Opinião

A diplomacia do arroz contra o livre comércio nos EUA

13 set 2020, 17:02 - atualizado em 11 set 2020, 20:03
EUA Bandeira
“Para os EUA, os interesses do país sempre vieram antes do livre comércio”, comentam Paulo Gala e Lea Vidigal (Imagem: Unsplash/@bonniekdesign)

No início dos anos 1970, a exportação de produtos têxteis da Coreia do Sul para os EUA estava ganhando mercado das indústrias de tecido norte-americanas.

Para lidar com o problema, o Presidente Nixon enviou o embaixador David Kennedy a Seul em 1971 para oferecer aos sul-coreanos 175 milhões de dólares que financiariam (via famosa lei 480 de “ajuda alimentar”) muitas toneladas de comida (principalmente arroz) produzido nos EUA e entregues à Coreia, e mais 100 milhões de dólares em outros tipos de financiamento.

A contrapartida da oferta do embaixador era que a Coreia “voluntariamente” reduzisse a exportação da sua indústria têxtil para os EUA. O acordo foi fechado e mantido em segredo, e o Estado norte-americano conseguiu proteger a sua indústria doméstica.

Essa é diplomacia do “livre mercado” atuando para eliminar a concorrência da indústria coreana! Para os EUA, os interesses do país sempre vieram antes do livre comércio. Depois de ricos, claro, começaram a defender a abertura geral de todos mercados do mundo. Aprenderam a lição dos ingleses. E agora voltam a ser ultraprotecionistas contra a China. E pior, a China ultraintervencionista; agora que vira potência começa a defender livre mercado!

Fonte: MORGAN, Dan. Merchants of grain: the power and profits of the five giant companies at the center of the world’s food supply. 1979 (reimpr. 2000), p. 288.

Texto escrito por Paulo Gala e Lea Vidigal.