A gigante da Amazônia que fatura R$ 1 bi por ano com óleo de palma e não descarta IPO
No Estado do Pará, nas regiões amazônicas de Tome-Açu e Tailândia, está presente a Belem Bioenergia Brasil (BBB), empresa especializada na produção de óleo de palma, de palmiste e de seus correspondentes refinados (RBD).
A BBB conta com 45 mil hectares em sete municípios, segregados em 42 fazendas com plantios próprios e 568 parceiros. A empresa conta também com duas indústrias extratoras, uma no munícipio de Tailândia, com capacidade de processar 120 toneladas de cachos de fruto fresco (CFF) por hora, e outra em Tomé-Açú, com capacidade de 90 toneladas de CFF por hora. Fora isso, a empresa conta com uma planta de refino com capacidade de até 350 toneladas por dia.
“Nós surgimos em 2011, e hoje, 70% da nossa produção é destinada ao mercado de alimentos e 30% para o biodiesel. As produções de palma são em clima tropical, próximo a Linha do Equador, porque a planta precisa de uma grande quantidade de chuvas. A Bahia, por exemplo, produz palma, mas por estar longe da Linha do Equador, contam com uma taxa de extração de 10-11% por tonelada, enquanto aqui no Pará, temos 21%, o que trás viabilidade econômica”, diz Eduardo Júnior, CEO da companhia.
A empresa não conta com terras próprias, com 37 contratos de arrendamento de prazo de 25 anos + 5 anos. A BBB é a única empresa do Brasil com o certificado ativo de Princípios e Critérios da RSPO (Óleo de Palma Sustentável Certificado).
As características da palma e os cuidados de produzir na Amazônia
A palma, diferente da soja e milho, é uma cultura perene, levando quatro anos para produzir seus cachos, crescendo até o sétimo e oitavo ano, quando a produção se estabiliza.
“É uma cultura de longo prazo e de capital intensivo. Você investe e só terá o retorno entre o sétimo e oitavo ano, além de contar com uma mão-de-obra intensiva. A planta precisa de 2000 horas de insolação e 2000 milímetros por ano de água. Fora isso, o óleo de palma é um dos mais produtivos do mundo, com um hectare produzindo seis ou sete vezes mais que a soja. Nós geramos cerca de 3500 empregos diretos e indiretos, a variar pela produção”, explica Júnior.
Entre os principais clientes da empresa estão empresas como Cargill, JBS (JBSS3), Bunge, Agropalma e M. Dias Branco (MDIA3).
“A palma é essencialmente utilizada para a produção de biscoito, sorvete, macarrão e fritura de batatas, um ingrediente necessário para muitos alimentos. O óleo de palmiste, que é um subproduto da palma, é utilizado no mercado cosmético para fazer sabonete e cremes. Produzimos para quem está na ponta”, aponta.
El Niño deve pesar sobre produção
A empresa tem sentido os impactos do fenômeno climático El Niño, que ocorreu no ano passado, na produção de 2024, pelo menor acumulado de chuvas.
Diferente da soja, a palma conta apenas com uma safra, com 40% da produção concentrada no primeiro semestre e 60% no segundo semestre, principalmente em setembro, outubro e novembro. A Belem Bionergia Brasil, que produz em média 170 mil toneladas de óleo de palma e palmiste, deve produzir 150 mil toneladas em 2024.
Faturamento bilionário, possível IPO e planos de expansão
Em 2023, a empresa encerrou o ano com faturamento de R$ 1 bilhão, Ebitda de R$ 220 milhões e uma margem em torno de 25%.
“É possível um IPO, mas não vejo nós avançando nesse sentido nos próximos 3 anos. Nossos acionistas já pensaram sobre essa possibilidade, mas não é algo que estamos mirando agora, até porque o mercado está ruim para abertura de capital. É um ano que estamos sofrendo muito com os preços das commodities e os efeitos do El Niño”, vê.
“Há muito pouco conhecimento da parte de gestores e investidores sobre a palma, já que a nossa aptidão é soja. Em 2022, apresentamos nosso case e houve muita surpresa quando descobriram que há essa produção no Pará. Além disso, há um problema de legislação, já que no Brasil uma empresa não pode adquirir e explorar terras, como é o caso do nosso arrendamento”, completa Júnior.
O gerente de sustentabilidade da BBB, Gilberto Cabral, reforça os cuidados na produção na Amazônia, assim como a preservação do bioma, que envolve reserva legal, bacias hidrográficas e cultura local.
“Somos produtivos e damos lucro sendo sustentáveis. Queremos expandir via agricultura familiar, sendo que já temos 7 mil hectares para crescer em agricultura familiar e uma autorização para crescer 15 mil hectares neste segmento, totalizando 60 mil hectares. Nós vemos na prática como a palma mudou a vida desses produtores, com reforma de casas, novos equipamentos, veículos e famílias mandando seus filhos estudarem em Belém. Nossa decisão de crescer via agricultura familiar ajuda a mudar a vida das pessoas”, diz.
‘Competir no mercado internacional de palma é impossível’
Os maiores produtores mundiais são Malásia e Indonésia, que juntos respondem por 85% da produção mundial de óleo de palma. A produção brasileira, de 500 mil toneladas ao ano, responde por menos de 1% do total global, sendo que o país importa outras 300 mil toneladas para atender sua demanda interna.
“É impossível competir no mercado internacional. Entre os desafios para produzir, está o investimento de médio-longo prazo, juros altos e o crescimento da safra de soja. A soja avançou e bateu recorde e, com o fim da disponibilidade de terras no Centro-Oeste e Sudeste, os produtores migram para cá, o que eleva muito o custo da terra e torna ainda mais difícil a viabilidade econômica”, comenta o CEO.
Além dessas questões, o CEO ressalta a falta de políticas públicas para palma e os problemas de logísticos, de crédito e fundiários.
“Na Indonésia e Malásia, 50% da produção vem de agricultura familiar, com políticas públicas presentes. Se tivéssemos uma política pública por aqui, a gente teria uma política pública que atenderia o mercado nacional e uma cultura que realmente gera renda para agricultores familiares, o que iria também ajudar no combate do desmatamento”.
*O jornalista viajou ao Pará a convite da Fundação Dom Cabral