A era dos criptoativos soberanos chegou
Espera-se que a China, a superpotência asiática, seja a primeira, impulsionada por motivos políticos de destronar o dólar na economia global e apertar as rédeas sobre seu sistema financeiro.
Mas antes de a China conseguir aplicar seu yuan digital, várias nações menores e mais ágeis dispararam na frente para lançar suas próprias criptomoedas: Tunísia, as Ilhas Marshall e algumas outras pequenas jurisdições estão servindo de casos de teste para regiões atrasadas, como a União Europeia, que está fazendo pesquisas para preparar o lançamento de ativos digitalizados.
A corrida de cavalos
Semana passada, Tunísia, um pequeno país norte-africano, anunciou que E-dinar, a versão digital de sua moeda dinar, entrou em fase de teste e em breve será usada para pagamentos em milhares de lojas, cafeterias e restaurantes por todo o país.
O projeto é apoiado pela Universa, startup de ofertas iniciais de moeda (ICO) russa. Dizem que foi criada com o objetivo de reduzir a dependência da Tunísia no dólar norte-americano para pagamentos internacionais, além de reduzir custo e fornecer proteção contra falsificação:
“Cédulas digitais não podem ser falsificadas”, afirma o CEO da Universa Alexander Borodich.
“Cada cédula é protegida pela criptografia, assim como a sua contraparte física tem uma marca d’água digital. Além disso, a produção de uma cédula desse tipo é cem vezes mais barata, pois não gasta tinta, papel e eletricidade no processo de impressão.”
Apesar de a Tunísia dizer ser a primeira, outras nações menores estão na cola dela.
Recentemente, as Ilhas Marshall, que ficam entre o Havaí e as Filipinas, anunciaram a pré-venda do Marshallese Sovereign. Esse criptoativo baseado em blockchain vai ser o primeiro curso forçado oficial do país, ou seja, não vai mais depender do dólar americano.
Outras nações menores, incluindo as ilhas do Caribe de St. Kitts e Nevis, estão planejando uma moeda digital emitida por banco central (CBDC) emitida por blockchain dentro da União Monetária do Caribe Oriental (ECCU).
Mas esses experimentos menores estão ocultados por conta do yuan digital chinês, que promete ser a primeira criptomoeda usada em grande escala.
Apesar do lançamento do yuan digital não ser neste mês, de acordo com os rumores, a China reforçou o recrutamento de especialista em blockchain e acredita-se que o projeto esteja nas etapas finais.
O vice-diretor do Banco do Povo da China, Mu Changchun, disse, recentemente, que a moeda vai catalisar uma “corrida de cavalos” de bancos e empresas competindo para fornecer o melhor serviço utilizando o novo dinheiro.
A resposta das superpotências ocidentais
Atrás das primeiras, as superpotências econômicas ocidentais na Europa e na América do Norte entraram na corrida e deram sinais de que pretendem criar versões digitais de suas próprias moedas soberanas.
Semana passada, a Associação de Bancos Alemães publicou um documento, falando sobre o desenvolvimento de um euro digital “programável” que poderia fazer parte da subjacente plataforma de pagamentos pan-europeia.
Isso poderia oferecer transações mais rápidas e a capacidade de automatizar operações com contratos inteligentes.
“A Europa precisa acompanhar a competição para que a arquitetura financeira global não crie uma polarização entre soluções americanas ou chinesas”, afirma o documento.
O Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), que age como um banco central para bancos centrais, entrou na briga, escolhendo o antigo membro do Banco Central Europeu (BCE) Benoît Cœuré para comandar um novo grupo para a criação de criptoativos.
Existem outros acontecimentos parecidos em todo lugar. No fim de setembro, várias autoridades importantes defenderam um dólar digital e membros do Congresso americano escreveram para Jerome Powell, presidente da Fed, para falarem sobre suas preocupações a respeito do dólar em papel estar em “risco a longo prazo da ampla adesão de fiduciárias digitais”.
Entre as superpotências econômicas e os pioneiros, vários outros países ocidentais estão realizando pesquisas e criando protótipos.
Rússia, Canadá e o Reino Unido já publicaram documentos falando sobre a viabilidade de fiduciárias digitais. Hong Kong e Tailândia anunciaram, recentemente, seus planos em lançar um relatório sobre casos de uso de criptoativos no primeiro trimestre de 2020.
Mas enquanto esses criptoativos sejam superficialmente baseados em tecnologia de blockchain, eles possuem poucas características em comum com o bitcoin, e os críticos argumentam que irão apresentar as mesmas falhas das moedas fiduciárias: inflação, depreciação e instabilidade.
Outros, como Andrew Gillick da Brave New Coin, têm uma visão diferente: a adesão de criptoativos soberanos vai criar uma sociedade sem dinheiro e resultar em um tipo de “capitalismo de vigilância”, que denota a grande importância dos verdadeiros criptoativos descentralizados e das moedas privadas.