A combinação entre serviços financeiros e varejo de moda tem muito espaço para evoluir, diz Flávio Rocha, da Riachuelo
Flávio Rocha é um dos grandes nomes do varejo brasileiro, devido à sua longa atuação como CEO da Riachuelo. Atualmente, ele é presidente do Conselho de Administração do Grupo Guararapes, que inclui além das Lojas Riachuelo, a financeira Midway e o Midway Shopping Center.
Em participação no podcast RadioCash, apresentado por Felipe Miranda, CIO e estrategista-chefe da Empiricus, e Jojo Wachsmann, CIO da Vitreo, Rocha falou sobre suas previsões para o futuro do varejo de moda, um setor muito afetado com as restrições impostas pela pandemia.
O empresário está sempre em contato direto com a esfera pública, fazendo propostas em prol de melhorias no ambiente de negócios no país. No episódio, ele comentou sobre o cenário político e econômico brasileiro e fez críticas ao atual sistema tributário.
Confira o episódio completo dando play abaixo e leia os principais destaques nos próximos parágrafos:
Pandemia impulsionou digitalização do varejo de moda
Há anos imerso no varejo da moda, Flávio Rocha acredita que a pandemia acelerou consideravelmente o ritmo de transformações do setor: “está acontecendo em um ano o que provavelmente aconteceria em uma década”. A criação de um ecossistema digital foi essencial para que a moda sobrevivesse às restrições da pandemia, que incluíram o fechamento de lojas e shopping centers por meses seguidos.
No início, os canais digitais das redes de varejo de moda tinham baixa penetração e representavam uma pequena participação das vendas. Com a pandemia, houve uma forte aceleração e as marcas que não souberam se adaptar ao on-line acabaram perecendo. Para Rocha, esse avanço rumo ao digital representou uma oportunidade de escalar o negócio exponencialmente.
“Nós nos libertamos das terríveis limitações do mundo físico, a pior delas sendo a limitação de espaço. Quem dava até agora o tamanho do nosso negócio era o gestor da companhia de shopping”, diz o empresário.
Super app de moda é o futuro
Como forma de enfrentar a impossibilidade de vendas no espaço físico, muitos comércios focaram em melhorar suas experiências digitais. No caso das grandes varejistas de moda, o investimento em aplicativos se intensificou, afinal, 55,1% das transações on-line são feitas via celular, segundo relatório da E-bit/Nielsen.
No caso da Riachuelo, o aplicativo inclui não só vestuário, mas também beleza, decoração, itens para pets e entre outros ‒ isto está alinhado com a visão de Rocha, para quem “o negócio do futuro é o super app de moda”.
Ao mesmo tempo em que apresenta uma oportunidade de ouro para escalar o negócio, a presença digital também tem seus desafios. “Não vão existir trezentos aplicativos de moda nesse espaço disputadíssimo que é o smartphone do cliente. Vai ter espaço pra um ou dois e aquele que vai conquistar esse espaço vai ser o que tiver mais recorrência e mais relevância. É para isso que estamos nos preparando”, afirma o empresário.
O ex-CEO da Riachuelo também comenta sobre a visão “data is the new oil” (dados são o novo petróleo, em tradução literal), ou seja, os dados são o novo negócio rentável. As informações sobre os clientes obtidas através do seu histórico de compras de lifestyle são bem mais ricas do que as de bancos de dados genéricos.
O New Retail na Riachuelo
Segundo Flávio Rocha, as transformações ocasionadas pela pandemia não significam que haverá uma rivalidade entre o digital e o físico: o futuro do varejo de moda inclui a integração entre as lojas e as novas tecnologias. Entre as mudanças mais promissoras, o ex-CEO da Riachuelo menciona a realidade virtual com o uso de óculos inteligentes, como o Apple Glass.
A essa nova tendência de sinergia entre o físico e o digital se dá o nome de New Retail. Como explica Rocha, “você pode estar navegando numa loja física, sentindo a textura de um tecido, experimentando no provador, mas você está cercado de todos os superpoderes do mundo virtual.”
“O casamento do físico e do digital vai trazer realmente uma transformação tecnológica para o varejo. Acho que o varejo de moda vai ser o grande beneficiário desse novo front tecnológico.” ‒ Flávio Rocha, no podcast Radio Cash.
Sinergia entre crédito e varejo
Se antes os vendedores das lojas físicas ofereciam o “cartão Riachuelo”, agora os clientes podem ter uma conta digital completa da Midway, a instituição financeira do grupo.
Para Flávio Rocha, essa sinergia entre o crédito e o varejo é algo que o Brasil tem aprimorado cada dia mais. Segundo ele, o “varejo do futuro vai ter essa interação com o cliente que o crédito e que os produtos financeiros trazem.”
Com a conta digital, há uma maior proximidade e fidelização do cliente, além de criar um “trampolim” para outros serviços financeiros e trazer maior assertividade na concessão de crédito.
Para Flávio Rocha, o sistema tributário brasileiro ainda tem uma carga muito alta
Em sua participação no RadioCash, Flávio Rocha foi enfático ao fazer críticas ao sistema tributário brasileiro, que é complexo e tem uma carga muito alta, em sua opinião. Ele comenta uma peculiaridade do Brasil, que acaba gerando sobrecarga de impostos em três bases: renda, consumo e patrimônio.
Segundo o empresário, é preciso focar em reduzir a sonegação, prática comum nos “camelódromos digitais”, e não em taxar mais as empresas com bases no Brasil que já são responsáveis por grande parte da arrecadação.
Quanto à taxação de grandes fortunas, Rocha também é crítico e cita como exemplo o que aconteceu na França de François Hollande, quando o presidente aumentou os impostos aos ricos: um êxodo fiscal para países que praticavam taxas mais baixas.
Quer ouvir o papo completo? É só buscar por “RadioCash” em sua plataforma de podcasts favorita ou dar play abaixo: