A Bula do Mercado: Investidor entre juros no Brasil e PIB nos EUA

22 dez 2016, 9:29 - atualizado em 05 nov 2017, 14:08

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Olivia

A quinta-feira promete ser o último dia da semana – e, talvez, do ano – de agenda econômica relevante, no Brasil e no exterior. Faltando poucos pregões para o fim dos negócios em 2016, os investidores estão operando de modo mais leve, sem um gatilho definido, e aproveitando para ajustar posições. Mas esse não deve ser o caso de hoje.

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Enquanto os mercados domésticos respiram aliviados, com as férias de fim de ano no Legislativo e no Judiciário deixando em segundo plano os eventos da política nacional, os mercados no exterior já se preparam para o que deve ser a gestão Trump. Nesse ambiente, o que importa é o cenário de juros no Brasil e de crescimento econômico nos Estados Unidos.

Após a prévia da inflação ao consumidor brasileiro, medida pelo IPCA-15, contrariar a previsão de aceleração e registrar a menor taxa para dezembro em 18 anos, o mercado doméstico está na expectativa pelo Relatório de Inflação do Banco Central. Juntas, essas divulgações tendem a calibrar as expectativas para os índices de preços e a taxa básica de juros (Selic) em 2017.

A aposta dos investidores é de que, no documento, o BC reforce a perspectiva favorável à dinâmica inflacionária, sinalizando certo conforto quanto ao cumprimento das metas estabelecidas. Além disso, a autoridade monetária deve mostrar-se sensível à fragilidade da atividade econômica, sem deixar de monitorar o cenário político e o avanço do ajuste fiscal.

Esse ambiente tende a reforçar a possibilidade de corte maior na Selic logo no início do ano que vem. Afinal, com a economia fraca, números mensais de inflação favoráveis e as expectativas inflacionárias ancoradas por vários anos à frente, constrói-se um cenário para um ciclo de corte de juros mais agressivo no curto prazo.

Assim, se o próprio BC praticamente antecipou que deverá acelerar o ritmo de queda no encontro de janeiro, para 0,50 ponto porcentual, a autoridade monetária pode se ver “obrigada” a elevar a dose já no primeiro semestre – ou trimestre de 2017, para 0,75pp. Ainda mais se a atividade continuar em trajetória negativa, sem retomar o crescimento.

O relatório do BC, referente ao quarto trimestre deste ano, é o único indicador econômico previsto para o dia no Brasil e será publicado às 8h30. Entre os eventos de relevo, o presidente Michel Temer toma café com jornalistas (9h) e deve aproveitar a ocasião para anunciar a liberação de até R$ 1 mil para saque de contas inativas do FGTS.

Temer também deve dar início às mudanças na legislação trabalhista abrindo caminho para que acordos coletivos estabeleçam jornadas maiores e negociem benefícios hoje já garantidos aos trabalhadores em lei. As mudanças permitem, por exemplo, que sindicatos e empresas negociem jornadas de até 12 horas diárias, limitadas a 220 horas mensais – ou seja, com duração maior do que as 8 horas diárias e 44 horas semanais previstas pela legislação.

Como consequência do “acordado sobre o legislado”, como é conhecida a medida, podem haver jornadas de trabalho de 24 horas ininterruptas, com dias e horários flexíveis, e redução de salários. Afinal, o desrespeito à jornada máxima de 8 horas diárias e 44 horas semanais é uma das infrações mais comuns em acordos coletivos feitos nos últimos anos, sem a contrapartida do pagamento de horas extras.  

No exterior, as atenções se voltam para a terceira e última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no trimestre passado (11h30). A versão anterior mostrou expansão de 3,2% da economia, mas espera-se uma melhora no dado na comparação com o segundo trimestre de 2016.

No mesmo horário, também serão divulgados os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e as encomendas de bens duráveis no mês passado. Depois, às 12h, sai o índice de preços de imóveis em outubro e, às 13h, é a vez do índice de preços PCE em novembro, composto por uma variação da renda pessoal e dos gastos com consumo.

À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York recuam, um dia após o Dow Jones não conseguir avançar para além dos 20 mil pontos, na sessão regular. As principais bolsas europeias também estão no vermelho, penalizadas pelo setor financeiro, um dia após o índice acionário da região atingir o maior nível do ano.

As ações dos bancos espanhóis e do italiano Monte dei Paschi di Siena estão no centro das atenções, diante da necessidade dessas instituições em levantar recursos para honrar obrigações financeiras. Na Ásia, o sinal negativo também prevaleceu, em uma sessão esvaziada. Entre as commodities, o petróleo e o cobre recuam, assim como o ouro, mas o dólar também perde terreno para os rivais.

O volume de negócios segue reduzido e a oscilação dos ativos é cada vez mais estreita, às vésperas das festas de fim de ano. Como resultado, os investidores aproveitam para realizar movimentos rápidos de embolso dos lucros recentes, diminuindo a exposição no risco. Nesse cenário em que todos os problemas políticos e os eventos inesperados na economia não foram precificados, a busca por proteção não tem valor e o melhor mesmo é tirar parte do dinheiro das mesas de operações.

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