A crise de crédito impactará os fiagros?
O mercado de crédito desacelerou e vai deixar marcas na economia brasileira este ano. A inadimplência das empresas, pós-caso Americanas (AMER3), é uma das principais preocupações no momento.
Tal cenário, marcado pela elevada taxa de juros real, que dificulta a gestão do fluxo de caixa das empresas, leva a uma maior seletividade das instituições, tendo como consequência, a contração da oferta de crédito.
O alerta atinge a todos os segmentos econômicos e, no caso dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros), as preocupações não são diferentes. Isto não significa que a indústria não continuará crescendo em larga escala como aconteceu nos últimos meses.
Para se ter uma ideia, os Fiagros encerraram o ano de 2022 com um crescimento de 544%, atingindo um patrimônio de R$ 10,34 bilhões. Em termos de captação líquida (diferença entre aportes e saques), o segmento obteve saldo positivo de R$ 3,2 bilhões em 2022.
A expectativa é de que os aportes continuem e os Fiagros dobrem de tamanho este ano. A diferença é que a gestão de risco ganhará mais peso na estratégia dos fundos, que ficarão mais criteriosos ao fazer o processo de avaliação dos ativos que comporão o portfólio.
Em qualquer cenário, o questionamento principal sempre é: qual o retorno alvo do ativo versus seu risco?
É claro que tais investimentos precisam ofertar um retorno alvo razoavelmente acima do CDI, pois a proposta é justamente que o financiador tome mais risco para direcionar determinado recurso.
Mas, não adianta apenas ampliar o spread e cobrar pelo risco, é preciso que ele seja razoavelmente controlado. E é aí que entra a expertise de análise do gestor, a qual se tornará ainda mais apurada.
Apesar de os Fiagros estarem focados em um setor mais resiliente a crises e que tem apresentado crescimento robusto nos últimos anos, não se pode generalizar que todas as empresas do agronegócio exibam baixo risco e conseguirão honrar seus compromissos no longo prazo.
A análise não pode ser, de modo algum, leviana. Pelo contrário, passa por um processo aprofundado que dura dias, semanas ou meses.
Quando o objetivo é adquirir o papel para compor a carteira e segurá-lo até o fim, o gestor precisa investir muito tempo, pois é o processo decisório que fará a diferença na rentabilidade e risco do fundo.
Enquanto o objetivo é dar um retorno acima do CDI no médio-longo prazo, é preciso observar o risco do emissor para que evitar que haja o aumento do risco da carteira.
Isso só é possível com uma profunda análise da capacidade de pagamento. E, mesmo que haja a confiança de que determinada companhia possa honrar seus compromissos, é preciso se preparar para o pior cenário e, no pior cenário, devemos estar cercado de boas garantias e, acima de tudo, garantias bem formalizadas.
O agronegócio é complexo e intensivo em capital. A necessidade de recursos deste segmento da economia é crescente, à medida que, a cada ano aumenta o volume de produção juntamente com a necessidade de mais tecnologia, sem esquecer da alta dos preços dos insumos.
Ao mesmo tempo, o volume de oferta de crédito bancário, não acompanham o movimento com a mesma intensidade. Cálculos do mercado demonstram que necessidade de financiamento privado do setor passou de R$ 400 bilhões para mais de R$ 700 bilhões em menos de dois anos.
Este movimento que envolve o crescimento do setor com maior busca de capital, ampliação do volume de financiamentos via mercado de capitais, aumento do interesse dos investidores, enfim, a sustentabilidade dos Fiagros, depende de uma política de riscos apurada de gestão de risco.
Com rentabilidade adequada, controle de riscos, transparência na tomada de decisões, os Fiagros assumem o protagonismo como alternativa de investimentos no movimento de diversificação das pessoas físicas e manter este papel depende da decisão do gestor.