A era do open source

Na minha última coluna, falei sobre como o modelo SaaS está evoluindo com a integração da Inteligência Artificial (IA). Esse avanço reforça tendências que já vinham ganhando potência no mercado, como o open source – um modelo de desenvolvimento baseado na transparência e na colaboração, onde qualquer pessoa pode acessar, modificar e aprimorar um código.
Essa liberdade não só eleva a qualidade do software, como também reduz vulnerabilidades ocultas, tornando as soluções mais seguras e eficientes.
Mas o open source vai muito além da programação. Ele é um movimento, uma filosofia que defende o compartilhamento do conhecimento, a inovação coletiva e o acesso democrático à tecnologia. Quando mentes de diferentes partes do mundo trabalham juntas, o progresso acelera e surgem soluções que dificilmente seriam criadas dentro de equipes fechadas.
Outro ponto fundamental do código aberto é a transparência. Qualquer pessoa pode analisar como o software funciona, sugerir melhorias ou adaptá-lo às suas necessidades. Isso gera mais confiança e também abre caminho para que novos desenvolvedores aprendam na prática, contribuam para projetos reais e cresçam dentro de uma comunidade acolhedora.
Um pouco da história do open source
A ideia de compartilhar conhecimento livremente é antiga, presente desde as primeiras comunidades científicas. No mundo da computação, essa mentalidade ganhou força com o movimento do software livre, que defendia que os usuários deveriam ter total controle sobre os programas que utilizam.
O termo open source surgiu em 1998, criado por Christine Peterson, cientista e futurista americana e foi promovido pela Open Source Initiative (OSI), organização liderada por Bruce Perens e Eric S. Raymond (que mais tarde foi precursor da origem o código do Mozilla Firefox, empresa open source). A intenção era tornar o conceito mais atraente para empresas, afastando a imagem radical associada ao movimento.
Por volta dessa época, o mercado começou a perceber o valor do código aberto. A Red Hat, por exemplo, foi uma das primeiras empresas a oferecer suporte empresarial para o Linux e se tornou referência no setor. Já nos anos 2000, gigantes como IBM, Google e Sun Microsystems passaram a investir pesado em projetos open source.
Com o tempo, o código aberto se tornou o padrão da inovação tecnológica. Tecnologias como Git, Docker, Kubernetes e TensorFlow ajudaram a transformar áreas como inteligência artificial, computação em nuvem e desenvolvimento web. Linguagens como Python e JavaScript cresceram dentro desse ecossistema colaborativo, impulsionando novos avanços.
Hoje, empresas como Google, Facebook, Amazon e Microsoft não apenas utilizam software open source, mas também contribuem ativamente para ele. O lançamento do Android, em 2008, consolidou o Linux como parte do dia a dia de bilhões de pessoas. Plataformas como GitHub reúnem milhões de desenvolvedores, que colaboram em projetos de impacto global. E o código aberto continua a desempenhar um papel fundamental em áreas como ciência, governo e educação, moldando o futuro da tecnologia.
Quem transforma a indústria
IBM & Red Hat
Em 2012, a Red Hat entrou para a história como a primeira empresa de código aberto a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão em receita anual. Já em 2018, a IBM fez um movimento ousado e adquiriu a Red Hat por US$ 34 bilhões, a maior compra de sua história e a maior negociação já realizada no mundo do software open source.
A IBM vinha enfrentando desafios para se reinventar, especialmente com o domínio crescente das gigantes da nuvem como AWS e Azure. Enquanto isso, a Red Hat já era referência global em Linux e computação em nuvem híbrida, oferecendo soluções que permitiam rodar aplicações tanto em servidores próprios quanto na nuvem.
Com essa aquisição, a IBM apostou alto no mercado de cloud híbrida, buscando se posicionar como uma alternativa forte às líderes do setor e reforçando o papel do código aberto na inovação tecnológica. Os números de open source dessas duas gigantes impressionam: são mais de 2900 repositórios no Github e 20.000 versionamentos por mês.
GitHub
Antes do GitHub, os projetos open source eram gerenciados de forma descentralizada, usando plataformas como SourceForge e Google Code. Mas tudo mudou em 2008, quando o GitHub foi lançado, combinando o poder do Git com uma interface intuitiva e colaborativa baseada na web.
O impacto foi enorme: hoje, mais de 100 milhões de desenvolvedores usam o GitHub, tornando a plataforma essencial para o desenvolvimento de software open source. Empresas, governos e programadores do mundo todo contribuem para projetos que vão desde pequenas bibliotecas até sistemas operacionais complexos.
O GitHub se tornou tão relevante que, em 2018, a Microsoft o adquiriu, reforçando seu compromisso com o ecossistema open source. Apesar de alguns receios iniciais, a plataforma continua sendo um dos principais pilares do desenvolvimento colaborativo na era digital.
MongoDB
A MongoDB, Inc. desenvolve o MongoDB, um banco de dados NoSQL open source que tem sido amplamente adotado por empresas devido à sua escalabilidade e flexibilidade. Embora o MongoDB seja open source, a empresa oferece uma versão comercial com funcionalidades adicionais, como suporte avançado, ferramentas de gerenciamento e integrações em nuvem.
Esse modelo “open core” ajudou a MongoDB a se tornar uma das empresas mais bem-sucedidas no setor de bancos de dados, além de ter aberto seu capital na bolsa de valores (NASDAQ) em 2017.
A exemplo da MongoDB e Redhat, existem inúmeras formas de monetizar o desenvolvimento open source, tópico que irei abordar no próximo artigo da minha coluna por aqui!