A economia no curto prazo: Um ciclo vicioso que pode custar caro

A teoria econômica, ainda que de forma um pouco rebuscada, ajuda a explicar o cenário em que o Brasil se encontra: inflação preocupante e juros cada vez mais altos.
Por um lado, medidas são adotadas para estimular o consumo e aquecer a economia. Por outro, a taxa básica de juros, a Selic, continua subindo para conter a inflação. O problema é que essa dinâmica cria um círculo vicioso com consequências negativas para o futuro: a interrupção dos investimentos nos setores produtivos.
Explico. Quando a demanda cresce sem que haja capacidade de ampliar a oferta, a inflação aumenta. Para contê-la, os juros sobem, impactando diretamente os investimentos. Sem investimentos, a produção não acompanha o consumo, e a inflação volta a subir. Esse ciclo é frequentemente impulsionado pelo governo, que incentiva a demanda por meio de crédito e estímulos ao consumo de curto prazo.
É nesse contexto que se troca o futuro pelo presente. Afinal, ao priorizar soluções imediatas — como a expansão do crédito para consumo — em vez de investimentos estruturantes que trariam benefícios ao longo da próxima década, comprometemos o crescimento sustentável.
O viés curto-prazista tem um preço alto, e sua conta chega justamente no futuro. E quem paga por isso? Os mais vulneráveis, além das pequenas e médias empresas, que são as primeiras a sentir os efeitos negativos da inflação e do desajuste entre oferta e demanda.
O Brasil já passou por situação semelhante há cerca de uma década, quando enfrentou uma grave recessão. Em 2015, a economia sentiu os reflexos do aperto monetário e do ajuste fiscal iniciado um ano antes, com queda na arrecadação e aumento do déficit fiscal.
A inflação atingiu dois dígitos, os juros subiram, e, assim como agora, medidas foram adotadas para estimular o consumo. No entanto, a demanda despencou, forçando empresas a demitir. O desemprego ultrapassou a marca de 800 mil pessoas. A recuperação foi lenta, e, ao contrário de outras nações emergentes, o Brasil estagnou economicamente — um cenário agravado pela pandemia de Covid-19.
A substituição do futuro pelo presente afeta não apenas o equilíbrio entre oferta e demanda, mas também a estabilidade financeira das famílias e das empresas, especialmente as de menor porte, conduzidas por empreendedores que lutam para sustentar seus negócios.
Outro fator preocupante é o aumento da inadimplência. O endividamento das famílias chegou a 76,4% em fevereiro, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), retomando uma trajetória de alta. Esse é um sinal de alerta claro. Uma vez inadimplentes, tanto pessoas físicas quanto jurídicas têm mais dificuldade para sair dessa situação, o que compromete a saúde do sistema financeiro como um todo.
Ainda que o mercado seja flexível e adaptável, o cenário atual torna quase impossível fomentar o desenvolvimento econômico e social diante da falta de previsibilidade. Planejamento de longo prazo, visão estratégica e compromisso com o futuro são essenciais para que não caiamos, mais uma vez, na armadilha de priorizar apenas o hoje — adiando um futuro que pode nunca chegar.