação’ de Lula está levando à queda do dólar?

20 jan 2022, 19:04 - atualizado em 21 jan 2022, 13:25
Lula
Segundo o especialista, há ainda uma influência positiva do fluxo estrangeiro na bolsa brasileira. (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

A ‘moderação’ indicada pelo ex-presidente Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2022, não tem influência na queda do dólar, ao menos por enquanto, de acordo com analistas ouvidos pelo Money Times.

Uma entrevista concedida pelo líder petista na quarta-feira (19) a uma série de blogs de esquerda, em que Lula reiterou a intenção em ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin em sua chapa chegou a ser apontada como um motivo para a baixa da moeda norte-americana.

Na quarta, o dólar caiu 2,30%, a R$ 5,43. Nesta quinta a moeda recuou 0,34%, a R$ 5,41.

O chefe da área de investimentos do banco Daycoval, Mauro Rached, atribui parte do movimento de baixa do dólar a uma aposta dos investidores de que a moeda dos Estados Unidos não tem muito espaço para avançar sobre o real.

O especialista explica que estar comprado em dólar implica ganhar a variação da moeda mais os juros da economia norte-americana, que estão em 0,5%. Enquanto apostar na alta do real é receber 100% do CDI, que está em 11%.

“Já ouvi recomendações lá fora de montar posições em estabilização do real”, conta Rached. “Vejo mais tendência de long do que de short“.

Essa valorização da moeda levaria a uma suavização da política monetária, com a desaceleração da inflação, explica. “Pode ser que o ciclo de aperto monetário dure menos”.

Para o chefe de renda variável da Veronezi Investimentos, Fábio Galdino, é um “absurdo” vincular a baixa do dólar ao que Lula fala.

“Ele não tem essa capacidade de influenciar os mercados por enquanto”, afirma, lembrando que o ex-presidente deu uma entrevista “com o mesmo teor” no passado. 

Galdino pondera que dólar engatou uma alta em outubro passado, com a piora das perspectivas fiscais. “A moeda acaba sendo o primeiro instrumento [de proteção de uma multinacional, por exemplo]”, diz, acrescentando que a “antecipação” da campanha eleitoral em novembro foi um fator de risco.

“Acho que a gente está em um momento de ruído político bem menor, com Brasília em recesso. Isso ajuda a tirar a pressão adicional”, comenta.

Segundo o especialista, há ainda uma influência positiva das commodities e do fluxo estrangeiro na bolsa brasileira, positivo em R$ 12,56 bilhões em janeiro até o dia 19. “Estrangeiro está comprando e a ações continuam extremamente baratas”.

Mas o investidor de fora tem preferido empresas de valor e crescimento, diz Galdino, acrescentando que a bolsa brasileira tem o histórico dos últimos 30 anos de um múltiplo P/L (preço sobre lucro) de 12 vezes, fora bancos e Petrobras. “Hoje o mercado está a 7 vezes o P/L”.

A Veronezi Investimentos trabalha com a hipótese do o dólar ficar entre R$ 5,50 e R$ 5,70 neste ano. “O que atrapalha é que estamos em um ano eleitoral”, afirma Galdino.

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