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5 ações ‘sobreviventes’ ao primeiro semestre do Ibovespa (IBOV); veja quais os gatilhos para a Bolsa voltar a andar

26 jun 2024, 8:00 - atualizado em 25 jun 2024, 16:10
ações ibovespa
Em meio ao primeiro semestre turbulento do Ibovespa, 5 ações se descolaram do índice e acumularam alta expressiva (Imagem: Freepik)

O Ibovespa (IBOV) enfrenta um primeiro semestre tenebroso, com queda acumulada de quase 10%, oscilação no patamar dos 120 mil pontos e forte saída de fluxo estrangeiro. No pano de fundo, taxa Selic elevada (e pausada), um corte de juros nos Estados Unidos que parece não chegar nunca e um risco fiscal que assombra o mercado.

Apesar do cenário turbulento em várias frentes, cinco ações parecem não sentir os desafios enfrentados pelo principal índice da Bolsa brasileira, e acumulam alta semestral que chega a 68%.

Embraer (EMBR3), BRF (BRFS3), Cielo (CIEL3), Cemig (CMIG3) e JBS (JBSS3) conseguiram se “descolar” do desempenho negativo do IBOV e, até o dia 17 de junho, acumularam alta de 68,87%, 31,79%, 24,78%, 15,12% e 11,56%, respectivamente.

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Ibovespa apanha do cenário doméstico e do exterior

Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações do Itaú BBA, divide o primeiro semestre de 2024 em dois momentos. No primeiro, logo no início do ano, a baixa da Bolsa foi impulsionada por um fenômeno global, tendo em vista que existia expectativa para um corte de juros nos Estados Unidos em março, que foi postergado.

A “arquitetura de mercado” é outro fator de impacto neste primeiro bloco, afirma Gewehr. O estrategista do BBA explica o que o investidor procurou teses seculares — de alto crescimento, como as techs — que não são encontradas no índice brasileiro, o que ajuda a explicar o desempenho. O setor de tecnologia foi um grande destaque no mundo no período, mas o Brasil tem apenas 1% no setor.

No segundo bloco, de abril até junho, o cenário doméstico começou a pesar sobre o índice, explica o analista, com a questão fiscal levando ao aumento do juro real que o investidor requer para o país. Além disso, um agravante foi a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) em que foi decidido o corte de 0,25 ponto percentual na Selic, mas com divisão dos votos dos diretores.

Gewehr comenta que essa dissonância levantou dúvidas no investidor sobre se o Banco Central será mais dovish — suave —, com uma menor preocupação com inflação, requerendo um prêmio de risco maior.

A analista Larissa Quaresma, da Empiricus Research, pondera que houve uma piora marginal de um cenário internacional, o que impacta as ações emergentes. Na virada do ano de 2023 para 2024, o mercado precificava entre seis e sete cortes de juros nos Estados Unidos, e agora precifica entre um e dois.

No entanto, ela destaca que o cenário de corte de juros lá fora permanece, o que deveria reduzir o impacto negativo no IBOV. Mas, segundo ela, há um fator extra: o ambiente doméstico se deteriorou na margem.

“Essa desancoragem de expectativa de inflação tem preocupado o mercado e vem muito do fiscal.  Eu acho que vem do déficit nominal mais alto do que a meta. Tivemos várias coisas menores nessa linha, como a mudança da meta de 2025, algumas declarações da ala mais política do governo dizendo que precisa investir, não pode deixar de investir nos povos. Então, o mercado passou a precificar um país de um governo mais gastador”, aponta.

Quaresma pondera que isso faz a curva de juros futuros embutir prêmio e isso é aumento de custo de capital “na veia” para as empresas. Nesse cenário, o investidor passa a exigir um retorno muito maior para investir em ações e, com isso, o preço corrige.

Ela acrescenta que a questão de intervenção de empresas por parte do governo, tanto estatais quanto ex-estatais, mexem com o índice e corrobora para uma percepção de risco-país maior.

Por que essas 5 ações se descolaram do IBOV?

Quaresma comenta que todas as ações que, até o dia 17 de junho, tiveram um desempenho expressivo contrário ao do Ibovespa contaram com fatores bem específicos da própria companhia ou até mesmo do setor em que atuam, descolados do cenário macroeconômico.

Embraer

No caso da Embraer, Quaresma comenta que a companhia está se beneficiando de um cenário competitivo muito favorável, com as dificuldades que sua rival Boeing enfrenta.

O Boeing 737 Max teve uma série de problemas de segurança que levantaram questionamentos sobre todo o processo de fabricação das aeronaves da companhia. Com isso, Embraer e Airbus se beneficiam.

Além disso, a analista pontua que o cenário de conflitos geopolíticos gera um nível de demanda positivo para a empresa, que ganha um grande volume de pedidos.

BRF e JBS

Sobre BRF e JBS, ambas do setor de proteínas, Quaresma avalia que se beneficiam de um dólar mais alto, que sobe mais de 10% no ano. Isso porque as companhias têm boa parte das receitas dolarizadas.

Além disso, recentemente a China suspendeu a importação de carne europeia, direcionando toda a demanda do país para a carne latino-americana, o que beneficia as companhias do setor, explica a analista.

Cielo

Aa Cielo enfrenta um processo de deslistagem por decisão de seus controladores, o Bradesco e Banco do Brasil. Nesse sentido, Quaresma pondera que todo o movimento da ação girou em torno de qual seria o preço de fechamento de capital, que tudo indica que será em torno de R$ 5,60, corrigido pelo CDI.

Ela aponta que a companhia vem perdendo participação de mercado e o cenário de juros altos entra como mais um fator que atrapalha a Cielo.

Cemig

Sobre Cemig, a analista aponta que a alta pode estar relacionadas à expectativa de privatização, tendo como pano de fundo o avanço do processo da Sabesp em São Paulo.

Ela comenta que, a despeito do direcionamento do governo federal no sentido contrário, alguns governos estaduais são mais liberais, como o de Minas Gerais, tornando a privatização da Companhia Energética do Estado uma possibilidade real.

3 gatilhos para a Bolsa voltar a andar

Para Quaresma, há três gatilhos possíveis para a Bolsa voltar a andar no segundo semestre:

  • A indicação de um diretor para o Banco Central mais técnico e ortodoxo, o que causaria uma queima de prêmio na curva de juros e beneficiaria as ações;
  • Ajuste fiscal, com medidas que aproximem o governo da meta de déficit zero, como redução dos programas de transferência de renda, coibição de fraudes e contingenciamento de gastos;
  • Corte efetivo de juros nos EUA, sendo este o principal gatilho.

” O estrangeiro é responsável por mais da metade do valor negociado diariamente na nossa Bolsa. Então, tudo que vem lá de fora tem um impacto muito grande aqui no Brasil”, pondera.

Com qualquer um desses três gatilhos acontecendo, não é uma loucura o Ibovespa subir, segundo a analista, tendo em vista que está partindo de um valuation muito barato.

Em maio, o Itaú BBA realizou uma pesquisa com 168 gestores, questionando qual a taxa de juros que tem entrada de fundo na bolsa, tendo como resposta padrão “9%”. O estrategista Daniel Gewehr aponta que hoje as curvas da Selic apontam 10,5% e lembra que, olhando historicamente, é preciso uma taxa de juros em um só dígito para incentivar a entrada de investidores na Bolsa.

A pesquisa abordou ainda qual são os direcionadores para a Bolsa nos próximos 6 meses, e a principal resposta, de 79% dos entrevistados foi “Federal Reserve”.

“No final, estamos expostos a uma questão global e eu ainda colocaria uma classificação, o Fed vai ajudar a gente se ele estiver no quadrante do pouso suave, porque se o Fed cortar juros de maneira rápida, porque a economia americana entrou em recessão, não vai funcionar”.

Em quais setores apostar?

Em meio ao período complexo enfrentado pela Bolsa brasileira, com fatores domésticos e internacionais pesando sobre o índice, apostar em setores com exposição cambial ao dólar alto é um bom caminho, avalia o estrategista do Itaú BBA.

Gewehr aponta que empresas com receita dolarizada vão bem nesse cenário. É o caso do setor proteínas, como a BRF, e de petróleo, com exposição do BBA em Prio e Petrobras. Além destes, ele destaca utilities e setor elétrico como interessantes para se olhar.

O estrategista explica que o setor de shopping também está interessante, sendo a maneira menos cíclica de comprar exposição ao consumo.

Já as construtoras de baixa renda são empresas que com rentabilidade e patrimônio bem altos, acima de 20%, e vão pagar um dividendo crescente e interessante em 2024, 2025. Nesse setor, o estrategista destaca Direcional como um case interessante.

O setor financeiro também é apontado com positivo em um cenário de desemprego baixo e aumento do crédito ao consumidor, além de ser um setor que paga bons dividendos. No portfólio do BBA, estão nomes como Banco do Brasil e BTG Pactual.

Por fim, o analista comenta sobre o setor de papel e celulose, que conta com um valuation interessante, com destaque para Suzano e Klabin.

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A analista Larissa Quaresma, da Empiricus, complementa que, com a expectativa de uma Selic em 10,5% até o final desse ano, o cenário para empresas mais alavancadas fica muito ruim.

“A gente tinha nas nossas carteiras algumas teses de desalavancagem. Com perspectiva de Selic maior, essas teses perdem muita atratividade. Então, na margem a gente substituiu algumas dessas empresas mais alavancadas por exportadoras, ou do agronegócio, ou de óleo e gás”. Ela destaca Prio e SLC Agrícola.

Em linha com a avaliação do estrategista do BBA, Quaresma explica que houve uma dolarização da carteira para atravessar o atual momento, até que ocorra gatilho de melhora. Ela explica que é importante buscar empresas que são defensivas, com maior classificação de mercado, uma boa saúde financeira e pouco alavancadas.

“Se não for um setor defensivo, como o financeiro ou o setor elétrico, que a gente tem um peso muito grande, pelo menos que seja uma empresa líder no seu setor que ela é mais resiliente por natureza” explica. Entre os defensivos e líderes do setor, destaca Itaú.