A Flórida é logo ali: AHS brilha e mostra mercado promissor para a MRV nos EUA
O segundo trimestre da MRV (MRVE3) poderia ter sido pior, não fosse a sua subsidiária nos Estados Unidos, a AHS. Analistas elogiaram o desempenho da companhia, que vendeu dois empreendimentos, o Lago Osborne e o Lago Mangonia, com um VGV (valor geral de venda) de R$ 393 milhões, e aumentou a lucratividade do período em R$ 69,1 milhões (antes dos impostos).
Além disso, o braço americano da MRV lançou mais dois projetos com VGV estimado de R$ 571 milhões e continua avançando com seu plano de expansão geográfica nos EUA. Antes restrita à Flórida, agora a empresa quer desbravar o oeste americano, com a entrada em estados como Texas, além de Atlanta.
“A operação da MRV nos Estados Unidos foi o principal destaque do trimestre, respondendo por 8,3% da receita líquida”, aponta o analista José Cataldo, da Ágora Investimentos.
Segundo ele, a subsidiária é um dos principais pilares para manter a visão positiva sobre a construtora. A leitura é reiterada pelo Bank of America, que após incorporar a AHS às estimativas, recomendou a compra dos papéis.
Inflação joga terra na MRV
O fantasma da inflação voltou a perturbar a vida econômica do país. E não só no caso de alimentos que os preços estão disparando: insumos de construção, como aço e concreto, também subiram forte.
Essa escalada foi o principal vilão das construtoras no segundo trimestre, e a MRV não foge à regra. A margem bruta caiu para 27,4%, recuo de 2,6 pontos percentuais ante o primeiro trimestre, 1,1 ponto abaixo do esperado pelo consenso.
De acordo com o BTG Pactual, esses custos pesaram e foram maiores do que o projetado.
Para tentar vencer esse entrave, a companhia está implementando alternativas, como o emprego de fibra de vidro em pequenas estruturas e o uso do dry-wall, método construtivo considerado mais barato, nas paredes internas de algumas unidades.
Adicionalmente, a empresa tem antecipado a compra para estocar parte dos materiais. Com isso, barateia os preços e evita interrupções de fornecimento.
Por fim, a MRV pretende passar para o consumidor parte dessa alta. No entanto, o BTG argumenta que as margens devem continuar pressionadas por um tempo.
Para o analista Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, no segundo semestre é possível que não ocorram grandes aumentos de preço nas suas matérias-primas, contudo, as cifras dos insumos devem se manter estável em patamares elevados, exigindo um cuidado maior na gestão de custos dos novos empreendimentos.
Ele também lembra que a MRV tem grande participação na modalidade de repasse na planta, o que provoca exposição maior de seu caixa em relação à pressão de custos enfrentadas pelo setor, “visto que após o repasse não há mais atualização do valor de repasse do banco pelo INCC e as unidades se encontram em fase inicial de construção, estágio no qual há maior consumo de aço e cimento”.
Outro lado negativo da inflação para o setor imobiliário é a alta da Selic (taxa básica de juros), que pode “encarecer” a contratação de crédito imobiliário. Inúmeros bancos já elevaram a taxa para esses empréstimos.
Contudo, as taxas ainda se encontram muito próximas às mínimas históricas, lembra a Ativa.
“Acreditamos na continuidade das taxas em níveis muito confortáveis para as incorporadoras, visto que os grandes bancos, enfrentando cada vez mais competição dos bancos digitais, tendem a encarar o financiamento imobiliário como forma de fidelizar clientes e vender seus produtos”, completa.
A força da diversificação
Na visão do BB Investimentos, a empresa tem feito a lição de casa quando o assunto é diversificar, não ficando preso somente a um segmento, como o programa do Governo Federal Casa Verde e Amarela.
“A companhia vem mostrando boa performance de vendas no último ano, confirmando a acertada estratégia de diversificação de produtos e funding”, argumenta.
Visão reforçada pela Ativa, que acrescenta que a continuidade da diversificação de sua plataforma habitacional, diminuindo a participação de imóveis dentro do programa do governo, permitirá maiores repasses de preço nos próximos trimestres.
Outro aspecto favorável para a conta da MRV é seu grande banco de terrenos, o que se traduz em expressivo volume de lançamentos sem necessidade de aquisições.
“Isso é positivo dado que o aumento no preço dos terrenos nos últimos períodos devido ao aquecimento do setor poderia minar a rentabilidade de novos lançamentos”, afirma Arbetman.
No trimestre, os lançamentos aumentaram 5,4% e atingiram R$ 2,4 bilhões em VGV (valor geral de vendas), marcando o maior volume de lançamentos da história da MRV.
O que esperar das ações?
No ano, os papéis da construtora acumulam queda de 26%, reflexo das incertezas quanto à recuperação econômica aliadas ao aumento da taxa básica de juros, já implementado por alguns bancos, cujos impactos no setor de construção são relevantes.
“Acreditamos que a companhia manterá o ganho de participação de mercado que obteve ao longo de 2020, além de continuar sua estratégia de diversificação de produtos que vem se provando bem-sucedida”, diz o BB.
Segundo o Safra, a companhia tem a vantagem de atuar tanto no segmento de baixa renda quanto no de média e alta renda.
“A MRV é um porto seguro para investir no setor de construção de casas em todos os segmentos”, completa.
A Ágora enxerga um desconto excessivo para as ações da empresa, com um preço sobre o lucro de 6,8x e 7,4x para 2021 e 2022, respectivamente.
Veja as recomendações:
Corretora | Recomendação | Preço-alvo (R$) |
---|---|---|
Ágora | Compra | 28 |
Safra | Compra | 22,9 |
BB Investimentos | Compra | 22,3 |
Bank of America | Compra | 26,5 |
Ativa | Neutra | 19,8 |