Trabalho

“A grande renúncia” brasileira? País bate recorde de pedidos de demissão, segundo levantamento

30 jun 2022, 16:12 - atualizado em 30 jun 2022, 16:12
Demissão brasil
As mudanças de pensamento em relação ao trabalho é um dos fatores que explica as demissões voluntárias (Imagem: Magnet.me/Unsplash)

O Brasil registrou um total de 6,175 milhões de pedidos de demissão nos últimos 12 meses até maio, de acordo com o levantamento feito pela LCA Consultores.

O número recorde se estabelece em meio ao desemprego alto e à dificuldade dos trabalhadores de voltar ao mercado de trabalho.

Desses dados, vale destacar que 1 a cada 3 desligamentos foram voluntários a pedido do trabalhador, o que representa 33% do total de desligamentos no período (18,694 milhões).

O que dizem os dados

A pesquisa leva em conta os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a partir de janeiro de 2020, que marca o início da série histórica do Caged com a metodologia que contabiliza as vagas com carteira assinada no país.

O aumento é considerável. Em relação a maio de 2021, houve aumento de 50% no número de demissões dentro do acumulado de 12 meses.

No mês passado deste ano, foram 572.364 demissões voluntárias — o número só é menor que o registrado em março (603.136). Comparando maio de 2021 com o mesmo mês de 2022, o aumento no pedido de demissões foi de 52%.

São Paulo se manteve no topo. Tanto no acumulado de 12 meses quanto em maio, o estado se manteve em primeiro lugar na comparação dos estados com o maior número de pedidos de demissão.

Grande renúncia brasileira?

“The great resignation”, ou, em bom e velho português, algo como “a grande renúncia”, é um movimento de demissões voluntárias observado nos Estados Unidos.

Ele consiste, no que foi observado em maio de 2021 nos EUA, em uma onda de demissões de colaboradores qualificados, em busca de uma nova carreira, melhores condições de trabalho e qualidade de vida.

“[As demissões voluntárias] Não é um efeito que aconteceu só aqui no Brasil, primeiro ele foi identificado lá nos EUA — que foi um dos primeiros países a se vacinar, e, consequentemente, um dos primeiros a recuperar a sua economia”, disse o economista da LCA Consultores e responsável pela pesquisa, Bruno Imaizumi.

“Então, eles começaram a observar esses movimentos antes que nós”, acrescenta e destaca que no país norte-americano o “mercado de trabalho um pouco mais sólido, porque a economia deles é um pouco mais sólida que a nossa”.

O economista destaca que “a grande renúncia”, acontece de maneira diferente no Brasil, pois a maioria dos trabalhadores brasileiros não são qualificados como os dos EUA.

Afinal, o que explica a demissão voluntária no Brasil?

O desemprego em alta e as dificuldades dos trabalhadores em se recolocarem profissionalmente podem tornar estranho o movimento das demissões voluntárias no Brasil.

Imaizumi explica que dois fatores explicam esse efeito: a normalização do mercado de trabalho e as mudanças de pensamento em relação ao trabalho.

“As pessoas, durante a pandemia, foram dois anos de muita incerteza e bastante inflação incomodando o bolso dos brasileiros, então, muitas pessoas aceitaram empregos de menor qualificação e, consequentemente, remuneração, para pagar as contas, enfim, para ter uma fonte de rende em um período bastante incerto. Agora, com o cenário sanitário afetando cada vez menos o mercado de trabalho, as pessoas estão voltando a se ocupar em posições mais condizentes com suas habilidades”, pontuou sobre o primeiro movimento.

Sobre a forma de lidar com as relações empregatícias, as mudanças de pensamento geraram grande impacto.

“Então, se pegarmos março, que foi o recorde de desligamento para um único mês, foi o mês que muitas empresas voltaram para o esquema presencial ou híbrido e isso fez com que muitas pessoas se demitissem, começarem a repensar as relações de trabalho, a priorizar um pouco mais essa questão de não valer mais a pena pegar transito e se locomover até o trabalho e começaram a prezar por mais qualidade de vida, isso foi afetado, foi uma coisa intensificada pela pandemia, sobretudo nas pessoas mais jovens”, ressaltou.

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