A liderança do Brasil na produção global de biocombustíveis
A redução do uso de combustíveis fósseis é um dos principais temas da COP29, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro, em Baku, no Azerbaijão. Durante o evento, espera-se que a União Europeia (UE) pressione os países participantes para reduzir o uso de combustíveis fósseis, a opção mais viável para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Além disso, a COP29 deve estabelecer novas metas para o financiamento climático (NCQG), considerando as necessidades dos países em desenvolvimento e o papel das nações desenvolvidas. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a demanda global por etanol deve chegar a 155 bilhões de litros até 2033, e o biodiesel deve alcançar 79 bilhões de litros.
Atualmente, os países desenvolvidos atendem 55% da demanda global por biocombustíveis, mas essa participação deve cair para 49% em dez anos, devido ao crescimento da produção em países emergentes, como Brasil, Índia e Indonésia.
O etanol, por exemplo, tem 59% de sua produção global derivada do milho, 24% da cana-de-açúcar, 6% de melaços, 2% de trigo, e os 9% restantes de grãos variados, mandioca e beterraba. Já o biodiesel é proveniente, principalmente, de óleos vegetais (65%), como óleo de palma, soja e colza, seguido por 27% de óleos de cozinha reutilizados e 8% de óleos não comestíveis e gordura animal.
No Brasil, a produção de etanol e biodiesel somou quase 43 bilhões de litros em 2023, de acordo com o Anuário Estatístico Brasileiro de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 2024, divulgado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O país conta com 359 usinas de etanol (com capacidade de produção de 31 milhões de m3), 60 plantas de biodiesel (capacidade de 6 milhões de m3) e 6 instalações de biometano (capacidade de 58 milhões de m3).
Em termos de crescimento, a produção de etanol subiu 15,5%, alcançando 35,4 bilhões de litros. A produção de etanol anidro, misturado à gasolina nos postos, aumentou 13,5%, enquanto a de etanol hidratado, vendido separadamente na bomba, cresceu 16,8%. A produção nacional de biodiesel superou 7,5 bilhões de litros, impulsionada pela elevação do percentual de mistura obrigatória ao diesel para 12%, em vigor desde abril de 2023. Já o biometano registrou um crescimento significativo de 12,3% em relação ao ano anterior, com uma produção de 74,9 milhões de m³.
Esse crescimento na produção total de biocombustíveis no Brasil, no entanto, não exige a expansão de áreas de cultivo sobre outras culturas voltadas à alimentação, pois a recuperação de áreas degradadas e o aumento da produtividade por hectare podem elevar a produção para até 69 bilhões de litros anuais (58 bilhões de etanol e 11 bilhões de biodiesel).
Para ampliar ainda mais a produtividade no campo de biocombustíveis, inovações como o etanol de segunda geração (E2G) estão sendo desenvolvidas. Com uma pegada de carbono 30% menor que o etanol de primeira geração (E1G), o E2G, derivado de biomassa vegetal lignocelulósica, reaproveita resíduos vegetais como palha, folhas, bagaço, cavaco, entre outros, aumentando em até 50% a produção sem necessidade de expandir a área plantada.
A Raízen (RAIZ4) já produz E2G em escala comercial e de forma contínua. O potencial de produção da companhia nos próximos anos será de 2 bilhões de litros de etanol de segunda geração, considerando uma fabricação total de 4 bilhões de litros de E1G. Além da unidade produtora de E2G em Piracicaba, a empresa já prevê a construção de outras oito unidades produtoras.
Outra inovação promissora é a macaúba, uma palmeira nativa brasileira com uma produtividade de óleo por hectare até sete vezes maior que a soja, além de liberar 80% menos CO2 em comparação aos combustíveis fósseis. A Acelen Renováveis já anunciou um investimento de R$ 12 bilhões na construção de uma biorrefinaria na Bahia para a produção de diesel renovável e combustível sustentável de aviação (SAF), com uma produção estimada de 1 bilhão de litros por ano.
Como destaque final, o Brasil reforça seu papel de liderança na agenda de transição energética ao sediar a COP30 em 2025, em Belém, pela primeira vez. Espera-se assim que a agenda de sustentabilidade e eficiência energética ganhe ainda mais impulsão, com a adequação de políticas públicas para fomentar novos investimentos no setor.