Política

À CPI, advogada de ex-médicos da Prevent fala em alinhamento de interesses com Ministério da Economia

28 set 2021, 17:38 - atualizado em 28 set 2021, 17:38
Bruna Morato
Bolsonaro chegou a citar, em redes sociais, estudo da Prevent Senior relacionado ao uso de hidroxicloroquina (Imagem: Senado Federal/Roque de Sá/Divulgação via Reuters)

A advogada Bruna Morato, que representa ex-médicos da Prevent Senior, afirmou nesta terça-feira à CPI da Covid do Senado que havia um alinhamento de interesses do Ministério da Economia com o plano de saúde para que não fosse necessário haver lockdowns no enfrentamento à pandemia.

A defensora relatou que a intenção era que houvesse uma “esperança” para as pessoas poderem sair às ruas, citando a hidroxicloroquina, medicamento ineficaz contra Covid defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.

Segundo ela, médicos da Prevent fariam a defesa do uso e disseminação desses medicamentos.

“O que eles me explicaram foi o seguinte: existe um interesse do Ministério da Economia pra que o país não pare e, se nós entrarmos nesse sistema de lockdown, nós teríamos um abalo econômico muito grande. Então, existia um plano pra que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo”, disse.

“É como se fosse uma troca, a qual nós chamamos na denúncia de pacto, porque assim me foi dito. Alguns médicos descreveram como aliança; outros médicos descreveram como pacto”, reforçou.

A advogada afirmou que, em nenhum momento, se falou do nome do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas ela disse que eles falavam que havia um “alinhamento ideológico”.

Segundo a advogada, que representa 12 médicos, o Ministério da Saúde à época não se alinhava aos interesses do governo sobre o uso do chamado kit Covid. Ela disse que os médicos do plano eram orientados a prescrever o kit, que vinha num pacote lacrado e fechado, citando que não havia autonomia com relação até à retirada de itens desse kit.

Bolsonaro chegou a citar, em redes sociais, estudo da Prevent Senior relacionado ao uso de hidroxicloroquina.

Em nota nesta terça-feira, a Prevent Senior negou e repudiou as “acusações mentirosas levadas anonimamente à CPI da Covid e à imprensa”. Segundo a empresa, o mesmo teor dessas imputações havia sido trazido à empresa, antes da CPI, pela advogada, que tentou fechar um acordo para não levar o caso à comissão.

“O depoimento da advogada à CPI hoje (terça) confirma que se tratam de acusações infundadas, que têm como base mensagens truncadas ou editadas e vazadas à imprensa e serão desmontadas ao longo das investigações. A Prevent Senior estranha o fato de a advogada manter no anonimato os supostos médicos autores da acusação. A empresa ainda não teve acesso aos autos da CPI para fazer sua ampla defesa”, afirmou.

O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, em depoimento na semana passada à CPI, já havia negado que a operadora tenha utilizado um chamado “kit Covid”, embora senadores tenham dito ter informações do uso de medicamentos sem comprovação de eficácia contra a Covid pela rede.

Segundo Batista Júnior, foram administrados anti-inflamatórios, corticoides, anticoagulantes, entre outras medicações.

Batista Júnior, no entanto, reconheceu que existiria uma orientação em hospitais da operadora de planos de saúde para alterar o diagnóstico de um paciente com Covid-19 após um período de até 21 dias de internação, o que foi tratado por senadores da CPI da Covid como “manipulação” e “fraude”.

Na nota desta terça, a empresa disse que, ao longo da pandemia, aplicou cerca de 500 mil testes em que constatou o contágio de 56 mil pacientes.

“Desse número, 7% redundaram em mortes. Todos os casos foram rigorosamente notificados. A Prevent Senior sempre respeitou a autonomia dos médicos, nunca demitindo profissionais por causa de suas convicções técnicas ou posições ideológicas”, destacou.

O Ministério da Economia não respondeu de imediato a um pedido de comentário.

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