4 pontos que explicam por que o Banco Central não vai cortar Selic neste semestre
O Banco Central tentou dar um tom mais ameno para a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), mas o que o mercado entendeu nas linhas e também nas entrelinhas é que cortes na Selic não vão acontecer tão cedo. Com isso, começam a cair as apostas de juros mais baixos nas reuniões de maio e junho.
Na avaliação dos economistas, o texto da ata foi didático ao detalhar e esclarecer os mecanismos de política monetária. Com isso, o Banco Central deixa claro o que está mantendo a Selic em 13,75% ao ano, seu maior patamar desde janeiro de 2017.
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Veja por que o Banco Central não vai cortar a Selic
Inflação
A inflação é o maior inimigo do Banco Central. Tanto que a ata reforça preocupação da autoridade monetária com a piora das expectativas de inflação no longo prazo e a necessidade de manter os juros altos por um período prolongado.
Segundo o texto, a inflação ao consumidor continua elevada, sendo que os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária mantêm-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 do Relatório Focus estão em torno de 6% e 4,1%, respectivamente.
“Em uma ata bastante extensa e com elementos novos, a diretoria do BC reforça a perspectiva que vai iniciar a queda da Selic se, e somente se, duas coisas acontecerem simultaneamente: queda mais forte da inflação corrente e ancoragem das expectativas de inflação”, destaca o economista André Perfeito. “Estas condições não estarão presentes de maneira ‘clara’ nas reuniões de maio e junho, logo o início de algum afrouxamento monetário deve ocorrer apenas no segundo semestre”, completa.
Arcabouço fiscal
O arcabouço fiscal era o tema que mais está mexendo com o mercado. O plano do ministro Fernando Haddad era liberar a proposta de nova regra fiscal antes da reunião do Copom, mas o texto acabou travando no Planalto.
Sobre isso, o Banco Central aponta que “a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno”. No entanto, a mera entrega do arcabouço fiscal não implica mudanças na política monetária. É preciso uma melhora nas perspectivas fiscais dos próximos anos.
A autoridade monetária também reconheceu o esforço do Ministério da Fazenda em manter o controle dos cofres públicos com o pacote fiscal e a reoneração dos combustíveis.
Taxa neutra
A ata do Copom ainda mostra preocupação sobre uma possível elevação da taxa neutra de juros, que é a taxa que permite a economia crescer sem inflação.
No texto, o Banco Central afirma que “novamente avaliou a possibilidade de incorporar alguma elevação em sua estimativa de taxa neutra de juros”, mas que optou por manter a taxa neutra de juros em 4%.
“Ao avaliar os fatores que poderiam levar à materialização de cenário alternativo caracterizado por uma taxa de juros neutra mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, que têm o potencial de elevar a taxa neutra e diminuir a potência da política monetária”, diz a ata.
Cenário internacional
Por fim, mas não menos importante, o Banco Central destaca que o ambiente externo se deteriorou desde a última reunião do Copom.
“Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, diz a ata. No entanto, a crise bancária ainda não impactou o Brasil e os países emergentes.
De qualquer forma, a autoridade monetária deve se manter atenta, pois essa instabilidade pode refletir nas decisões de outros bancos centrais, como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE).
“Há de se destacar o papel dos bancos centrais, atuando quase em coordenação, no combate à inflação e na vigilância à situação dos sistemas bancários. Segundo o BC, o processo de desinflação global é ‘desafiador’ e a redução de pressões continua a requerer o compromisso e a determinação dos bancos centrais com o controle da inflação, através de um aperto das condições financeiras mais prolongado”, afirma Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Mirae Asset.