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A evolução das cadeias de valor no agronegócio

25 ago 2024, 12:00 - atualizado em 23 ago 2024, 9:43
reforma tributária agronegocio
Projeções mais recentes sinalizam que o PIB do agronegócio brasileiro deve alcançar R$ 2,45 trilhões em 2024. (Foto: Fabiano Bastos)

O agronegócio compreende uma grande diversidade de segmentos de atuação e elos na cadeia de valor, e uma análise aprofundada sobre sua dinâmica, evolução e impactos é essencial para o direcionamento de políticas públicas e investimentos no setor.

Projeções mais recentes do Cepea/Esalq/USP-CNA sinalizam que o PIB do agronegócio brasileiro deve alcançar R$ 2,45 trilhões em 2024, uma queda real de 8,5% em relação a 2023, passando a representar 21,5% do valor bruto gerado no país neste ano.

O PIB do agronegócio é segmentado nos ramos agrícola (R$ 1,65 trilhões) e pecuário (R$ 800 bilhões), e também por elos da cadeia de valor: insumos (R$ 123 bilhões), agropecuária primária (R$ 646 bilhões), agroindústria (R$ 591 bilhões) e agrosserviços (R$ 1,09 trilhões), a valores projetados para 2024.

No segmento de insumos, projeta-se uma retração real de 18,2% neste ano, afetada pela queda de preços de fertilizantes (-26,1%), em função da normalização de exportações pela Rússia, após a crise de abastecimento deflagrada com a guerra na Ucrânia.

Projeta-se também uma queda de preços de defensivos de 18,0%, fruto de acúmulo de estoques no período de valorização do real frente ao dólar. Máquinas agrícolas devem sofrer uma queda de volume de 25,0%, frente às elevadas taxas de financiamento que ainda persistem e dificultam a sua aquisição.

No segmento primário, projeta-se queda de 13,0%, pela redução de preços das principais commodities: algodão (-22,1%), café (-9,4%), milho (-21,0%), soja (-30,0%) e trigo (-26,8%), em combinação com queda de produção de importantes culturas, como milho (-15,4%) e soja (-4,5%), frente a reduções de área de plantio e adversidades climáticas (incluindo impactos das enchentes no Rio Grande do Sul).

No segmento agroindustrial (com projeção de queda de 5,1%), também há impacto de preços mais baixos nas indústrias de óleo vegetal (-26,8%), biocombustíveis (-25,5%) e celulose e papel (-11,8%), apesar do aumento da produção industrial e a redução dos custos com insumos. Por outro lado, espera-se sustentação da indústria pecuária, com aumento na produção de carnes e pescados (+14,8%) e couro e calçados (+4,9%).

Em serviços, espera-se uma retração na agricultura (-4,0%), em função da queda de volume de produção em culturas como soja, milho e cana-de-açúcar, que se traduzem em menor demanda por transporte, armazenagem, comércio e serviços adjacentes. Por sua vez, o crescimento esperado de 3,9% na pecuária reflete o movimento de aumento de produção nos elos de insumos, primário e industrial.

Em um cenário desafiador como este, ganhos de produtividade são essenciais para a preservação de rentabilidade dos produtores e agentes na cadeia, assim como a continuidade de investimentos na modernização dos processos.

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Como evidência do potencial de evolução da produtividade agrícola no Brasil, vale mencionar a progressão da produtividade total dos fatores (PTF), que representa a relação entre as taxas de crescimento do produto total e dos insumos, que é calculada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Entre 1975 e 2020, a PTF cresceu 400% (melhoria de 3,3% ao ano, contra uma média global inferior a 2% ao ano), principalmente em função de avanços em ciência e tecnologia, como adoção e modernização de maquinário e equipamentos, e o desenvolvimento de insumos (fertilizantes, sementes e defensivos).

Ilustrando o peso relativo dos fatores, para um crescimento de 100% no valor bruto da produção entre 1995 e 2017, a participação da tecnologia subiu de 50% para pouco mais de 60%. No mesmo período, a do fator trabalho diminuiu de 31% para menos de 20%, enquanto a do fator terra ficou estável, em torno de 20%.

Como impulsionador do desenvolvimento do agronegócio, o Plano Safra 2024/2025 elaborado pelo Governo Federal contemplou R$ 400,6 bilhões em financiamentos para a agricultura empresarial, sendo R$ 293,3 bilhões para custeio e comercialização (aumento de 8% sobre o ciclo anterior), e R$ 107,3 bilhões para investimentos (incremento de 16,5%). Para a agricultura familiar e pequenos produtores, foram destinados R$ 85,7 bilhões, sendo R$ 76 bilhões destes via Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), 6,2% acima da safra anterior.

Assim, espera-se uma revitalização estrutural do setor com maiores recursos para custeio e investimento, mesmo diante de um cenário de adversidade recente.

Soluções de impacto em biotecnologia (ex.: nanotecnologia, edição de genes, proteína sintética e agricultura celular), automação (ex.: robótica, drones) e análise avançada de dados (ex.: IA, machine learning) devem contribuir para racionalizar insumos, elevar produtividade, reduzir riscos de pragas e eventos climáticos ou desastres naturais. Na agenda de desenvolvimento, estes são aliados essenciais na busca por maior crescimento e rentabilidade nos diversos elos da cadeia de valor do agronegócio.

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Edson Kawabata é sócio-diretor de novos negócios da Peers Consulting & Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e eficiência operacional. Nos últimos 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP e MBA pela Cornell University.
edson.kawabata@moneytimes.com.br
Edson Kawabata é sócio-diretor de novos negócios da Peers Consulting & Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e eficiência operacional. Nos últimos 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP e MBA pela Cornell University.
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