A Bula do Mercado: Investidor se volta para decisão de juros nos EUA

14 dez 2016, 9:02 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Um ano após encerrar a era do juro zero nos Estados Unidos, o Federal Reserve deve voltar a elevar a taxa norte-americana em mais 0,25 ponto percentual (pp), para o intervalo entre 0,50% e 0,75%. A decisão de política monetária do Banco Central dos EUA concentra as atenções dos mercados globais nesta quarta-feira, colocando em segundo plano o impacto do noticiário vindo de Brasília nos negócios locais.

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Ainda mais após a vitória de ontem do governo Temer no Congresso, que mostrou que a base aliada segue firme, apesar dos recentes abalos em Brasília, trazendo alívio aos mercados domésticos. Por 53 votos a favor e 16 contra, o Senado aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que determina que os gastos dos três Poderes não poderão crescer mais que a inflação a partir do ano que vem e talvez pelos próximos 20 anos.

O placar ficou favorável por uma margem pequena, já que eram necessários 49 votos, equivalente a 2/3 dos 69 presentes no momento da votação, além do presidente da Casa, Renan Calheiros – que não votou. E é com esse placar que o mercado financeiro ficou preocupado, pois o governo Temer tem pela frente uma batalha ainda mais dura, referente à Reforma da Previdência. Para aprová-la, será necessário um apoio maior dos 81 senadores.

O presidente Michel Temer tratou de minimizar essa questão, dizendo que o total de votos a favor foi menor porque o quórum da sessão foi mais baixo. Porém, ainda não se sabe se os 11 ausentes não compareceram porque a votação começou mais cedo ou como forma de demonstrar certo descontentamento da base aliada. Tampouco se pode dizer que esses 11 votos seriam pró-governo, uma vez que a oposição levou dois votos a mais desta vez.

No primeiro turno da votação da PEC do Teto no Senado, o novo regime fiscal havia recebido 61 votos favoráveis e 14 contrários – o mesmo placar a favor obtido pela base aliada no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Seja como for, a aprovação da medida é uma bandeira importante para o governo Temer.

Agora, os parlamentares se voltam para a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) de 2017, que define as prioridades da administração pública em relação às despesas. Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto prepara medidas que visam acelerar a recuperação econômica, melhorando o ambiente de negócios e que devem ser anunciadas em breve. 

Tudo isso, sem descuidar das investigações da Operação Lava Jato, que obedecem a um “tempo próprio, independente da agenda política”, conforme resposta da Procuradoria-Geral da República (PGR) ao pedido de Temer para acelerar o processo. Novos episódios da delação premiada de executivos da Odebrecht são esperados, com a imprensa cumprindo o seu papel, uma vez que a lei não traz qualquer indicativo de que o vazamento das informações possa causar a anulação dos depoimentos.

Enquanto aguardam novidades e monitoram o cenário político, os investidores deslocam o radar para o ambiente internacional, onde é dia de decisão do Fed. Com as apostas consolidadas em 100% em uma alta na chamada Fed Funds Rates (FFR) é o comunicado que acompanhará a decisão e as palavras da presidente, Janet Yellen, que devem indicar se o aperto monetário deste mês se trata de mais um evento esporádico ou do início de uma sequência de altas.

A depender da expectativa a ser confirmada, pode haver uma acomodação ou um estresse nos mercados globais. As chances de o Fed voltar a apertar o juro mais cedo no ano que vem são maiores, com os investidores vendo 75% de chance de uma nova alta em junho de 2017, diante das especulações de que o presidente eleito dos EUA Donald Trump irá acelerar os gastos públicos, provocando inflação.  

O anúncio da decisão do Fed será feito às 17h e a entrevista coletiva de Yellen tem início às 17h30 – perto do fechamento do pregão doméstico. No mesmo horário, também será divulgada a atualização das projeções do Fed para os indicadores econômicos referentes à inflação, juros, crescimento e desemprego. Esses eventos tendem a dar pistas e calibrar as apostas em relação ao ciclo de aperto dos juros.

À espera desse “Dia do Fed”, os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho, contaminando a abertura do pregão na Europa, ao passo que o dólar mede forças ante as moedas rivais e o petróleo cai com o aumento dos estoques norte-americanos da commodity. Os investidores mostram cautela antes da decisão de política monetária e preferem manter as posições, deixando os ajustes para depois do anúncio.

Pela manhã, a agenda dos EUA traz ainda os números do comércio varejista (11h30), da inflação ao produtor (PPI) e da produção industrial (12h15), todos referentes ao mês de novembro. Os dados sobre a atividade na indústria da zona do euro em outubro serão conhecidos logo cedo (8h). No Brasil, saem a pesquisa sobre a atividade no setor de serviços em outubro (9h) e os números semanais do fluxo cambial (12h30).

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