A ‘catástrofe de inverno’ na Europa pode ser uma oportunidade para commodities brasileiras?
Quem é familiarizado com Game of Thrones, entende a importância da frase ‘o inverno está chegando’ para a trama. O lema da casa Stark foi introduzido no primeiro episódio da série, quando ainda era verão em Westeros, e alude aos perigos e dificuldades que o reino inevitavelmente viria a atravessar com a chegada da estação mais fria.
E como a vida imita a arte, é exatamente neste ponto onde se encontram os líderes de governo e os mercados europeus: correndo para se resguardar da ‘catástrofe de inverno’. O termo vem sendo usado pelos britânicos para se referir às consequências da vigente crise de escassez energética durante o próximo inverno.
Nesta época do ano, é comum o aumento da demanda por gás para aquecimento doméstico e industrial, o que tem suscitado preocupações quanto à possibilidade de racionamento, ou mesmo apagões.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os futuros do gás natural avançaram mais de 100%. Recentemente, o preço chegou a tocar máximas de 15 anos atrás em Nova York, aos $10/MMBtu. Ainda que algumas das restrições americanas nas exportações de gás à Europa tenham sido resolvidas, o fechamento indefinido do Nord Stream 1 deve travar as negociações do derivado nos patamares atuais.
Em face às condições do mercado atual, a agência reguladora do mercado de gás e energia (Ofgem, na sigla em ingês) do Reino Unido anunciou no último dia 26 que o consumidor pagará 80% a mais no boleto médio anual a partir de outubro. O aumento é potencialmente devastador para a inflação, que já passa dos 10% anuais, no que desponta como sendo o primeiro grande teste para o governo de Liz Truss, a nova primeira-ministra britânica.
Na Alemanha, a principal afetada pela interrupção indefinida do Nord Stream 1, o governo corre para preencher os estoques deste combustível e já sinaliza a extensão do programa de passagens de baixo custo, que permite número ilimitado de viagens na rede nacional de transporte público por nove euros mensais. O fim do programa poderia significar um aumento de 0,7% em uma já elevada inflação alemã para setembro, mostra a análise da Capital Economics.
Suécia e Finlândia também se preparam para evitar que a crise inflacionária se torne uma crise financeira disseminada, anunciando planos de bilhões de dólares em garantias de liquidez para socorrer as companhias de energia, caso estas precisem.
A crise da energia tem sido pauta constante nas falas de dirigentes da União Europeia, que defendem a necessidade de políticas de preços separadas para o setor elétrico e de gás e o estabelecimento de teto de preços para o consumidor. Os primeiros indicativos de um plano de ação podem sair da reunião de 9 setembro entre ministros de energia de todos os 27 países-membros.
Problemas para as commodities europeias vem sendo uma oportunidade para o Brasil
A crise dos preços de energia está sendo especialmente severa sobre a indústria de commodities da Europa, dada à intensiva utilização de energia para o processamento de metais industriais como alumínio, zinco e o aço.
A elevação dos custos de produção tem forçado a gigantes do setor, como a norueguesa Norks Hydro, a fechar unidades ou repassar parte dos custos para clientes finais. Desde meados de 2021, é estimado que a Europa tenha perdido mais da metade de sua capacidade produtiva sobre commodities metálicas.
Os problemas do Velho Continente sobre energia e matéria-prima abriram uma janela de oportunidades para produtos brasileiros, sobretudo, aqueles mais competitivos, como é o caso da soja, do minério de ferro e também do petróleo.
Sobre este último, segundo consta a análise da S&P Global, o Brasil aumentou em 710% as exportações de aço para a União Europeia no primeiro semestre do ano, na comparação anual. Segundo Matheus Spiess Duarte, especialista em commodities, “há espaço para crescimento no mercado europeu”.
O economista, contudo, não crava uma correlação direta do avanço das commodities com um avanço do desempenho de ações domésticas. A Vale (VALE3), por exemplo, responde a parcela significativa desse avanço nas exportações, mas o preço da ação tem passado por um longo processo de correção e hoje toca os R$65.
Isto, porque, concorrente à potencial conquista de novos espaços de um mercado historicamente travado para produtos brasileiros, haveria de se pesar o impacto de uma recessão econômica em escala continental. “O efeito dessa contração deve ser majoritariamente negativo para o mercado, inclusive para os produtos brasileiros”, conclui Matheus.
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