Gestor aposta em papéis que estão ‘no chão’ para engordar retornos; veja quais

O Ibovespa já subiu cerca de 12% no ano, mas, para Leandro Saliba, head da área de renda variável da AF Invest, ainda há muita oportunidade na bolsa — especialmente em ações de empresas locais e mais alavancadas, que seguem com múltiplos deprimidos.
Segundo o gestor, em entrevista ao Money Times, a valorização do índice foi puxada principalmente pelo fluxo de investidores estrangeiros, que começaram o ano com forte entrada de capital.
No mês de julho, porém, a bolsa despencou 4%, enquanto houve uma saída líquida de R$ 6,27 bilhões em recursos externos, pior desempenho mensal desde abril de 2024, quando o saldo negativo foi de R$ 11,1 bilhões, segundo dados da Elos Ayta.
Ainda assim, Saliba vê um cenário de forte assimetria, sobretudo porque o ciclo de juros deve ter chegado ao fim.
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“Quando os juros começam a cair, o lucro das empresas cresce e o múltiplo se expande. Isso ainda não está no preço de várias ações, especialmente as mais alavancadas”, afirma.
Criada há 19 anos, a AF Invest administra cerca de R$ 4 bilhões em fundos que abrangem crédito, multimercado, ações, previdência e imobiliário, incluindo carteiras administradas e fundos exclusivos sob sua estrutura de wealth management.
O que está na carteira
Saliba divide sua carteira em grupos de empresas:
- exportadoras, com receita em dólar e menos dependência da economia local;
- pagadoras de dividendos, mais sólidas e com pouca necessidade de reinvestimento;
- empresas expostas aos juros, mas sem grande alavancagem;
- alavancadas, que ainda não conseguem distribuir dividendos expressivos, mas tendem a se beneficiar mais da queda da Selic.
O foco atual está nesse último grupo: cerca de 55% da carteira está concentrada em empresas alavancadas.
“Essas empresas negociam a múltiplos que só foram vistos em outras crises. E os resultados devem melhorar rapidamente com a redução da despesa financeira”, explica o gestor.
Entre os destaques estão Simpar (SIMH3) e Movida (MOVI3). No caso da primeira, ele projeta um salto de R$ 200 milhões para até R$ 700 milhões de lucro anual caso a Selic recue dos 15% atuais para 12%.
Economistas esperam que os juros comecem a cair entre o final do ano e o início do ano que vem.
Há exposição grande também no setor de educação, com duas empresas mais alavancadas que se beneficiarão da queda dos juros.
“Hoje é a maior posição do fundo”.
Dividendos gordos (de verdade)
Saliba também aponta oportunidades entre as pagadoras de dividendos. Um exemplo é a Melnick (MELK3), construtora de Porto Alegre que deve entregar dividend yield superior a 35% em 2025.
“Ela reduziu capital, recomprou ações e ainda vai distribuir mais. Mesmo após subir 20 vezes no ano, o múltiplo continua barato.”
Na mesma linha, ele cita Allos (ALOS3) — dona de shoppings — e Log Commercial Properties (LOGG3), empresa de galpões logísticos do grupo MRV.
Ambas enfrentam desafios de curto prazo, mas têm potencial de destravar valor nos próximos trimestres, em sua visão.
A ALOS3, por exemplo, pode se beneficiar da reforma do Imposto de Renda, que viabilizaria um pagamento de dividendos mais robusto, enquanto a Log ainda sofre com uma dívida cara (IPCA + 10% ao ano), mas possui ativos subavaliados.
Ibovespa? Só como referência
Apesar de acompanhar o índice, Saliba evita montar posições com base nele.
“O Ibovespa tem peso muito grande em commodities e bancos. É difícil prever preço de minério, celulose ou proteína animal. O foco aqui é em resultado: quanto de lucro e dividendos se compra por real investido.”
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Ele prefere ver o fundo como uma holding que adquire participação em empresas listadas. A lógica é simples: quanto mais ações em carteira, maior o ganho no longo prazo, especialmente se o reinvestimento for constante.
“Estamos comprando muito resultado ainda, mesmo após a alta da bolsa. E isso sem considerar os efeitos futuros da queda dos juros. O ciclo está só começando.”