Fruticultura

A dupla pandemia da banana: a sanitária que derruba o consumo e a da oferta de safra

08 jul 2020, 12:08 - atualizado em 08 jul 2020, 16:53
varejo
Preço da banana não chega ao produtor com o valor que está sendo praticado no varejo

O produtor da fruta mais consumida no mundo sofre com uma dupla pandemia: a sanitária e a da oferta de safra, que continua inundando o mercado. Tem banana até a R$ 5 o quilo na banca do supermercado, mas na roça mal se consegue vender a R$ 1 no Vale do Ribeira.

O arroz saiu bastante no início do isolamento, pela corrida às compras sob temor do desabastecimento, e os produtores tiveram preços melhores em plena alta da oferta gaúcha chegando, mas a banana, como fruta perecível, pagou o preço. A Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar) registrou produtor rifando a nanica a até R$ 0,80.

A melhora que veio depois foi a R$ 1. E neste patamar, que cobre apenas custo, ficou. O Cepea/Esalq indica preço médio de R$ 1,20. “Mas não conseguimos fazer o distribuidor pagar esse valor”, indica Silvio Romão, diretor da entidade e produtor da Univale.

No preço referência, ainda precisaria de R$ 0,30 para remunerar bem os bananicultores da região Sul de São Paulo, a maior do Brasil. Na cotação oferecida, falta R$ 0,50.

Dos 25 mil hectares do Vale do Ribeira, a área mais pobre do estado de São Paulo, que produziu em torno de 1,8 milhões de toneladas em 2019 nas duas safras – maio a julho, a 1ª, com 65% – a fruta que vem chegando ao mercado também é a aquela que não tem consumo das merendas escolares.

Mesmo se não tivesse as atividades escolares paralisadas, com as férias do mês de julho a maioria dos pequenos produtores – e maioria entre todos, na base de 10 hectares por família -, que fornece para governos, estaria despejando a fruta nas mãos de atravessadores.

E é o que está acontecendo, diz o diretor da Abavar, só que desde maio, quando o grosso da produção começou a sair e as escolas já estavam fechadas.

Fica a expectativa de alguma melhora quando o mercado começar a sentir o impacto da produção catarinense, boa parte afetada pelo ciclone que por lá passou semana passada. Porque essa banana, como pontua Silvio Romaão, com custo mais barato, especialmente pelo aproveitamento da matéria orgânica como adubo gerada pelas inúmeras granjas locais, concorre com vantagem em preços com o produto do Vale.

“O Brasil inteiro produz a nanica e vem vender em São Paulo”, diz, lembrado que a produção nacional é de aproximadamente 6,4 milhões/t.

Além disso, outras regiões produtoras importantes, como o Norte e Nordeste de Minas, a bananicultura que para lá migrou, em torno de 25 anos, é produção empresarial, de grandes áreas, com tecnologia absorvida com apoio de programas federais da agricultura irrigada.

Se o Vale do Ribeira tivesse essa ajuda, inclusive falta até extensão rural, que elevasse a produtividade bem acima das 24 toneladas por hectare, a produção e comercialização da região contariam com as mesmas vantagens dos concorrentes, porém com o adicional da logística perto do principal centro consumidor brasileiro, segundo o produtor e diretor da Abavar.

Tomando a cidade de Registro como centro, a distância da capital paulista é 186 kms. Fora cidades polos importantes, como Campinas.