A gasolina vai continuar subindo em 2022?
A alta dos combustíveis esteve entre os principais responsáveis pela disparada da inflação em 2021. No acumulado de 12 meses até novembro, o IPCA ficou em 10,74% – o maior dos últimos 18 anos. Mesmo após a redução da gasolina de 3% na semana passada, o combustível ainda acumula uma alta de 68,63% neste ano nas refinarias da Petrobras (PETR3; PETR4).
Nas refinarias, o combustível começou o ano vendido a R$ 1,98 e terminou a R$ 3,09. No entanto, o preço médio na bomba é de R$ 6,72, segundo dados da ANP. Em alguns lugares, ele já custa R$ 7,96.
Por tudo isso, a pergunta inevitável é se os combustíveis continuarão incinerando o bolso dos brasileiros em 2022. Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, os preços tendem a ficar entre leve alta ou estabilidade no ano que vem.
“O preço do combustível vai subir em 2022, mas de uma forma mais moderada. O preço da gasolina deve ficar entre R$ 7 ou R$ 8 por litro para o consumidor no próximo ano”, diz Vale.
O ponto é que “alta moderada” é um termo relativo. Comparado ao reajuste de quase 70% nos últimos 12 meses, de fato, o ritmo será menor. Mas, em termos absolutos, o patamar estimado pelo economista ainda significa uma alta de mais de 20% no ano que vem, bem acima dos cerca de 5% de inflação geral que o mercado projeta para 2022.
Por que a gasolina vai ficar mais cara?
A atual política de preço da Petrobras acompanha a cotação do barril de petróleo no mercado internacional, ou seja, quando o preço do petróleo subir, o valor da gasolina deverá acompanhá-lo, e vice-versa. Um segundo item é o dólar. Quanto mais cara a moeda americana em relação ao real, mais caro será o combustível, pois o barril de petróleo é cotado em dólar.
Sendo assim, em um cenário de alta do dólar e alta do petróleo, a tendência é da gasolina disparar. Então, como ficarão o barril e câmbio nos próximos meses?
Petróleo em 2022
Desde o dia 4 de janeiro, o preço do barril do petróleo Brent disparou 69%, quase a mesma proporção que a gasolina nas refinarias. Para economistas e analistas, como Sergio Vale, a pressão sobre o petróleo tende a continuar em 2022.
“O preço do petróleo vai continuar pressionado no próximo ano, pois a demanda ainda está em recuperação, e a oferta enfrenta dificuldades, por causa da diminuição de investimentos na commodity por motivos ambientais”, afirma Vale.
Já Alan Gandelman, CEO da Planner, estima que a demanda por petróleo deve continuar no próximo ano, mesmo após pressão de países desenvolvidos sobre a Opep e do surgimento da variante Ômicron terem levado o óleo para baixo no começo de dezembro.
“Os EUA aumentaram a disponibilidade de petróleo no mercado para jogar o preço para baixo”, diz. “No curto prazo funcionou, mas os membros da Opep deixaram claro que não vão ceder e vão manter a mesma produção, e como o próximo ano ainda é de retomada, o petróleo vai seguir pressionado”, explica Gandelman.
Vale, da MB Associados, também acredita que a pressão dos países desenvolvidos não fará o petróleo recuar. Por outro lado, o especialista observa que a commodity não vai subir como em 2021, e calcula que ela vai ficar nos patamares atuais.
“O petróleo vai ficar alto, mas não tão alto, pois o petróleo muito alto incentiva a produção dos concorrentes da Opep, então, me parece que ela quer continuar com esse patamar atual de petróleo, entre US$ 70 e US$ 80, para não ter ninguém incomodando, pois, se passar desse valor, fica muito atrativo para os concorrentes”, diz.
Essa também é a perspectiva do BTG Pactual. Em relatório assinado por Pedro Soares, Thiago Duarte e Daniel Guardiola, o banco tem a expectativa de que o barril de petróleo custe em torno de US$ 76 em 2022.
Como vai ficar o dólar?
O dólar, segundo fator que pesa sobre o preço dos combustíveis, também não dará trégua. Os analistas afirmam que o dólar vai permanecer nos patamares atuais ao longo de 2022, embora o real tende a sofrer com forte volatilidade por causa das eleições.
De acordo com Vale, da MB, as expectativas não são boas, pois, para uma melhora no câmbio, seria necessário um grande zelo fiscal do governo com as contas públicas, o que não aconteceu em 2021 – muito pelo contrário, aliás.
“Houve uma piora fiscal, com o governo furando o teto dos gastos com a PEC dos Precatórios. Então, com esse governo não tem como melhorar; as coisas podem piorar”, diz.
Vale acrescenta que a situação ficaria pior com um novo orçamento, por exemplo, que libere mais emendas parlamentares, ou criando novos canais de gastos para tentar puxar, na marra, o crescimento econômico no próximo ano.
“Então, esse temor vai continuar assustando o mercado e vai continuar pressionando o câmbio, pois esse governo não tem uma postura política para jogar o dólar para baixo”, conclui. Mesmo com esse pessimismo, o economista avalia que a moeda americana dificilmente chegaria a R$ 6,00 em 2022.
O Gandelman, da Planner, também aposta que a moeda deve permanecer dentro dos patamares atuais. Segundo ele, a moeda americana está cara, tendo em vista que os juros estão nas alturas, e o câmbio ainda não cedeu.
“A única coisa que traria um alivio para o dólar seria um avanço de um candidato da terceira via nas pesquisas. Se isso não acontecer, a moeda vai ficar variando entre R$ 5,50 e R$ 5,70 em 2022”, estima.
Bolsonaro vai interferir na Petrobras para baixar o preço?
A avaliação geral é de que, provavelmente, o presidente Jair Bolsonaro não vai interferir na Petrobras para baixar o preço da gasolina.
De acordo com Vale, o presidente vai querer se distanciar do espectro político de Lula durante a campanha eleitoral. Sendo assim, uma interferência de Bolsonaro na petroleira para diminuir o preço da gasolina seria muito difícil, para que a pecha de “estatista” e “intervencionista” recaia sobre o petista.
“É mais fácil ele pressionar para baixar o ICMS e outras coisas, do que praticar uma política totalmente petista. Outro ponto é que Bolsonaro já chegou no limite no começo do ano, ao trocar o presidente da companhia, mais que isso, eu acho que é algo que ele não faria”, detalha o economista da MB.
Na mesma linha, o BTG Pactual comenta, em relatório recente, que a companhia sofreu muita pressão política para baixar os combustíveis, mas não sofreu nenhuma interferência direta até o momento.
“A empresa vai continuar a suportar essa pressão sobre o aumento dos preços dos combustíveis no Brasil, principalmente após anunciar pagamentos robustos de dividendos para os acionistas”, explicam Soares, Duarte e Guardiola.
Como a gasolina pode ficar mais barata?
Segundo Sérgio Massillom, diretor institucional da Brasilcom (Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis), além da fórmula populista de baixar os preços por meio de uma intervenção no mercado, o caminho para baratear os combustíveis passa pela queda do dólar, com a melhora da economia e uma redução de impostos.
“No curto prazo, uma medida emergencial seria a eliminação da tarifa de importação do etanol anidro, durante a entressafra de produção”, diz Massillom em nota enviada ao Money Times.
Ele comenta ainda que o ideal é um mercado livre e com concorrência leal. O diretor da Brasilcom não acredita em medidas artificiais ou populistas como respostas à situação.