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A demanda real e impactos do metaverso na economia; o que pede esse ambiente virtual?

02 set 2022, 16:00 - atualizado em 02 set 2022, 16:17
Metaverso economia impactos
(Imagem: Unsplash/Minh Pham)

O conceito de metaverso ainda é pouco explorado, e bastante indefinido, mas com certeza é um atrativo de capital e um setor que tende a crescer exponencialmente.

Mas além de mover transações “onchain” (dentro do blockchain) e movimentar bilhões de dólares em negociação de terrenos virtuais – vide o caso do lançamento de Other side, o metaverso de Bored Ape Yacht Club – esse setor também promete impactar alguns setores da economia real.

O relatório “Metaverse & Money” do Citibank, divulgado em março deste ano, define o metaverso como a próxima evolução da Internet, e que o ambiente vai ser um amplificador de todas as indústrias da economia real.

 “O Metaverse pode ser a próxima geração da internet. Combinaria os mundos físico e digital de maneira imersiva. Usar os casos podem incluir tudo o que usamos na Internet atualmente com jogos, comércio, arte, mídia, publicidade, fabricação inteligente, assistência médica, comunidades virtuais e colaboração social (incluindo para empresas e educação)”.

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Entendendo a real demanda atual do Metaverso

O relatório “Value creation in the metaverse” da Mckinsey também aponta que, embora a definição ainda seja fluida – e provavelmente continuará sendo por algum tempo – a visão de consenso é de que o metaverso é a próxima evolução da internet, onde se torna algo em que estamos imersos, em vez de algo que apenas vemos.

Já a pesquisa “Metaverse 101: A Primer and Early Trends”, disposto pela casa de análise Galaxy Digital, define um metaverso perfeito e ideal nas seguintes condições (que será usado como referência a partir deste ponto da matéria):

  • Tempo real: Os usuários podem interagir uns com os outros e serem vistos e se sentirem ouvidos.
  • Sempre ativo: não há o conceito de agendar um hangout, pode-se simplesmente entrar e sair do aplicativo como um bar, café ou jogo de mundo aberto.
  • Altamente escalável (sem limites superiores perceptíveis em usuários simultâneos): Para uma experiência atraente, um aplicativo metaverso deve ser capaz de lidar com muitos usuários simultaneamente.
  • Compatível com economias cripto/web3 (itens auto-soberanos, valor): Crypto/web3 potencializa o mecanismo econômico do metaverso e permite que aplicativos e usuários diferentes transacionem valor entre si.
  • Sem permissão e aberto (qualquer um pode contribuir): Assim como o uso da internet, o uso do metaverso não requer permissão de gatekeepers. Qualquer usuário pode entrar no metaverso (ler) e criar aplicativos para outros usarem (gravar).
  • Acessível pelo mainstream (aberto, disponível): O hardware necessário para acessar o metaverso (seja seus óculos AR, fones de ouvido VR ou computadores móveis/desktop) pode ser acessado a um preço acessível para um consumidor convencional.

Em complemento, a Mckinsey elenca em seu relatório dez camadas onde o metaverso funciona e exige funcionamento.

Fonte: Value creation in the metaverse, Mckinsey

É interessante observar como as camadas apresentadas pela Mckinsey convergem nos critérios expostos pela Galaxy Digital.

As dez camadas da Mckinsey são categorizadas por micro setores do metaverso: 

São eles: “facilitadores”; “infraestrutura e hardware”; “plataformas” e “conteúdo e experiências”, onde as partes mais próximas da base demanda por infraestrutura e as do topo por melhorias no UX, ou a experiência do usuário.

Baseado no cruzamento desses dados, o Crypto Times montou um diagrama que busca entender um pouco dessa estrutura e como ela se combina:

(Montagem: Leonardo Rubinstein Cavalcanti/Crypto Times)

Por fim, o relatório do Citibank comenta que o metaverso pode se tornar um mercado de US$ 13 trilhões até 2030.

“Estimamos que o mercado alvo endereçável (TAM) para a economia Metaverse pode estar na faixa de US$ 8 trilhões a US$ 13 trilhões. Especialista os colaboradores do nosso relatório Citi GPS indicam uma gama potencial de usuários de até cinco bilhões”.

O Citibank categorizou o setor do metaverso em cinco pilares importantes, que convergem diretamente na tese de valor da casa de análise cripto e da empresa de consultoria. Confira: 

Sistemas operacionais conectando pessoas e conteúdo; Blockchain que descentraliza sistemas econômicos e propriedade de ativos digitais; Interfaces de usuário naturais, por exemplo, controle de voz e gestos para maior imersão do usuário; fones de ouvido de realidade estendida (XR); Infraestrutura de rede em nuvem.

O ponto chave é que, segundo a Galaxy Digital, hoje, não existem aplicativos existentes que satisfaçam todas essas condições, mas isso tende a mudar com o tempo.

Essa mudança tende a vir com investimento no setor, e é aqui que as demandas podem ser observadas de uma forma mais clara.

Siga o dinheiro até metaverso adentro

É essencial saber onde o dinheiro de institucionais está sendo alocado e investido para entender a demanda atual desse ambiente digital e as teses por trás delas.

  • Tecnologia de rede, 5G e computação de borda

Um forte exemplo de captação de capital foi a criação do fundo “Dubai Metaverse Strategy” em julho, pelos principais líderes de Dubai.

“Isso impulsionaria ainda mais a economia de Dubai e apoiaria a visão do governo de aumentar o número atual de empresas de blockchain em cinco vezes”, disse o anúncio.

De acordo com os estrategistas do fundo, a maior demanda parte do setor de tecnologia de rede, armazenamento de dados e computação de borda – ou pelo menos é onde o fundo pretende injetar capital.

Computação de borda refere-se ao processamento, análise e armazenamento de dados mais próximos de onde eles são gerados para permitir análises e respostas rápidas, quase em tempo real.

A tese do fundo vem muito de linha com a parte da escalabilidade e interação constante em tempo real apontada pela pesquisa da Galaxy Digital. Confira:

“Os pilares tecnológicos da estratégia do metaverso são dados, rede, nuvem e computação de borda que se concentram em dados do mundo real obtidos, validados, armazenados, processados ​​e gerenciados. Outros pilares incluem a promoção da implantação completa de redes 5G para permitir a computação de borda e fornecer recursos de sistema de computador sob demanda”, segundo o Dubai Metaverse Strategy.

No relatório da Mckinsey essa tecnologia também é citada como crucial para a construção de um metaverso mais escalável:

“A computação de borda desempenhará um papel importante na condução do poder de computação necessário para executar o metaverso”, afirma relatório da Mckinsey.

Além da computação de borda, o investimento em redes de internet mais rápidas como o 5G é um ponto crítico falado por ambos:

“A tecnologia 5G resolve a necessidade de redes mais rápidas com menor latência para

permitir que dispositivos muito mais conectados processem dados, incluindo fones de ouvido VR ou bots com inteligência artificial”, continua a Mckinsey.

Conforme a empresa, o lançamento completo do 5G é considerado crítico para facilitar a computação de borda.

“Embora já exista discussão sobre o potencial do 6G para possibilitar usos mais sofisticados do metaverso”, finaliza a empresa.

  • Indústria de jogos, o ingresso para o “mainstream”

Outro fundo lançado este ano – que chamou bastante atenção – foi o Games Fund One, do Andreessen Horowitz (a16z), que liberou US$ 600 milhões em capital de risco.

As teses do fundo são mais voltadas para estúdios de jogos, infraestrutura de metaverso e os próprios jogos, que segundo ele será o que vai disseminar o metaverso no mundo.

“Os jogos também estão impulsionando a inovação em todo o ecossistema do consumidor, sendo pioneiros nos melhores mecanismos da categoria para engajamento, retenção e monetização do usuário, como microtransações, passes de batalha e tokens web3”, diz o anúncio da a16z.

Aqui é possível enxergar uma demanda real da parte de crypto economia e Web3 – critério indicado no relatório da Galaxy Digital -, e analisar como um micro setor de “conteúdos e experiências”, conforme a ideia de camadas exposta pela Mckinsey.

O foco na indústria também chama atenção para o ponto sobre adoção do “mainstream”, uma vez que a indústria de jogos alcança públicos massivos e movimenta bilhões de dólares todos os anos.

  • Indústria de moda, seja fashion no metaverso

Conforme o relatório do Citibank, os anúncios no metaverso permitem que os usuários tragam seu avatar digital e se tornem participantes ativos, oferecendo uma experiência imersiva onde podem interagir com itens físicos da vida real, bem como itens digitais nativos do ambiente.

A tese é alinhada com a parte de conteúdo e experiências, bastante ligado a criptoeconomia e a característica da maioria dos blockhains serem abertos para desenvolvedores, algo que atrai grandes marcas.

“Marcas como Nike, Vans, Adidas, Gucci e Burberry, para citar algumas, estão abraçando a nova fronteira do marketing e estão ativos em trajes virtuais e vendas de acessórios em jogos online multiplayer”, diz o relatório do Citi.

A Decentraland organizou uma semana de moda digital de quatro dias (MVFW) em março de 2022. Avatares virtuais desfilaram na passarela virtual; lojas virtuais pop-up, showrooms,

palestras de moda e after parties também fizeram parte da experiência.

Conforme a Mckinsey, cerca de 79 por cento dos consumidores ativos no metaverso fizeram ao menos uma compra, com o objetivo de aprimorar sua experiência online. Dentro delas, a compra de cosméticos virtuais está em segundo lugar:

Fonte: Value creation in the metaverse, Mckinsey

Os impactos do metaverso na economia real está longe de terminar nesses segmentos, segundo diversos relatórios e pesquisas divulgadas por entidades respeitadas no mercado.

A demanda por equipamentos de realidade virtual somado a necessidade de uma fácil e acessível experiência para o público geral destrava valores gigantes para setores da economia diversos.

“Enquanto isso, os setores que lideram a adoção do metaverso também planejam dedicar uma parcela significativa de seus orçamentos de investimento digital para o metaverso com energia (18%); automóveis, máquinas e montagem (17 por cento); alta tecnologia (17%); turismo (15 por cento); e mídia e entretenimento (15%) entre aqueles que lideram a carga em termos de alocação de parte do orçamento digital para atividades relacionadas ao metaverso nos próximos três a cinco anos”, Mckinsey.

Os setores da economia expostos acima serão mais elaborados na segunda parte dessa matéria.

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