Comprar ou vender?

A Casa caiu

17 maio 2017, 11:34 - atualizado em 05 nov 2017, 14:04

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O otimismo dos mercados domésticos será colocado em xeque nesta quarta-feira, por uma questão externa. Os negócios internacionais estão mais vulneráveis ao noticiário vindo de Washington, que enquadram as relações de Donald Trump com a Rússia. As preocupações com uma potencial nova crise em plena Casa Branca reduzem o apetite por risco, o que derruba Wall Street e dispara uma busca por proteção nos ativos seguros, com o aumento dos ruídos negativos ao redor do presidente norte-americano.

Tudo começou com a denúncia de que Trump teria compartilhado dados secretos sobre o Estado Islâmico aos russos, durante reunião em maio com um ministro e o embaixador nos Estados Unidos. Depois, veio a acusação de que Trump teria pedido ao diretor do FBI, James Comey, para interromper a investigação sobre os laço entre o assessor de segurança nacional, Michael Flynn, e autoridades russas, poucos antes de Comey ter sido demitido. No dia seguinte ao pedido, Flynn renunciou ao cargo.

A Casa Branca nega ambas as informações, mas o estrago nos mercados já foi feito, diante do receio crescente com uma turbulência envolvendo o homem mais poderoso do mundo e que pode soar muito ruim mesmo entre os republicanos mais conservadores. Os índices futuros das bolsas de Nova York caíam cerca de 0,5% cada, nesta manhã, sinalizando uma sessão negativa, diante das dúvidas sobre a habilidade de Trump em seguir com a sua agenda pró-crescimento.

A fraqueza das bolsas foi observada desde a sessão na Ásia, onde o fortalecimento do iene japonês prejudicou a Bolsa de Tóquio (-0,5%). Hong Kong e Xangai cederam 0,2%, cada. As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, ao passo que o euro se valoriza. Apesar de o dólar perder terreno para as principais moedas rivais, as commodities industriais também recuam, com o petróleo reagindo em queda  ao aumento dos estoques norte-americanos, enquanto o ouro avança.

Não é apenas com um atraso na agenda de políticas econômicas que os investidores estão preocupados. O que realmente atormenta os agentes, nesse momento, é a possibilidade de um impeachment nos Estados Unidos. As chances de um afastamento definitivo de Trump do governo estão em 50%, após as reportagens divulgadas pelos jornais New York Times e Washington Post.

Deste modo, os primeiros sinais mais concretos de um possível impedimento se alastram, não podendo mais serem descartadas. Nesse ambiente, fica difícil para os investidores mostrarem maior disposição às compras, uma vez que tal cenário pode ganhar corpo e tornar-se uma realidade factível, dando adeus às promessas de campanha de Trump, de aumento dos gastos públicos e corte de impostos.   

Já no Brasil, faltando duas semanas para a reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), os mercados domésticos vibram com uma conjuntura favorável à intensificação no ritmo de queda da taxa básica de juros neste mês. Os indicadores econômicos e as negociações do governo em busca de apoio político às reformas mostram que a recuperação da atividade via corte na Selic está no caminho certo.

Essa aposta dos investidores diminui a percepção de risco entre os ativos brasileiros, o que se reflete na queda do dólar para abaixo de R$ 3,10 e no derretimento dos prêmios nas taxas dos contratos de juros futuros. Ontem, o vencimento para janeiro de 2018 fechou abaixo de 9% pela primeira vez, diante da percepção de que o Banco Central será mais ousado e irá cortar a Selic em 1,25 ponto porcentual (pp) neste mês.

Muitos investidores que ainda hesitavam em migrar para essa aposta se sentiram estimulados pela mudança de “call” (previsão) de várias instituições financeiras, entre elas os bancos Itaú e BTG. Aliás, o maior banco privado do país projeta uma queda da taxa básica de juros até 7,5% já em outubro, com a Selic ficando apenas 0,25 ponto acima do mínimo histórico, registrado cinco anos antes.

A redução do risco político, diante das “bondades” oferecidas pelo presidente Michel Temer em troca de apoio às reformas e de mais um indiciamento contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também ajuda na volta do apetite do investidor estrangeiro. Os “gringos” parecem mais animados com a possibilidade de aprovação das reformas e, principalmente, com o cenário mais previsível para as eleições de 2018.

Em Brasília, o governo vem costurando apoio nos bastidores para garantir a aprovação das reformas. Ontem, Temer assinou medida provisória que autoriza o parcelamento em 200 vezes dos débitos dos municípios e Estados com o INSS, com descontos, para angariar apoio e, nos próximos dias, assinará MP para beneficiar os produtores rurais.

O presidente segue confiante de que será possível colocar em votação o texto da Previdência no plenário da Câmara na última semana deste mês, em meio ao encontro de política monetária do Banco Central, que acontece nos dias 30 e 31 de maio. Na agenda econômica do dia, as divulgações estão mais fracas, no Brasil e no exterior.

Os destaques ficam para os números semanais do fluxo cambial (12h30) e os dados oficiais sobre os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados na semana passada (11h30). Logo cedo, na zona do euro sai a leitura revisada do índice de preços ao consumidor (CPI) em abril.

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