A ‘empolgação’ do agro da Argentina com Milei; há risco para o complexo soja e carnes do Brasil?
A vitória do libertário de extrema-direita Javier Milei nas eleições da Argentina domina as atenções dos mercados, principalmente quando o assunto tratado é o setor agro.
Durante sua campanha, Milei sinalizou com o fim do Banco Central do país, a dolarização da economia da Argentina e fim da relação comercial com o Brasil e China, assim como para o Mercosul.
No entanto, o grande destaque para o agro da Argentina ficou pela promessa de encerrar as restrições (retenciones) e as taxações para as exportações, o que fez com que grande parte do setor, que responde por 20% da economia da Argentina, apoiar e se empolgar com Milei.
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O agro da Argentina deve decolar?
Para Leandro Gilio, professor e pesquisador do Centro de Agronegócio Global do Insper, muitas das coisas ditas e prometidas em campanha são difíceis de ser postas em prática, além de serem contraditórias.
“O Milei se define como ultraliberal, sendo assim, ele tende a apoiar políticas menos intervencionistas, e essa ‘empolgação do agro’ argentino vem com esse possível fim das taxações e restrições às exportações, impostas por governos anteriores, que fez com que o setor perdesse muita competitividade nos últimos anos. Por outro lado, parece contraditório o fim da relação com o Brasil e China, já que esses são os dois principais parceiros comerciais da Argentina e o próprio Milei se diz liberal, então não faria sentido ele intervir nesse sentido, principalmente em meio a essa forte crise dos nossos vizinhos”, explica.
Quanto a dolarização da economia, Gilio enxerga o plano como complicado, principalmente pela escassez de dólares na Argentina.
“Vemos uma enorme fuga de capital no país, assim, parece difícil implementar isso sem uma grande reserva de dólares. Fora isso, ele enfrenta o desafio de ter apoio no Congresso e apoio popular para realizar essas mudanças radicais”, explica.
Risco para o Brasil?
Com uma menor intervenção do governo na economia e o fim das taxações, o pesquisador do Insper enxerga uma recuperação no agro da Argentina, que acende um alerta para o Brasil.
“A Argentina é forte no mercado do complexo soja, assim como o Brasil, e nós ocupamos uma parcela maior desses mercados com a decadência da economia dos nossos vizinhos. Com a recuperação da sua competitividade, a Argentina pode rivalizar conosco no mercado da soja e carnes”, diz.
Por fim, Gilio cita a visão de Milei, que quer retirar o país do Mercosul, como uma preocupação.
“Isso pode prejudicar nossos acordos comerciais, principalmente agora em que o Mercosul e a União Europeia estão em vias de fechar um acordo, com os blocos tentando costurar os detalhes antes da posse do presidente argentino, algo que será difícil de ocorrer”, finaliza.