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4 sinais para saber se a economia vai andar (ou não) em 2020, segundo o UBS

23 jan 2020, 16:54 - atualizado em 23 jan 2020, 16:54
Exportações: comprar bens caros e exportar commodities prejudica indicadores, segundo o UBS (Imagem: Divulgação/Porto do Açu)

Os indicadores econômicos não servem apenas para o ocupar o tempo no noticiário. Se bem interpretados, dão pistas preciosas sobre as tendências do mercado. Por isso, o UBS recomenda que fiquemos de olho em quatro sinais que mostrarão o rumo da economia neste ano.

São quatro pares de curvas cuja tendência precisa convergir – caso contrário, o otimismo com a recuperação do PIB pode se mostrar excessivo. “Muitas séries de dados econômicos tendem a se relacionar estreitamente com o tempo”, afirma o UBS. “Contudo, algumas vezes, grandes desvios podem ocorrer, o que geralmente é um sinal de que algo importante está acontecendo”, diz.

“Quando as séries se movem para restabelecer a relação equilibrada, pode haver um grande impacto sobre a economia e o preço dos ativos”, acrescentam os analistas Tony Volpon e Fabio Ramos, que assinam o relatório.

As curvas que precisam convergir para mostrar que a economia voltou aos trilhos, segundo o UBS, são as seguintes:

Produção industrial versus vendas no varejo

O banco suíço lembra que a maior divergência entre a produção industrial e as vendas no varejo concentra-se nos setores de bens de capital e bens duráveis. As dificuldades da indústria provêm, em parte da crise argentina, já que nossos vizinhos são os maiores compradores de bens manufaturados brasileiros. Já na ponta do varejo, o destaque fica para a retomada das vendas de materiais de construção.

Argentina: queda das importações do vizinho atrapalha só um pedaço da economia (Imagem: Reuters/Marcos Brindicci)

O problema, segundo o UBS, é que a Argentina é responsável apenas por uma parcela de nossa produção industrial anêmica. O fato é que “a indústria, no Brasil, apresenta um relativo declínio há décadas, algo que piorou desde o bom das commodities de 2003 a 2011.”

Relação entre os termos de troca e a taxa de investimentos

O UBS observa que, durante décadas, houve uma relação positiva entre a taxa de investimentos e os termos de troca de nossos produtos. Traduzindo: quanto maior o investimento, mais lucro registrávamos com as exportações.

Mas essa relação se deteriorou a partir de 2016. Os termos de troca melhoraram, mas a taxa de investimento não. Pode parecer um mérito da economia brasileira (lucrar mais, investindo menos), mas há razões para suspeitar que isso não é bem verdade. Primeiro, porque exportamos muitas commodities agrícolas e minerais – e suas cotações subiram nos últimos anos.

Segundo, porque essas empresas têm um peso importante na composição da bolsa de valores local. Por fim, o cenário fica ainda mais embaralhado, com o recente aumento de importações de bens de capital – algo, em tese, bom, porque mostraria que as empresas voltaram a investir em melhoria e ampliação da produção.

“A lacuna de 2016, provavelmente, ocorreu devido aos efeitos prolongados da recessão, e o recente aumento das importações de bens de capital é um sinal positivo para a economia”, afirma o UBS.

Crédito aos consumidores versus renda

Os analistas observam que, desde meados de 2018, o ritmo de crescimento do crédito aos consumidores é maior que a expansão real da renda. Com o fim da recessão, a proporção entre crédito e renda voltou quase ao patamar pré-crise, embora o peso dos juros e da amortização das parcelas não tenha subido tanto, devido à queda da Selic.

Freio: bancos públicos contêm a expansão do crédito ao consumidor (Imagem: Arquivo Agência Brasil)

Para o UBS, o aumento do crédito imobiliário para projetos populares também ajuda a restabelecer o equilíbrio entre as curvas. Do lado da renda, o banco suíço recomenda prestar atenção numa eventual progressão dos empregos formais.

Empréstimos de bancos privados versus empréstimos de bancos públicos

A carteira de crédito de bancos privados vem crescendo num ritmo muito superior ao dos bancos públicos. A maior participação privada na alocação de crédito é, em si, uma boa notícia, segundo o UBS. Mas, quando se olhar a proporção de crédito total sobre o PIB, ainda estamos abaixo da média.

O motivo é que os bancos públicos, que injetaram muito dinheiro no mercado para conter os efeitos da crise de 2008 e da recessão recente, agora começam um processo de desalavancagem. Traduzindo: estão segurando mais a concessão de crédito. Um exemplo seria a nova postura do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).