Opinião

A entrevista de Gary Cohn e a possibilidade de melt up nas bolsas globais

18 mar 2019, 16:00 - atualizado em 18 mar 2019, 16:00

Por Marink Martins, do MyVOL e autor da newsletter Global Pass

Um dos eventos mais marcantes desta semana foi a entrevista concedida por Gary Cohn ao famoso podcast, Freakonomics.

Para quem não o conhece, Gary Cohn atuou por 27 anos no Banco Goldman Sachs; sendo que nos últimos 10 anos como Chief Operating Officer. Em 2017, Cohn aceitou o convite de Donald Trump para atuar na posição de National Economic Council. Seu foco na ocasião fora a reforma tributária americana que reduziu os impostos corporativos de 35% para 21%.

Este especialista indica qual é o grupo de ações que se beneficia da MegaOnda de valorização que vai atingir os mercados…

Um democrata de carteirinha, sua passagem pelo setor executivo foi definitivamente interessante. Antes mesmo de se tornar assessor da Casa Branca, Gary Cohn já era conhecido de muitos dos leitores do aclamado autor Malcoln Gladwell que fez uso de sua biografia em seu livro Davi & Golias.

Cohn cresceu disléxico e por isso, fora um péssimo aluno, fadado ao fracasso. Entretanto, Gladwell nos conta em seu livro que uma carona com um executivo do Golman Sachs em que Cohn buscou se passar como um especialista em derivativos abriu espaço para uma entrevista no já conhecido banco. Em duas semanas, mesmo tendo que fazer um esforço colossal para superar sua dislexia, Cohn se dedicou aos estudos e chegou na entrevista um expert no assunto. Conseguiu o emprego no banco e por lá ficou por 27 anos.

Já milionário – só em 2007, ele ganhou entre salários e bonuses, US$72 milhões – seu objetivo ao aceitar o convite de Trump foi ajudar o país na frente tributária.

Agora, o que foi mais interessante na entrevista e que nos ajuda a compreender o atual momento político norte-americano reside em seu seguinte depoimento: os EUA estão desesperados por um acordo comercial com a China.

Tal afirmação foi de tamanho peso que ocupou o noticiário da CNBC, CNN e outros canais ao longo da quinta-feira. Em mais detalhes, ele ressaltou a importância do comportamento do índice S&P 500 para Trump e disse que um acordo comercial com a China é a única coisa no horizonte capaz de impulsionar os mercados e, assim, reverter a queda de popularidade do atual presidente.

O ex-assessor, visto por Trump e seus outros assessores como um globalista, deixou claro ser contra a imposição de tarifas. Para Cohn, os números, embora sujeitos a manipulação, não mentem. Diz ele que os dados da balança comercial norte-americana de 2018, evidenciando um aumento do déficit comercial do país, são provas inquestionáveis que tarifas sobre importações não funcionam.

A entrevista é longa e há ali muito conteúdo interessante para entendermos as forças geopolíticas dominantes na atualidade.

Contudo, buscando trazer para você leitor o que realmente impacta os nossos mercados, tento concluir este texto de forma mais objetiva.

Estamos transitando, ao longo desta semana, por um período de contração na volatilidade presente nos mercados. Só nesta semana, o VIX caiu de 17% para 13%. Por aqui, a volatilidade implícita das opções de Petrobras caiu de 33% para 26%.

Tudo alinhado com uma certa calmaria que paira pelos mercados. Embora a possibilidade de um BREXIT sem acordo tenha sido descartada e a perspectiva de um acordo favorável entre EUA e China tenha sido postergada para meados de abril, sabe-se que há nuvens negras em formação ao redor do mundo. Mas tudo isso deve ficar para depois.

O momento é convidativo para posições mais arriscadas de curto prazo que tendem a se beneficiar na medida que o índice S&P 500 consiga superar o tão brigado nível de 2.820 pontos.

A probabilidade de que o IBOV irá superar a faixa de 100.000 pontos nos próximos dias é elevada. Acho que dependemos mais do comportamento do S&P 500. A minha opinião é que você não deve entrar na frente do caminhão, mas sim, pegar uma carona com ele. Por via das dúvidas, mantenha a mão sempre próxima ao “mouse”, tome um red bull se necessário, e pense em estabelecer um determinado nível de STOP – mesmo que este seja móvel. É possível que entremos, por alguns dias, em uma onda conhecida como MELT UP.

p.s.: Melt up é o contrário de Melt down (derretimento dos mercados) e refere-se a uma pernada de alta nos mercados onde, o vendido, de forma desesperada, contribui de forma significativa para uma eventual alta na bolsa. Dito isso, observe que no mercado de opções de Petrobras ainda não há sinais de estresse afligindo os vendidos. Para que esta tese se materialize, o preço terá que subir para patamares mais elevados.