Bancos, elétricas, FIIs, IPCA+: os cinco melhores investimentos para se proteger da inflação
Até o começo do ano, a palavra inflação estava um pouco sumida do vocabulário dos consumidores. Apesar da alta dos alimentos, que vem desde 2020, havia uma expectativa de que o aumento de preços terminasse o ano controlado em 3,34%.
De lá para cá, a crise hídrica se mostrou muito mais grave do que se pensava, uma geada provocou estragos em plantações do Sul e Sudeste brasileiro, e as commodities, como o petróleo, dispararam, o que pressionou os combustíveis. Somado a isso, há o cenário político instável. Resumo da ópera: o que temos hoje é uma inflação que começa a se generalizar e preocupar economistas.
O Boletim Focus, que mede o consenso do mercado financeiro sobre os principais indicadores da economia, já aponta um IPCA, o principal índice que mede a inflação no país, em 7,58%, bem acima da meta oficial do Governo (3,75%). Além disso, pelo menos outros três grandes bancos, como Bank of America, Santander e JPMorgan, elevaram o IPCA para mais de 7%, citando a conta de luz mais salgada.
Nesta semana, o IBGE divulgou alta de 0,87% no IPCA, a taxa mais elevada para o mês desde 2000 (+1,31%), e acima da expectativa de 0,71%. O dado levou a taxa acumulada em 12 meses até agosto a 9,68%, de 8,99% no mês anterior.
Diante disso, o investidor precisa tomar certos cuidados para não ver seus ativos se deteriorarem por conta da escala de preços. O Money Times conversou com especialistas para indicar os melhores investimentos para se proteger, e quem sabe, até ganhar com a alta da inflação.
1 – IPCA+
Sim, a renda fixa voltou a ganhar os holofotes em meio às incertezas econômicas e da subida da Taxa Básica de Juros (Selic), que hoje está em 5% mas que já chegou a 2,5% no começo do ano e pode terminar 2021 em 7%.
Segundo o head de renda fixa da Vitreo, Gabriel Mallet, nesse momento a renda fixa é um bom investimento para se proteger da inflação e dessa turbulência.
“A renda fixa é um porto seguro porque protege da volatilidade e se não vender antes da data de vencimento o retorno é garantido”, afirma.
Dentro desse universo, um papel lembrado pelos analistas foi o IPCA+. Esse título é atrelado à inflação, ou seja, quanto maior o índice maior a rentabilidade. Além disso, o papel possui um prêmio de risco que varia de acordo com o cenário econômico do país, lembra Gabriel Ribeiro, head de produtos da Messem Investimentos.
“Por exemplo, risco de ruptura fiscal. Isso é um problema? Sim. Então esse prêmio aumenta. Quanto pior a conjuntura, como crise hídrica e a situação fiscal, pior. Do contrário também é válido: quando há notícias positivas esse prêmio diminui. O que a gente tem hoje? É uma piora do cenário com um período pré-eleitoral e questões hídricas”, argumenta.
O Santander também indica o IPCA como o título para ter neste momento, citando como vantagens a rentabilidade real, ou seja, protegida contra alta do IPCA e os juros compostos, isto é, a rentabilidade mensal é automaticamente reinvestida.
2 – CDBs
O investidor também tem a opção de emprestar valores para os bancos. Esses Certificados de Depósito Bancário (CDB) garantem às instituições financeiras fechar o dia no azul e financiar suas atividades. Em troca, os bancos devolvem o dinheiro mais juros. E mais uma boa vantagem: os CDBs também podem ser atrelados à inflação.
Segundo os especialistas consultados pelo Money Times, os certificados bancários têm pago boas taxas e são uma ótima opção defensiva. Apesar disso, é preciso tomar cuidado com o leão: tanto os CDBs quanto os títulos de Tesouro Direto pagam Imposto de Renda.
Além disso, Mallet afirma que o investidor não pode perder de vista a diversificação. “No Brasil é difícil saber para que lado ocorrer, então o melhor é ter uma parte pré-fixada, uma parte no CDI e uma parte no IPCA. Você precisa de uma diversificação de carteira. Se você colocar na mesma cesta todos os ovos, eles vão quebrar”, argumenta.
3 – Debêntures
Além de bancos e o Governo, é possível emprestar para empresas. Segundo Ribeiro, esses títulos são atrelados à inflação e boas opções para diversificar o portfólio. Outro ponto é que no caso das debêntures incentivadas, normalmente emitidas para financiar grandes obras de infraestrutura, há isenção de Imposto de Renda.
E sim, o pequeno investidor pode participar. Antes direcionado para o investidor institucional, hoje há debêntures com investimento inicial de R$ 1 mil.
O analista também lembra a importância de olhar o rating do crédito privado da companhia, que é emitido pelas agências de classificação de risco, como Fitch, Standard and Poor’s e Moody’s. Se ele tiver uma classificação com três letrinhas AAA, significa que tem baixo risco de crédito. Entretanto, a liquidez desses ativos tende a ser menor.
4 – Ações
Mesmo com a escalada da taxa Selic, que prejudica, de certa forma, as ações, há setores dentro da Bolsa que se beneficiam do IPCA.
De acordo com Victor Hasegawa, gestor de ações da Infinity Asset, empresas com contratos indexados a indicadores de inflação tendem a ganhar, como elétricas e concessões públicas.
Ele lembra ainda dos supermercados por conta da disparada dos preços dos alimentos. “As pessoas precisam comer. Não vão deixar de comprar a sua cesta básica. No varejo alimentar, o preço mais alto gera uma receita maior para o supermercado, melhorando a margem e o lucro”, diz.
André Querne, sócio da Rio Gestão, também cita o setor elétrico, especialmente as transmissoras.
“As empresas de transmissão são as que melhor se protegem devido ao baixo índice de inadimplência. São o meio do caminho entre as geradoras e as distribuidoras”, pontua.
Segundo ele, o IPCA mais alto pode provocar um aumento da inadimplência entre os consumidores, no caso das distribuidoras. Já as geradoras sofrem com a crise hídrica que assola o país.
Outro setor lembrado foi o bancário, com spread de juros mais altos, e as seguradoras, que foram afetadas enormemente no primeiro semestre devido à alta da sinistralidade. “As seguradoras recebem antes de ter que pagar. Com isso, geram bastante caixa e isso fica aplicado em operações financeiras”, lembra.
Contudo, o analista afirma que a correlação não é de 100% e que outros fatores também estão em jogo. Por exemplo: a alta de juros pode diminuir o crescimento econômico, prejudicando todas as empresas.
5 – Fundos Imobiliários
Os fundos imobiliários foram bastante prejudicados pela crise da Covid, sendo que parte deles ainda não se recuperou completamente do tombo. Mas essa classe de ativos também é um bom instrumento de proteção da inflação.
Segundo Gabriel Teixeira, da Ativa Investimentos, o investidor, antes de tudo, precisa olhar o segmento do fundo. “No longo prazo, fundos de shoppings e lajes corporativas conseguem se proteger da inflação. Se comparar o IFIX com a inflação dá para ver esse ganho. Mas em períodos mais curtos pode ser que não seja passado a inflação total”, argumenta.
Tanto shoppings quanto lajes corporativas ainda sofrem com a alta vacância, o que torna o repasse da inflação nos aluguéis dos inquilinos mais complicado.
“Os fundos precisam negociar com os seus inquilinos para mantê-los. As condições de mercado não favorecem tanto no momento. Cenário diferente para os galpões, onde com a demanda aquecida por conta do e-commerce os proprietários conseguem repassar os valores da inflação para os contratos”, diz.
Para os analistas Marcelo Serrano, Larissa Nappo e Marcelo Potenza, do Itaú BBA, os fundos de papel podem ser uma proteção já que se os juros sobem, os rendimentos dos Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRIs) indexados ao CDI também crescem, o que impulsiona os retornos dessas cotas.
Fundos de papéis são ativos que investem em outros títulos imobiliários, como os CRIs.
No caso dos fundos de tijolos, o trio afirma que o gestor consegue repassar a pressão dos preços para o locatário por meio dos reajustes anuais, aumentando o valor do aluguel eventualmente até acima da inflação oficial.
“Mas para que isso aconteça, a economia precisa estar bem, com demanda aquecida por imóveis para locação e com empresas mais confiantes”, ressaltam.