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A batalha de reserva mundial: criptomoedas x dólar

17 nov 2019, 13:00 - atualizado em 30 maio 2020, 16:50
Presidente do Banco da Inglaterra prevê a adesão de criptomoedas para destronar o dólar (Imagem: Pixabay)

Desde o fim da libra esterlina, o dólar se tornou a moeda de reserva global. Agora, Marc Carney, presidente do Banco da Inglaterra, afirma que a próxima moeda de reserva pode ser digital.

Em uma reunião com bancários centrais em Wyoming no fim de agosto, o presidente do Banco da Inglaterra disse que o grande papel do dólar no mercado global está chegando ao fim e que já é tempo de um novo sistema financeiro internacional baseado em uma criptomoeda.

“As deficiências do sistema monetário e financeiro internacional se tornaram cada vez mais esmagadoras”, disse Carney.

Ele continuou a falar sobre os problemas iminentes em se confiar no dólar como moeda de reserva internacional e governamental em uma época de guerra entre mercados, taxas zero de juros e políticas econômicas disruptivas que podem despontar dos Estados Unidos e causar estragos em outras economias ao redor do mundo.

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Criptoativos podem ser a salvação para os países que querem fungir da sanção dos Estados Unidos (Imagem: Pixabay)

Uma moeda sintética e hegemônica

Uma criptomoeda poderia “enfraquecer a influência dominante do dólar americano no mercado global”, afirmou Carney, sugerindo que a próxima fase da solução monetária deveria ser a promoção de estabilidade ao mitigar o impacto da economia norte-americana em países menores.

A ideia não é nova. Em 1969, o FMI criou “direitos especiais de saque” — um ativo de reserva internacional acompanhado de uma cesta com outras cinco moedas. Mas esse instrumento monetário artificial pouco serviu no sistema financeiro mundial.

As sugestões de Carney refletem as da presidente do FMI, Christine Lagarde. Ela considerou a ideia de transformar os direitos especiais de saque em uma moeda digital global no fim de 2017.

Apelidada de IMFCoin, a proposta era de substituir o papel do dólar no mercado mundial por uma moeda de reserva que seria conectada aos maiores mercados financeiros mundiais.

Desde então, a Libra, criptomoeda do Facebook — que também conta com uma cesta de moedas globais —, retomou a discussão sobre moeda de reserva.

O esquema proposto por Carney poderia, teoricamente, tirar vantagem de desenvolvimentos recentes em tecnologia de blockchain para reduzir a dependência mundial no dólar.

“A vantagem principal de um sistema monetário e financeiro multipolar é a diversificação”, afirmou o presidente, sugerindo que novas tecnologias poderiam criar o que ele chama de “moeda sintética e hegemônica”.

Caso isso devesse ser disseminado ou não por uma rede de bancos centrais ou a partir do setor privado, ainda veremos.

Vários bitcoiners, como o austríaco e entusiasta econômico Saifesean Ammous, argumentam que o bitcoin se tornará a moeda padrão de reserva mundial.

Há quase 95 anos como moeda de reserva mundial, o dólar pode ser destronado por um criptoativo (Imagem: Pixabay)

A queda do dólar

Apesar de a proposta de Carney ser incomum, já que a Inglaterra é um dos maiores aliados dos Estados Unidos, há muitas dúvidas sobre o papel dominante do dólar no mercado mundial.

Os governos europeus e asiáticos tentaram destronar o dólar ao buscarem por alternativas de pagamentos internacionais sem utilizar a rede SWIFT — serviço quase cinquentenário que realiza mais da metade de todos os pagamentos interbancários mundiais e permite aos Estados Unidos se armarem do dólar para derrubar as atividades de mercado dos países sancionados.

Mas esse poder global está se dissolvendo gradualmente. Na Alemanha, começaram a desenvolver um sistema de pagamento independente que, de acordo com Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores, “aumentaria a autonomia e soberania de políticas econômicas, financeiras e de mercado da Europa” e permitiria negociações com países como o Irã, sancionado pelos Estados Unidos.

O Japão também está configurando uma rede internacional para pagamentos em criptoativos para atuar como uma alternativa à rede SWIFT, juntamente com outros países que buscam um desvio das sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos.

A China também está se apressando com seu yuan digital, e a Rússia está em contato com China, Índia, Irã e Turquia sobre uma alternativa à SWIFT, projetada para eliminar os riscos das sanções ocidentais.

Em combinação com a tempestade econômica perfeita de taxas de juros negativas e a guerra do dinheiro, esses poderiam ser esquemas-chave para o destronamento do dólar — que está chegando aos seus 95 anos como a moeda de reserva dominante.

Como sugere Carney, agora seria o momento perfeito de dar as boas-vindas a um novo sistema financeiro: “as deficiências do sistema monetário e financeiro internacional se tornaram cada vez mais esmagadoras. Até mesmo uma familiaridade com a história monetária sugere que esse elo é muito fraco.”