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5 ações expostas às enchentes e chuvas no RS (e o que esperar para os ativos)

27 maio 2024, 12:24 - atualizado em 31 maio 2024, 10:05
ações rio grande do sul
De acordo com analista, algumas ações podem se beneficiar por conta do cenário no estado gaúcho; saiba o que esperar (Imagem: Freepik)

(CORREÇÃO: Diferente do mencionado anteriormente, a SLC Agrícola não apresentou impactos por conta das chuvas que atingiram o estado gaúcho. No Rio Grande do Sul, a empresa conta apenas com a sua sede administrativa, que não foi atingida).

As autoridades brasileiras seguem acompanhando de pertos os danos das chuvas e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, com o mercado buscando entender os reflexos para as ações listadas na bolsa brasileira.

Nesta segunda-feira (27), a formação de um ciclone extratropical promete trazer volumes elevados ao estado, acendendo mais um alerta aos gaúchos.

Régis Chinchila, head de Research da Terra Investimentos, citou cinco empresas do agronegócio expostas ao cenário do estado e que podem sentir impactos negativos e positivos.

Entre as ações listadas por ele, estão: BRF (BRFS3), JBS (JBSS3), 3tentos (TTEN3), Camil (CAML3) e Marfrig (MRFG3).

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BRF (BRFS3)

Para Chinchila, a BRF enfrentou um cenário desafiador devido às intensas chuvas no Rio Grande do Sul. A região, que sofreu graves problemas logísticos, viu uma de suas cinco fábricas no estado, a unidade de Lajeado da Minuano Alimentos, interromper temporariamente as atividades.

“Esta foi a única fábrica da companhia que precisou suspender o funcionamento. Apesar das adversidades, todas as unidades voltaram a operar rapidamente, com a fábrica de Lajeado retomando suas atividades na última terça-feira (21). A empresa conseguiu superar os problemas de transporte e continuou a abater animais e a escoar a produção de carnes, graças à sua ampla rede geográfica que compensou os problemas locais”, pontua.

Ele ainda comenta que os impactos financeiros ainda estão sendo avaliados, mas que algumas consequências já foram vistas de forma imediata.

“Embora as operações fabris tenham sido mantidas, os custos aumentaram devido à necessidade de percorrer distâncias maiores para garantir a chegada de animais às plantas e a entrega dos produtos. Esses esforços logísticos adicionais implicaram em gastos extras com transporte e medidas de segurança para os funcionários”, coloca.

No entanto, a companhia destacou que as entregas não foram comprometidas, mitigando assim perdas maiores. Além disso, a BRF está trabalhando para apoiar os produtores integrados afetados, o que pode resultar em custos adicionais para a empresa.

“Durante uma teleconferência para apresentação dos resultados do primeiro trimestre de 2024, o CEO Miguel Gularte afirmou que a empresa continua focada em mitigar os impactos futuros e prestar suporte aos seus parceiros, mas ainda não há um valor exato dos prejuízos financeiros totais”, diz.

No curto prazo, a Terra projeta a possibilidade das ações apresentarem volatilidade. Dessa maneira, eles contam com recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de R$ 21. Já no médio prazo, a recuperação dos últimos trimestres, impulsionada pela queda nos preços dos grãos e aves, pode continuar a oferecer suporte às ações.

A expectativa é de que os custos se mantenham estáveis no segundo trimestre e possam diminuir na segunda metade de 2024, devido à maior oferta de insumos com a colheita da safrinha do milho, é um fator positivo. No longo prazo, se a BRF conseguir manter uma gestão eficiente dos custos e mitigar os impactos logísticos e operacionais das enchentes, as perspectivas são favoráveis, especialmente se a empresa aproveitar o aumento da oferta de insumos para reduzir ainda mais seus custos”, discorre. 

Para o Goldman Sachs, o frigorífico está exposto ao cenário gaúcho, o que poderia resultar em um impacto de 25 pontos-base e 115 pontos-base no Ebitda do segundo trimestre de 2024 (2T24), com base em precedentes históricos e com as informações que tem até o momento, dada a relevância da região no abate de suínos e na produção de soja.

JBS (JBSS3)

As intensas chuvas no Rio Grande do Sul impactaram a JBS, empresas responsável por uma significativa parcela dos abates nacionais de carne suína, frango e bovina, além de áreas plantadas de soja e milho.

No momento, todas as fábricas da empresa no estado estão operando, exceto a unidade de Roca Sales, que deve retomar as atividades na próxima semana após um processo de limpeza.

O estado do Rio Grande do Sul tem um papel importante no agronegócio brasileiro, sendo responsável 17%, 13% e 5% do total de abates nacionais de carne suína, de frango e bovina, respectivamente. Além disso, o estado conta com 15% e 4% da área total plantada de soja e milho no país.

“O impacto financeiro das chuvas ainda está sendo avaliado pela JBS. Algumas unidades ficaram paralisadas por mais de um dia, mas a companhia ainda não quantificou as perdas materiais, priorizando a ajuda às comunidades afetadas. A empresa tomou medidas como a antecipação do 13º salário para seus funcionários, totalizando cerca de R$ 30 milhões, e a doação de alimentos, água, produtos de higiene, colchões e cobertores”, comenta o head da Terra.

No curto prazo, as ações da JBS podem apresentar volatilidade devido às incertezas relacionadas aos impactos das enchentes e os custos adicionais envolvidos nas ações de mitigação. No entanto, a expectativa é de que a empresa consiga trabalhar para mitigar grande parte dos impactos dentro do trimestre.

No médio prazo, a estabilidade dos preços dos grãos, uma matéria-prima crucial, e a possibilidade de queda nos custos devido ao aumento dos estoques de soja e milho nos Estados Unidos, podem beneficiar a JBS.

No longo prazo, se a JBS mantiver uma gestão eficiente dos custos e continuar a apoiar as comunidades e seus funcionários, as perspectivas são positivas.

A empresa pode se fortalecer ainda mais com a recuperação do processo produtivo e a estabilidade nos custos de produção. Portanto, apesar dos desafios imediatos, a JBS tem potencial para superar as adversidades e continuar crescendo, tornando suas ações uma opção atrativa para investidores a médio e longo prazo.

A recomendação da Terra Investimentos para o frigorífico é de compra, com um preço-alvo de 12 meses em R$ 36.

“A empresa se beneficia de uma dinâmica favorável e de longo prazo tanto para o frango quanto para a carne suína nos Estados Unidos. Apesar da exposição a um mercado de carne bovina fraco nos EUA, a JBS tem conseguido melhorar suas margens e apresentar resultados positivos”, complementa. 

Marfrig (MRFG3)

Apesar das chuvas, as operações da Marfrig na região seguiram dentro da normalidade. Rui Mendonça, CEO da Operação América do Sul da Marfrig, afirmou que as quatro unidades da empresa no estado não foram diretamente afetadas pelas inundações, pois estão localizadas em áreas não impactadas.

Além disso, o Porto de Rio Grande, por onde os produtos são exportados, também manteve suas operações sem interrupções.

A Marfrig continua a operar normalmente e está na fase final de um acordo significativo de venda de 16 plantas de abate para a Minerva (BEEF3), o que deve gerar um incremento de R$ 6 bilhões em seu caixa, segundo a Terra.

No curto prazo, as ações da Marfrig podem continuar estáveis devido à normalidade das operações no RS e a proximidade da conclusão da venda das plantas de abate, que deve melhorar a liquidez da empresa.

No médio prazo, a diversificação geográfica e de produtos, juntamente com a recuperação esperada do mercado de proteína animal em 2024 e 2025, pode fortalecer a performance das ações.

Para o longo prazo, a consolidação da Marfrig como controladora da BR Foods e a recuperação do setor nos EUA devem proporcionar um crescimento mais sustentável, potencialmente refletindo positivamente no valor das ações.

“Para o investidor, o momento pode ser favorável para investir na Marfrig e a nossa recomendação de compra com um preço alvo de R$ 14 indica uma perspectiva positiva. A empresa está em um ponto estratégico de redução de endividamento e expansão do portfólio, o que pode levar a uma valorização das ações. Contudo, é importante considerar os riscos ligados ao endividamento e as condições de mercado global para proteína animal”, enxerga. 

3tentos (TTEN3)

A 3tentos apresentou desafios devido ao excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, o que resultou em um volume maior de grãos de soja avariados. 

Apesar disso, a empresa está operando normalmente, recebendo os grãos e realizando a preparação necessária para exportação e industrialização, garantindo que a soja atenda aos padrões exigidos.

As unidades industriais em Ijuí e Cruz Alta estão funcionando plenamente, enquanto apenas a unidade de Cachoeira do Sul ainda aguarda a baixa das águas para retomar as atividades.

Até o momento, a 3tentos não relatou impactos financeiros específicos decorrentes das chuvas. A empresa observou uma queda na estimativa da safra de soja do estado, de 23-24 milhões de toneladas para 21-22 milhões de toneladas, mas ainda considera a safra boa.

A empresa continua a fornecer ração, óleo de soja e biocombustíveis, assegurando a continuidade da cadeia de suprimentos.

No curto prazo, as ações da 3tentos podem apresentar alguma volatilidade devido às incertezas climáticas e logísticas, mas a Terra vê resiliência e capacidade de adaptação da empresa.

No médio prazo, espera-se uma melhora contínua nos resultados, impulsionada pela abertura de novas lojas e pela entrada em operação da nova indústria em Vera, o que já está contribuindo positivamente para a receita deste ano.

No longo prazo, com a expansão planejada e a nova fábrica em funcionamento, as perspectivas são favoráveis para um crescimento sólido dos resultados da companhia.

A Terra Investimentos mantém uma recomendação neutra para as ações da 3tentos, com um preço-alvo de 12 meses em R$ 14,00.

Embora a empresa esteja bem posicionada para enfrentar os desafios e continuar crescendo, os potenciais ganhos já podem estar refletidos nos preços atuais das ações. Para investidores que buscam estabilidade e estão dispostos a acompanhar a evolução da empresa no médio e longo prazos, pode ser um bom momento para considerar um investimento”, discorre.

No entanto, ele afirma que para aqueles que preferem minimizar riscos imediatos, pode ser prudente adotar uma abordagem de espera até que os impactos das chuvas sejam totalmente compreendidos e a situação logística esteja completamente normalizada.

Camil (CAML3)

A maior fabricante de arroz do Brasil foi impactada pelas fortes enchentes no Rio Grande do Sul, estado responsável por 70% da produção nacional de arroz, com a chuva causando perdas em lavouras não colhidas e em grãos armazenados em silos.

Contudo, aproximadamente 85% da safra de arroz do estado já havia sido colhida antes das chuvas, o que limitou o impacto. A empresa descartou qualquer risco de desabastecimento no mercado interno e afirmou que o fornecimento ao varejo segue normalizado.

“Até o momento, a Camil ainda não quantificou os impactos financeiros exatos das chuvas, pois a prioridade tem sido ajudar as comunidades afetadas. A empresa está em processo de avaliação dos volumes perdidos e dos custos adicionais devido às questões logísticas de escoamento, o que traz um senso de cautela. A dificuldade de abastecimento no curto prazo é devido a rodovias bloqueadas, mas a empresa está estudando alternativas como o uso de cabotagem para garantir o fornecimento ao mercado paulista”, vê Chinchila. 

No curto prazo, as ações da Camil podem sofrer alguma volatilidade devido às incertezas relacionadas aos impactos das enchentes e aos custos logísticos adicionais.

No médio prazo, a expectativa é de preços sustentados para o arroz, pelo menos até a entrada da safra 2023/24 no mercado. A eventual redução da alíquota de importação para arroz de fora do Mercosul pode impactar os preços no mercado doméstico.

No longo prazo, a Camil deve continuar a manter um fornecimento adequado ao mercado interno, mitigando riscos de desabastecimento e se beneficiando de sua capacidade de importação e adaptação logística.

A recomendação da Terra Investimentos para as ações da Camil é neutra, com um preço-alvo de R$ 12,50 em 12 meses.

“Investidores com um perfil de risco mais elevado podem considerar a possibilidade de investir agora, aproveitando o valuation atual, enquanto aqueles mais conservadores podem preferir aguardar uma maior clareza sobre os impactos financeiros e operacionais no médio prazo”, pondera.

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