Comprar ou vender?

5 maneiras de ganhar no Brasil macunaíma: como bater um mercado imprevisível?

23 maio 2020, 20:38 - atualizado em 24 maio 2020, 12:35
Macunaíma
(Imagem: Reprodução/Capa do Livro Macunaíma)

– Macunaíma! ôh Macunaíma!
– Deixa a gente dormir, aruaí…
– Acorda, herói! É de-dia!
– Ah…que preguiça!…
– Pouca saúde e muita saúva,
Os males do Brasil são!

O Brasil é macunaíma, assim, como adjetivo. Nem precisamos gastar mais linhas para justificar que por aqui tudo parece incontrolável, imprevisível, talvez sem caráter como o próprio Macunaíma.

Nesta caminhada meio bêbada das projeções, que se embriagam assim que enfrentam a realidade do País, vivemos em meio a desafios que talvez só o Saci de Botucatu pudesse ser o culpado mais verossímil.

Abaixo, listamos 5 estimativas de ativos financeiros que são feitas no Brasil de hoje, sob a ciência das intangibilidades a que somos ameaçados. Mas também com a certeza de que os ambientes voláteis são os que trazem as melhores oportunidades.

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Vale a pena comprar dólar, mesmo a R$ 5,50? (Imagem: Reuters/Mohamed Abd El Ghany)

1 – Para onde vai o dólar?

Para o Bank of America, que espera mais um corte da Selic no mês que vem, em 75 pontos-base para 2,25% ao ano, e uma queda de 7,7% para o PIB em 2020, o dólar no Brasil custará em torno de R$ 6 no segundo trimestre. Depois, R$ 5,90 no terceiro trimestre e R$ 5,85 no último e no primeiro de 2021.

Os estrategistas Claudio Irigoyen e Gabriel Tenorio avaliam que os bloqueios de contato social podem permanecer até junho ou julho como resultado do número crescente de casos e mortes de covid-19. Como resultado, o lado fiscal deve se deteriorar dramaticamente.

“Do lado político, o governo Bolsonaro perdeu três ministros no meio da crise. O barulho político provavelmente permanecerá enquanto o Procurador Geral da República (PGR) coleta evidências para decidir se ele apresentará uma acusação formal contra Jair Bolsonaro e o ruído político pode afetar a agenda de reformas e a normalização fiscal no próximo ano”.

A bolsa brasileira não olha para o Brasil? (Imagem: Unsplash/@fossy)

2 – O Ibovespa é “raiz”

“As ações brasileiras são candidatas ideais para uma recuperação”, disseram os estrategistas do Goldman Sachs em um relatório enviado a clientes nesta semana. Eles recomendaram uma posição comprada no Ibovespa (IBOV) com alvo de curto prazo de 90.000 pontos, ou cerca de 9% acima dos níveis atuais. Este patamar ainda seria 22% abaixo do nível em que o índice encerrou o ano passado.

“As ações brasileiras em dólares foram o ativo de pior desempenho em meio da liquidação total dos mercados emergentes, e recomendamos aos investidores que comprem muito na Bovespa, dada a sua capacidade de recuperação atrelada à melhora do risco global e sua estreita relação histórica com os preços das commodities”, destacam os analistas. Ou seja, nossa Bolsa vai com o mundo, não com o Brasil, à princípio.

O app é grátis, todo mundo quer, mas ninguém quer pagar? (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)

3 – Inter, um banco bom sem lucros?

Banco Inter (BIDI11) apresentou algo raro no setor bancário brasileiro: um balanço com prejuízo. Prejudicado pela marcação a mercado de títulos e valores mobiliários em tesouraria, o banco fechou o primeiro trimestre com prejuízo líquido contábil de R$ 8,4 milhões.

Os primeiros relatórios divulgados reafirmam a convicção de que a instituição está no bom caminho e que o resultado é apenas um tropeço. Para o BTG Pactual, a conjugação da queda acumulada de 39% do papel, neste ano, com a precificação de US$ 1,1 bilhão na Bolsa transforma o Banco Inter numa grande oportunidade de investimento, mesmo com a rentabilidade (ROE) de um dígito e a pandemia fazendo sombra sobre novos projetos.

Mas a visão não é unânime. “Apesar dos avanços operacionais capazes de encher os olhos e sustentar uma tese de crescimento, ainda vemos pouca desenvoltura na rentabilização da base de clientes”, alerta o BB Investimentos. Os analistas veem o Inter como uma “árvore cada vez maior, mas nada de frutos”.

Enquanto o BTG diz “compre” as ações (BIDI11) com preço-alvo de R$ 36 e potencial de valorização de 35,5%, o BB carimba uma recomendação “neutra” para os papéis (BIDI4) com projeção de R$ 11,90 e potencial de 27%.

Nós vamos continuar comprando pela internet? E se ninguém estiver em casa para receber? (Imagem: Gustavo Kahil/Money Times)

4 – Via Varejo, o reflexo do novo normal?

As ações da Via Varejo (VVAR3) têm força para continuar a sua recuperação e reconquistar o nível dos R$ 16, pico atingido antes dos efeitos da pandemia do coronavírus? Para alguns analistas, sim. Em abril, a empresa alcançou 70% da meta de vendas planejada antes da crise, com o forte desempenho no comércio eletrônico e iniciativa de vendas assistidas, juntamente com a reabertura de 220 lojas.

Os papéis negociam hoje a R$ 9,70. A diferença representa uma valorização de aproximadamente 65%.

“Três meses se passaram e a empresa está em uma forma muito mais forte do que muitos investidores esperavam, com o canal de comércio eletrônico crescendo e as lojas gerando receita por meio de vendas remotas”, explica o Bradesco BBI. Segundo o banco, que recentemente ampliou o preço-alvo para os ativos da dona do Ponto Frio e da Casas Bahia de R$ 9 para R$ 11, dependendo das condições de mercado, o valor de R$ 16 pode ser alcançado.

“A retomada no comércio eletrônico da Via Varejo está a todo vapor, provavelmente aumentando a confiança dos acionistas”, ressalta o Santander. A estimativa é de um preço-alvo de R$ 13. Já o BTG Pactual decidiu elevar a recomendação para as ações da Via Varejo para compra, baseado na “perspectiva brilhante de curto prazo”. O preço-alvo também subiu de R$ 8 para R$ 13.

Vale lembrar que os analistas chamam a atenção para o caixa da companhia, considerado um tanto justo para enfrentar a pandemia. O índice de liquidez varia de 0,6 vez o caixa sobre compromissos de curto prazo, a 1 vez (com ajustes para otimizar o desempenho online e offline), e 4,5 vezes, juntando recebíveis ainda não descontados.

Todo mundo está em casa e fica feliz quando as encomendas chegam. Mas e quando ninguém estiver para recebê-las?

Você quer voltar para o escritório? Mas será que ainda haverá um? (Imagem: Money Times/Gustavo Kahil)

5 – O home office irá afetar os fundos imobiliários?

A tendência de adoção do home office em contrapartida aos escritórios não irá afetar em grande parte os fundos imobiliários de lajes corporativas. Esta é a visão de alguns gestores consultados pela XP Investimentos entre os dias 13 e 19 de maio.

Apesar do aumento do trabalho remoto no dia-a-dia levar as empresas a demandarem menos espaços físicos, por outro lado, a maior adoção de medidas preventivas implicaria em maior demanda de área dado a necessidade de distanciamento.

Para 50% dos gestores esses dois efeitos devem se balancear e não implicar em grandes mudanças na demanda. Outros 23% esperam que a demanda se concentre nos principais centros comerciais (Faria Lima-Vila Olímpia e Paulista).

Cerca de 9% esperam uma menor demanda por espaço físico pelas empresas devido ao home office, 5% acreditam em demanda maior em razão das medidas preventivas de segurança ao colaborador e 14% ainda enxergam o cenário com pouca visibilidade.