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A gigante da Amazônia que fatura R$ 1 bi por ano com óleo de palma e não descarta IPO

05 out 2024, 9:00 - atualizado em 05 out 2024, 11:43
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Com 7 mil hectares destinados para agricultura familiar, empresa de palma quer expandir mais de 15 mil hectares no segmento na Amazônia (Foto: Divulgação)

No Estado do Pará, nas regiões amazônicas de Tome-Açu e Tailândia, está presente a Belem Bioenergia Brasil (BBB), empresa especializada na produção de óleo de palma, de palmiste e de seus correspondentes refinados (RBD).

A BBB conta com 45 mil hectares em sete municípios, segregados em 42 fazendas com plantios próprios e 568 parceiros. A empresa conta também com duas indústrias extratoras, uma no munícipio de Tailândia, com capacidade de processar 120 toneladas de cachos de fruto fresco (CFF) por hora, e outra em Tomé-Açú, com capacidade de 90 toneladas de CFF por hora. Fora isso, a empresa conta com uma planta de refino com capacidade de até 350 toneladas por dia.

“Nós surgimos em 2011, e hoje, 70% da nossa produção é destinada ao mercado de alimentos e 30% para o biodiesel. As produções de palma são em clima tropical, próximo a Linha do Equador, porque a planta precisa de uma grande quantidade de chuvas. A Bahia, por exemplo, produz palma, mas por estar longe da Linha do Equador, contam com uma taxa de extração de 10-11% por tonelada, enquanto aqui no Pará, temos 21%, o que trás viabilidade econômica”, diz Eduardo Júnior, CEO da companhia.

A empresa não conta com terras próprias, com 37 contratos de arrendamento de prazo de 25 anos + 5 anos. A BBB é a única empresa do Brasil com o certificado ativo de Princípios e Critérios da RSPO (Óleo de Palma Sustentável Certificado). 

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As características da palma e os cuidados de produzir na Amazônia

A palma, diferente da soja e milho, é uma cultura perene, levando quatro anos para produzir seus cachos, crescendo até o sétimo e oitavo ano, quando a produção se estabiliza.

“É uma cultura de longo prazo e de capital intensivo. Você investe e só terá o retorno entre o sétimo e oitavo ano, além de contar com uma mão-de-obra intensiva.  A planta precisa de 2000 horas de insolação e 2000 milímetros por ano de água. Fora isso, o óleo de palma é um dos mais produtivos do mundo, com um hectare produzindo seis ou sete vezes mais que a soja. Nós geramos cerca de 3500 empregos diretos e indiretos, a variar pela produção”, explica Júnior. 

Entre os principais clientes da empresa estão empresas como Cargill, JBS (JBSS3), Bunge, Agropalma e M. Dias Branco (MDIA3).

“A palma é essencialmente utilizada para a produção de biscoito, sorvete, macarrão e fritura de batatas, um ingrediente necessário para muitos alimentos. O óleo de palmiste, que é um subproduto da palma, é utilizado no mercado cosmético para fazer sabonete e cremes. Produzimos para quem está na ponta”, aponta. 

El Niño deve pesar sobre produção

A empresa tem sentido os impactos do fenômeno climático El Niño, que ocorreu no ano passado, na produção de 2024, pelo menor acumulado de chuvas.

Diferente da soja, a palma conta apenas com uma safra, com 40% da produção concentrada no primeiro semestre e 60% no segundo semestre, principalmente em setembro, outubro e novembro. A Belem Bionergia Brasil, que produz em média 170 mil toneladas de óleo de palma e palmiste, deve produzir 150 mil toneladas em 2024.

Faturamento bilionário, possível IPO e planos de expansão

Em 2023, a empresa encerrou o ano com faturamento de R$ 1 bilhão, Ebitda de R$ 220 milhões e uma margem em torno de 25%.

“É possível um IPO, mas não vejo nós avançando nesse sentido nos próximos 3 anos. Nossos acionistas já pensaram sobre essa possibilidade, mas não é algo que estamos mirando agora, até porque o mercado está ruim para abertura de capital. É um ano que estamos sofrendo muito com os preços das commodities e os efeitos do El Niño”, vê.

“Há muito pouco conhecimento da parte de gestores e investidores sobre a palma, já que a nossa aptidão é soja. Em 2022, apresentamos nosso case e houve muita surpresa quando descobriram que há essa produção no Pará. Além disso, há um problema de legislação, já que no Brasil uma empresa não pode adquirir e explorar terras, como é o caso do nosso arrendamento”, completa Júnior.

O gerente de sustentabilidade da BBB, Gilberto Cabral, reforça os cuidados na produção na Amazônia, assim como a preservação do bioma, que envolve reserva legal, bacias hidrográficas e cultura local.

“Somos produtivos e damos lucro sendo sustentáveis. Queremos expandir via agricultura familiar, sendo que já temos 7 mil hectares para crescer em agricultura familiar e uma autorização para crescer 15 mil hectares neste segmento, totalizando 60 mil hectares. Nós vemos na prática como a palma mudou a vida desses produtores, com reforma de casas, novos equipamentos, veículos e famílias mandando seus filhos estudarem em Belém. Nossa decisão de crescer via agricultura familiar ajuda a mudar a vida das pessoas”, diz.

‘Competir no mercado internacional de palma é impossível’

Os maiores produtores mundiais são Malásia e Indonésia, que juntos respondem por 85% da produção mundial de óleo de palma. A produção brasileira, de 500 mil toneladas ao ano, responde por menos de 1% do total global, sendo que o país importa outras 300 mil toneladas para atender sua demanda interna.

“É impossível competir no mercado internacional. Entre os desafios para produzir, está o investimento de médio-longo prazo, juros altos e o crescimento da safra de soja. A soja avançou e bateu recorde e, com o fim da disponibilidade de terras no Centro-Oeste e Sudeste, os produtores migram para cá, o que eleva muito o custo da terra e torna ainda mais difícil a viabilidade econômica”, comenta o CEO.

Além dessas questões, o CEO ressalta a falta de políticas públicas para palma e os problemas de logísticos, de crédito e fundiários.

“Na Indonésia e Malásia, 50% da produção vem de agricultura familiar, com políticas públicas presentes. Se tivéssemos uma política pública por aqui, a gente teria uma política pública que atenderia o mercado nacional e uma cultura que realmente gera renda para agricultores familiares, o que iria também ajudar no combate do desmatamento”.

*O jornalista viajou ao Pará a convite da Fundação Dom Cabral

Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024, ficou entre os 80 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
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