Coluna do Heverton Peixoto

A economia no curto prazo: Um ciclo vicioso que pode custar caro

06 abr 2025, 12:00 - atualizado em 03 abr 2025, 12:24
brasil inflação ipca selic recessão juros
Ainda que o mercado seja flexível e adaptável, o cenário atual torna quase impossível fomentar o desenvolvimento econômico e social diante da falta de previsibilidade. (Imagem: Getty Images)

A teoria econômica, ainda que de forma um pouco rebuscada, ajuda a explicar o cenário em que o Brasil se encontra: inflação preocupante e juros cada vez mais altos.

Por um lado, medidas são adotadas para estimular o consumo e aquecer a economia. Por outro, a taxa básica de juros, a Selic, continua subindo para conter a inflação. O problema é que essa dinâmica cria um círculo vicioso com consequências negativas para o futuro: a interrupção dos investimentos nos setores produtivos.

Explico. Quando a demanda cresce sem que haja capacidade de ampliar a oferta, a inflação aumenta. Para contê-la, os juros sobem, impactando diretamente os investimentos. Sem investimentos, a produção não acompanha o consumo, e a inflação volta a subir. Esse ciclo é frequentemente impulsionado pelo governo, que incentiva a demanda por meio de crédito e estímulos ao consumo de curto prazo.

É nesse contexto que se troca o futuro pelo presente. Afinal, ao priorizar soluções imediatas — como a expansão do crédito para consumo — em vez de investimentos estruturantes que trariam benefícios ao longo da próxima década, comprometemos o crescimento sustentável.

O viés curto-prazista tem um preço alto, e sua conta chega justamente no futuro. E quem paga por isso? Os mais vulneráveis, além das pequenas e médias empresas, que são as primeiras a sentir os efeitos negativos da inflação e do desajuste entre oferta e demanda.

O Brasil já passou por situação semelhante há cerca de uma década, quando enfrentou uma grave recessão. Em 2015, a economia sentiu os reflexos do aperto monetário e do ajuste fiscal iniciado um ano antes, com queda na arrecadação e aumento do déficit fiscal.

A inflação atingiu dois dígitos, os juros subiram, e, assim como agora, medidas foram adotadas para estimular o consumo. No entanto, a demanda despencou, forçando empresas a demitir. O desemprego ultrapassou a marca de 800 mil pessoas. A recuperação foi lenta, e, ao contrário de outras nações emergentes, o Brasil estagnou economicamente — um cenário agravado pela pandemia de Covid-19.

A substituição do futuro pelo presente afeta não apenas o equilíbrio entre oferta e demanda, mas também a estabilidade financeira das famílias e das empresas, especialmente as de menor porte, conduzidas por empreendedores que lutam para sustentar seus negócios.

Outro fator preocupante é o aumento da inadimplência. O endividamento das famílias chegou a 76,4% em fevereiro, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), retomando uma trajetória de alta. Esse é um sinal de alerta claro. Uma vez inadimplentes, tanto pessoas físicas quanto jurídicas têm mais dificuldade para sair dessa situação, o que compromete a saúde do sistema financeiro como um todo.

Ainda que o mercado seja flexível e adaptável, o cenário atual torna quase impossível fomentar o desenvolvimento econômico e social diante da falta de previsibilidade. Planejamento de longo prazo, visão estratégica e compromisso com o futuro são essenciais para que não caiamos, mais uma vez, na armadilha de priorizar apenas o hoje — adiando um futuro que pode nunca chegar.

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
CEO da Omni
CEO da Omni. Graduado em Engenharia Civil com MBA em Corporate Finance no Insead, França. Possui experiência relevante de mais de 15 anos em diferentes indústrias e segmentos, tendo atuado por quatro anos como Diretor Executivo da Wiz Corporate e um ano como Diretor de Transformação Digital da Wiz. Foi também consultor da Mckinsey & Company de 2008 a 2013, participando ativamente de projetos estratégicos no mercado bancário e de seguros da América Latina. Heverton Peixoto iniciou sua carreira na Rede Esho/Grupo Amil, com relevante experiência na indústria de seguros e saúde suplementar.
heverton.peixoto@moneytimes.com.br
CEO da Omni. Graduado em Engenharia Civil com MBA em Corporate Finance no Insead, França. Possui experiência relevante de mais de 15 anos em diferentes indústrias e segmentos, tendo atuado por quatro anos como Diretor Executivo da Wiz Corporate e um ano como Diretor de Transformação Digital da Wiz. Foi também consultor da Mckinsey & Company de 2008 a 2013, participando ativamente de projetos estratégicos no mercado bancário e de seguros da América Latina. Heverton Peixoto iniciou sua carreira na Rede Esho/Grupo Amil, com relevante experiência na indústria de seguros e saúde suplementar.
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar