A deflação na China é coisa do passado; entenda
Os economistas estão preocupados com o efeito negativo da persistência da deflação chinesa para seu próprio crescimento econômico em 2024.
Embora tenha ajudado a baixar inflação do mundo todo com a exportação chinesa, a queda de preços dos produtos chineses também teria reduzido ou adiado a vontade do consumo imediato no mercado interno em 2023.
Como a maioria dos países já conseguiu controlar a inflação, a atenção da deflação acaba voltando para a China.
Felizmente, há bons motivos para acreditar que o índice geral de preço interno da China apresentaria a estabilidade e levemente positivo em 2024. Diferentemente da crise deflacionária estrutural do Japão, que começou no início de 2000, os recentes sinais do mercado e as novas reformas institucionais e econômicas da China tem mostrado que essa pressão deflacionária na China seria apenas temporária.
China: Esforço do governo com a economia
A China vem acelerando sua reforma institucional colocando a diplomacia a serviço a promoção da reabertura e reforma econômica.
Após o encontro dos presidentes Joe Biden e Xi Jinping, em novembro de 2023, a guerra econômica, tecnológica e financeira entre Estados Unidos e China ficou mais atenuada. Várias manufaturas americanas voltaram a considerar manter suas produções na China, mesmo que seja menos concentradas que antes.
O primeiro-ministro, Li Quiang, também detalhou medidas da abertura de negócio para plateia de investidores ocidentais na Reunião Anual 2024 do Fórum Econômico Mundial.
A nova política de isentar vistos ou prolongar o período de vistos para 10 anos para principais parceiros comerciais também mostra esforço e transparência do governo chinês para intensificar a reabertura de seu mercado para o mundo após a pandemia.
Essa política também promove o setor de turismo tanto para estrangeiro visitar a China quanto para chineses viajarem para exterior. Por exemplo, só nesse feriado de Ano Novo chinês, os turistas chineses lotaram voos de Singapura e Malásia, países que assinaram acordo de isenção de visto.
Paralelamente a simplificar entrada de estrangeiros na China, há esforço também para aumentar a demanda da própria população chinesa. Segundo o Ministério de Comércio, a China vai continuar expandindo o consumo interno. Basicamente, 2023 foi um ano para aumentar o consumo e 2024 será um ano para promover o consumo.
O governo vai reformular regulações e legislações para multiplicar diferentes canais de vendas digitais ou físicas, e aumentar segurança e experiência dos consumidores.
Ainda é esperada uma demanda adicional proveniente de pacote de política fiscal e monetária para garantir os novos incentivos seja direcionado para atender prioritariamente demanda da população, sem aumentar desnecessariamente produção da indústria.
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A força de mercado na inflação
As forças de mercado também ajudam a reduzir a pressão deflacionaria. Há três principais fatores:
- É esperado fim do super ciclo da carne suíno no segundo semestre de 2023. O preço de suíno é um importante componente no cálculo de inflação de consumidor na China. Devido ao excesso de oferta e fraca demanda, esse preço tem caído significativamente desde agosto de 2023. Isso reduziu a margem de lucro e a vontade de fazer mais criação de porcos para 2024. A tendência é a volta de equilíbrio de preço após o grande festival do barco de dragão em meados do ano, uma data importante de consumo de carne suíno.
- Potenciais aumentos de preços de fretes marítimas por conta de riscos geopolíticos podem encarecer os custos dos produtos. Vale lembrar que a China é um hub e faz parte de uma malha de logística intensa de trocas na cadeia de suprimento global e regional. Os custos de frete e tempo de transit time são componentes relevantes na formação de preço final. Esses reajustes de preços podem antecipar a decisão de compra dos consumidores, fortalecendo mercado de consumo.
3) Após um período conturbado de declaração de falência e liquidação das empresas relacionadas com setor imobiliário da China (por exemplo, Evergrande, ZhongZhi Enterprises Group), os novos donos desses ativos vão poder fazer restruturação e eliminar os ativos ineficientes, e reinvestir os ativos de maior retorno. Além disso, a nova gestão mais racional e eficiente também ajuda acabar com temores de contágio financeiro dessas empresas falidas.
Como o Brasil será afetado?
Afastamento de riscos de deflação na China vai beneficiar os exportadores brasileiros em 2024. Setor de papel e celulose pode se beneficiar com a nova urbanização com base na reforma de registro família da população rural.
Já o setor de minério e aço pode ser beneficiado com a reestruturação dos ativos das empresas falidas, enquanto o setor de lítio fará parte de novos investimentos na economia verde.
O setor de exportação de proteína animal também pode se beneficiar com fim do super ciclo de carne suíno e setor de grão com o ano de promoção de consumo na área de alimentação.
Embora o mercado interno não seja mais igual os de 2022 e 2021, no qual não havia muita concorrência de fornecedores estrangeiros e os preços China batiam recorde para exportação brasileira, essas novas evidências de estabilidade de preços da China tendem garantir um preço médio melhor que era praticado em 2023 para empresas brasileiras.
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